Crítica | Grey Suit


★★★☆☆
3/5

Em seu primeiro disco solo, Self-Portrait, de 2020, SUHO havia se limitado ao que tinha de mais básico e clichê nas baladas melancólicas, as quais já são peças verdadeiramente ultrapassadas do k-pop. Sem brilho ou algo empolgante perto do que ele poderia oferecer, a sua estreia se tornou uma das mais batidas dos últimos anos. Indo na contramão de tudo que ele havia feito anteriormente, seu segundo projeto, Grey Suit, é um exemplar perfeito de elegância e sofisticação musical.

Você pode vasculhar o k-pop de cabo a rabo e, certamente, nunca irá encontrar artistas tão interessantes como os da SM Entertainment. Apesar de não ser uma ótima empresa — principalmente por negligenciar seus profissionais — é inegável o quão dispostos os seus afiliados sempre estão em seguir rumos opostos os da indústria a todo momento. Mesmo que seu debut tenha correspondido ao pior aspecto das baladas no pop sul-coreano, SUHO ainda assim estava dentro daquilo que costumamos ver e ouvir dos nomes da SM. Então, em outras palavras, aquilo era algo ruim dentro de um contexto excelente. Grey Suit, por sua vez, se destaca tanto dentro quanto fora do seu contexto artístico.

Inspirado no livro Momo e o Senhor do Tempo, de Michael Ende, SUHO não precisou de muita coisa para desenvolver todo conceito e compor as letras, nas quais ele, sob o pseudônimo de SH20, esteve 100% envolvido em todo o disco. Enquanto prestava o seu serviço militar obrigatório, o artista manteve a distância do mundo da fama, podendo assim, centralizar melhor as suas escolhas que viriam a expor ótimos resultados. No livro de Ende, o escritor busca, através de uma história de ficção e fantasia, questionar a forma com a qual desperdiçamos o nosso tempo. Focado em trazer essa perspectiva para a suas composições, SUHO utilizou da ausência de definição cronológica dos períodos narrativos na obra, para, poder assim, cantar em diferentes frentes estabelecidas em todas as 6 músicas.

Desse modo, sua busca transmite para o ouvinte a importância de dar valor a momentos únicos da nossa vida. Como um mensageiro, ele consegue parar o tempo e nos conectar com a sua mensagem recheada de delicadeza e importância. E para tornar sua proposta real e profunda, o artista se apoia em alguns elementos bem interessantes. Primeiro, SUHO contou com a ajuda de uma banda dedicada em contemplar a sua posição de vocalista, depois, toma o pop rock para si e, sem nenhum aviso, recebemos uma obra diferente, ousada e com características que se sobressaem a tudo que vemos ser feito no k-pop ultimamente.

Na faixa-título, o cantor usa grande parte das metáforas colhidas no livro que serviu de inspiração como uma forma de comportar as suas narrativas. Exemplo disso é o fato da cor cinza representar a perda do tempo e tudo de bom que poderíamos viver ao lado de quem amamos. “Este cinza está se espalhando tristemente pela minha memória / Meu coração está preso no dia em que eu deixei você ir”, ele canta enquanto as guitarras preenchem os espaços que, felizmente, não são ocupados por um piano sem emoção como era feito em grande parte das canções do Self-Portrait.

Em “Morning Star”, canção que abre o mini-álbum, somos introduzidos por melodias e arranjos inteligentes que se misturam perfeitamente aos vocais do artista, revelando uma construção rítmica verdadeiramente atraente. A produção dessa faixa é um espetáculo sem precedentes. Os acordes de apoio, lembram profundamente os que Lorde usou no gigantesco Melodrama, enquanto as batidas, diferentemente, caminham ao lado de expressões melódicas acessíveis. “Hurdle”, por sua vez, é o ponto alto de toda obra. Evocando o baixo de “Under Pressure”, clássica colaboração entre o Queen e David Bowie, a faixa parece seguir um caminho mais sensual e tentador do que parece.

Embalado pelo pop-funk com pitadas do pop-rock desenvolvido no restante da obra, SUHO parte rumo ao desconhecido e entrega uma faixa banhada de energia e diversão. Na sequência, “Decanting” mantém o tom sedutor que ouvimos anteriormente, mas, dessa vez, com algumas experimentações que funcionam perfeitamente. Calma e bastante expressiva, a canção surge entre uma bagunça de cordas propositais. Nela, os seus vocais aparecem acrescentar alguns tons agudos que tocam na alma. Como se não bastasse a progressão, o solo de guitarras torna tudo bem mais arrepiante.

“Bear Hug”, é a típica ousadia deSUHO. Sem segurar a emoção, ele canta com todas as suas forças, demonstradas através de um high note entendido que passa a ser o grande destaque da faixa. “Moment”, é o tão próximo que Junmyeon chegou do seu projeto anterior, mesmo sem um grande acontecimento assim como as outras, essa faixa permanece dentro da linha desenvolvida em outras situações do EP.

Dividido entre momentos inesquecíveis, Grey Suit é um dos melhores e mais interessantes projetos musicais do K-pop nos últimos anos. Planejado e muito bem executado, o segundo disco solo do líder do EXO é uma demonstração única de talento e de vontade própria. Aqui, Suho explora o pop-rock com personalidade, elegância e refinamento.

Selo: SM
Formato: EP
Gênero: Música do Leste e Sudeste Asiático / K-Pop
Matheus José

Graduando em Letras, 23 anos. No Aquele Tuim, faço parte das curadorias de Jazz, Música Independente, Eletrônica e Experimental.

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