Crítica | Familia


★★★☆☆
3/5

Quando o Fifth Harmony chegou ao fim, a primeira reação do público foi, além da tristeza dos fãs, em relação aos caminhos que as ex-integrantes iriam percorrer dali em diante. Camila Cabello, que já tinha dado indícios de seguir com uma carreira solo, anunciou a sua saída enquanto a banda ainda seguia lançando material até onde deu. Seu primeiro álbum autointitulado lhe rendeu um dos maiores hits de 2018, em contrapartida, seu segundo projeto solo, Romance, de 2019, reafirmou que os sentidos explorados pela artista não passavam de meros clichês dos quais ela apenas replicava como quem queria de fato apresentar algo coeso. Por fim, chegamos a Familia, trabalho em que Camila parece ter finalmente desempenhado o papel mais interessante da sua carreira até então.

Apesar da excelente produção, com nomes que já trabalharam com Natalia Lafourcade, Familia é um disco que remonta mais uma tentativa frustrada de Camila Cabello em se reafirmar diante do cenário musical internacional, porém, diferente dos outros, aqui ela passou longe de obter um sucesso do mesmo nível de antes, o que claramente não é um problema, já que a vemos tentando se aprofundar mais em suas temáticas. A questão em si, é sobre como a ela busca, a todo custo, demonstrar algo que ela não é está longe de ser, uma cantora vivida e que representa como ninguém as suas influências latino-americanas, pois por mais que tente, a ex-Fifth Harmony segue sendo sem graça e, por vezes, inexpressiva.

A obra tem os seus destaques, principalmente as canções em que a latinidade se faz presente. Porém, tudo fica pior quando o inglês substitui o espanhol e a produção orgânica abre espaço para arranjos e melodias superficiais. Neste cenário, “Celia” torna-se uma faixa exemplar, ainda mais se formos considerar a ótima construção de versos. “Ha vivido toda la vida sin azúcar / Conoció a Celia sin ir pa’ Cuba”, canta Camila, sem temer usar as palavras para referir-se a boa parte das suas raízes. Quanto a isso, toda narrativa, mesmo em primeira ou terceira pessoa, parecem contar histórias das quais a própria fez parte. Desse modo, o álbum todo soa como uma representação de tudo aquilo que ela viveu em determinadas épocas da sua vida, passando por questões que vão desde a imigração até a posição em que a comunidade latina se encontra no território estadunidense.

Entretanto, a perspectiva pela qual vemos isso acontecer envolve muitas problemáticas, principalmente sobre a forma com que a América Latina sempre foi vista pelos governos dos Estados Unidos. Então, de certa forma, para uma artista que já chegou a distorcer fatos políticos em relação a Cuba, por exemplo, toda essa perspectiva não funciona da maneira como deveria. Camila Cabello tenta ao máximo se vangloriar de algo que faria mais sentido ser tratado com anseios próprios, sem se apoiar em elementos batidos para dar credibilidade a temática que possui raízes tendenciosas. Desse emaranhado de histórias contadas com reforços narrativos baseado em uma visão pessoal e pouco criteriosa, podemos destacar alguns atos falhos como “quiet” e a sua energia desconexa; “Boys Don’t Cry” e o péssimo contraste com o restante da obra; e “Don’t Go Yet”, canção que é recheada de ritmo, mas passa longe de ser uma excelente exemplificação artística da obra.

Para surpresa de todos, “Psychofreak” em parceria com WILLOW e “Bam Bam”, dueto com Ed Sheeran, são duas músicas que funcionam muito bem, sendo elas, dois dos excelentes destaques. Por fim, Familia é um álbum em que Camila Cabello parece se preparar para dar um grande mergulho, mas infelizmente, acaba batendo com a testa no chão, pois, apesar de estar apoiada em seu passado, as coisas aqui se mantêm superficiais como sempre.

Selo: Epic
Formato: LP
Gênero: Pop
Matheus José

Graduando em Letras, 23 anos. É editor sênior do Aquele Tuim, em que integra as curadorias de Funk, Jazz, Música Independente, Eletrônica e Experimental.

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