Crítica | Malvatrem


★★★☆☆
3/5

A expressão artística do trap hardcore no Brasil precisava de uma voz feminina há tempos, e, felizmente, parece que em 2023 a cena recebeu um grande diamante bruto em suas mãos. A forte energia de Slipmami, acompanhada de sua personalidade cativante, caracteriza composições que facilmente arrancam risos genuínos nos momentos mais inesperados de Malvatrem, disco de estreia da emergente promessa do trap. Esse tom brincalhão, mas sempre bem executado, dá um ar de leveza inconfundível e deslumbrante à obra, contrastando diretamente com sua sonoridade incisiva e agressiva numa luxuosa dualidade.

Os beats aqui — produzidos em sua grande parte por membros da Heavy Baile, vale destacar — combinam acertadamente o funk com o trap, o que serve como importante apoio na construção do clima de “gostosa imponente” do projeto. Os timbres escolhidos sempre são únicos, divertidos e intensos, reforçando a ecleticidade do disco e a sua disposição em fincar uma bandeira como afirmação pujante e irrefutável de que a artista veio para ficar. Inclusive, quando falo ficar, não falo em apenas estar presente, e sim em marcar presença, uma forte e auto-afirmativa.

Entretanto, as qualidades do projeto param por aí. Slipmami é uma artista bem iniciante ainda e por consequência suas habilidades no rap não vão além do que vemos no Brasil há, no mínimo, sete anos. Suas mudanças de flow e sua métrica não têm nada de proficiente ou notoriedade, mas quem disse que isso importa? De verdade, não importa. Esse disco é apenas uma pequena, minúscula amostra do que a rapper é capaz, tal qual um mini-hambúrguer, agradável, mas não é o pacote completo.

Se cobrássemos obras sem erros de todos os artistas iniciantes, nada novo seria gostável, impedindo experimentação e desincentivando toda uma legião de possíveis futuras lendas da música brasileira. O novo surge do erro, tanto por aprendizado quanto por quebra de tradicionalismos, sempre foi assim e sempre será, afinal, seguir regras nunca levou ninguém a algo diferente do habitual. Por isso, o melhor a se fazer é apoiar artistas fora da curva no Brasil, como a Slipmami e qualquer outro ato de estreia brasileiro. Não se pode negar que, se depender de seu talento — e talvez de uma ajudinha de produtores talentosos — Slipmami vai dominar o Brasil logo menos.

Selo: Heavy Baile
Formato: LP
Gênero: Hip Hop / Trap, Hardcore, Pop Rap
Sophi

Estudante, 18 anos. Encontrou no Aquele Tuim uma casa para publicar suas resenhas, especiais e críticas sobre as mais variadas formas de música. Faz parte das curadorias de Experimental, Eletrônica, Rap e Hip Hop.

Postagem Anterior Próxima Postagem