Crítica | Roteiro para Aïnouz (Vol. 2)


★★★☆☆
3/5

Poucos artistas da cena rap brasileira possuem um repertório tão significativo e imersivo como Don L. Em seus discos, o que mais chama atenção é a forma em que ele discorre sobre temas, os quais podem ser constantemente retratados por outros nomes, mas em nível de comparação, a sua arte é a mais expressiva entre todas. Quanto a isso, Roteiro para Aïnouz (Vol. 2), é a ponta da lança do rap nacional em 2021.

Depois de marcar a década de 2010 com a mixtape Caro Vapor / Vida e Veneno de Don L, Don L foi lentamente conquistando um destaque nítido entre os compositores e produtores mais criativos da música brasileira. E mesmo que as coisas mudem de forma rápida acerca das influências às quais grande parte dos artistas nacionais buscam trabalhar em suas obras, Don L parece entender isso perfeitamente, e essa questão é o que faz os seus álbuns serem verdadeiros retratos do momento e das situações que ele se encontra. É uma narrativa pura e sem artifícios.

Dessa forma, Roteiro para Aïnouz (Vol. 2), trata-se de um registro centrado na atual abordagem do artista acerca da sua visão — única e certeira — sobre o mundo e, principalmente, sobre o Brasil, em que ele retrata questões de uma forma inusitada para todos, inclusive, para ele. Trazendo a realidade, expondo a sua luta e cantando com coragem, sua obra é capaz de oferecer uma virtuosa evolução artística e pessoal. Seu trabalho é humano, é a comunidade, é os movimentos que ele cria e acima de tudo, é o fruto de um material de estudo rico sobre resistir e lutar. Talvez, por isso, Don L esteja mais seguro e confiante do que nunca, afinal de contas, ninguém faz como ele, ninguém é tão intenso e verdadeiro como ele.

Selo: Independente
Formato: LP
Gênero: Hip Hop
Matheus José

Graduando em Letras, 23 anos. É editor sênior do Aquele Tuim, em que integra as curadorias de Funk, Jazz, Música Independente, Eletrônica e Experimental.

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