Crítica | folklore


★★★☆☆
3/5

A carreira de Taylor Swift sempre foi marcada por uma supervalorização de sua posição autoral. Não que ela não mereça crédito por ser a maior estrela da música pop atualmente em termos comerciais, e por ainda se dedicar a escrever suas próprias músicas, mas essa supervalorização, esse foco absurdo em tratá-la como a maior compositora de todos os tempos — algumas revistas chegaram a usar essas palavras em suas críticas — fez com que folklore se tornasse um fragmento expositivo excessivamente artificial.

O álbum é uma mistura de artificialidade na composição e uma apreciação intensa que não condiz com a ideia de que Swift, em um passo mais maduro e com uma criatividade incomparável aos seus dois álbuns anteriores, Reputation e Lover, desejava transmitir — ela queria ser vista à distância, entre troncos de árvores ou perdida no campo, vestida com roupas leves e fotografada com filtro preto e branco. Porém, a própria artista mal sabia que o maior erro de folklore seria a distorção da ideia de composição musical criada em torno de sua imagem, e que ela alimentou, ao longo dos anos, associando esse processo ao que aparece na seção de créditos do Spotify. Esse é, até hoje, o pior legado desta “era” de Taylor Swift, pois logo depois, quando Beyoncé lançou seu magnum opus RENAISSANCE, repleto de samples e com dezenas de artistas creditados, vimos ainda mais como essa distorção taylor swiftiana agiria para acentuar a estupidez de seus seguidores.

Em defesa do álbum, é fato que folklore possui boas músicas. Sua roupagem acinzentada, com temas bem conectados, e a pegada metalinguística ao misturar narrativas ficcionais com realidades de relacionamentos passados de Taylor — sua maior qualidade, apesar de extremamente repetitiva — contribuem para torná-lo um ponto fora da curva, assim como seu melhor trabalho, Red. No entanto, olhando de fora, o álbum é uma isca, em que seu título, folk + lore, chamou a atenção dos fãs para um tipo de música indie/alternativa que Swift, apesar de ter vendido quase 1 milhão de cópias na semana de lançamento, parecia ter adotado. Essa deturpação feita pelos fãs levou muitos a entrarem em conflitos com veículos da crítica que não classificaram o álbum como alternativo ou folk. Isso só aconteceu porque, mesmo mudando de direção e tentando realmente propagar uma mudança — o que funcionou em exemplos como “Exile”, dueto com Bon Iver —, Taylor Swift é pianamente calculista ao extremo, e não há dúvidas de que ela se levou a sério demais ao criar seu álbum mais “alternativo” ou “folk”.

Quatro anos após o lançamento de folklore, é inegável que o universo criado por Taylor Swift, dentro e fora dos limites do gênero e da classificação, ainda merece atenção. Como a gaita e os acordes de “betty” que falam por si, mesmo estando extremamente determinada a subverter a criação de algo para demonstrar que é totalmente (e falsamente) inventiva, Taylor entra no jogo da música pop com a intenção de usar suas habilidades para vencer, e ela vence, independente das regressões e contradições que isso possa acarretar além do som. folklore, por fim, é um blockbuster que funciona bem quando visto como tal, e apenas isso.

Selo: Republic
Formato: LP
Gênero: Pop
Matheus José

Graduando em Letras, 23 anos. É editor sênior do Aquele Tuim, em que integra as curadorias de Funk, Jazz, Música Independente, Eletrônica e Experimental.

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