Crítica | fromjoy


★★★★☆
4/5

fromjoy é o álbum autointitulado da banda texana homônima, que vem fazendo um relativo barulho no metal recentemente. Eles se esforçam para evitar se encaixar nos rótulos que lhes são impostos; extrapolam o pós-metal e suas ambiências ao seu estado mais irredutível inescrupolosamente, não ligam sobre fazer descaso com os ritmos matemáticos e inacessíveis do mathcore — à medida que voltam a amá-lo na mesmíssima faixa —, muito menos têm comprometimento com as outras várias execuções e ideias anômalas que tanto amam. Porém, apesar de todo esse drama sobre ser transgressor e inédito, eles nunca, nunca ignoraram suas raízes no metalcore (o estilo fumegante do metal que toma inspirações estéticas e sonoras do punk hardcore).

No álbum em si, alguns de seus momentos mais belos acontecem quando atmosferas derivadas do vaporwave interrompem, bruscamente e sem qualquer aviso, os momentos intensos, irrefreáveis e barulhentos de guitarras empoeiradas, causando um enorme estranhamento. Inclusive tendo direito a uma forma aquém da normalidade a partir dessa junção onírica, que ocorre quando essas intromissões singulares são ocasionalmente intercaladas com breakdowns inócuos e inóspitos de drum and bass, tais executados da maneira mais fantástica possível.

Mas não para por aí, pois o disco, para além do “fazer algo novo apenas por fazer”, se compromete a usar dessa nova estrutura para criar uma nova sensação: uma melancólica e quase lúgubre forma de sentir. Com base nesses breakdowns de vaporwave/dnb, inesperados e recompensadores, tal sensação febril e mortífera de luto e arrependimento prospera entre as sufocantes guitarras e os gritos desesperados, como uma estrutura emergindo de uma água turbulenta.

Além disso, é essencial destacar que o uso dessa nova sensação derivada da combinação de gêneros não é apenas um subtexto, um jogo que tem um campo nas entrelinhas, um significado oculto, não, ela é extremamente flagrante, algo jogado na sua cara, forte, potente, assim como as guitarras e baterias bombásticas são explodidas com fervor nas seções mais assertivas do disco. Essa parte já é fascinante por si só, porém, creio que o melhor uso desses experimentalismos unitários não é ela.

A melhor parte do álbum, de longe, ocorre quando os dois estilos se juntam, a insanidade e fervura do metalcore com a tranquila sensação de efemeridade do vaporwave, e então nasce uma maravilha do mundo moderno, uma combinação única e sinuosa de emoções e reflexos de experiências pessoais e universais. Assim se tornando um dos trabalhos mais crus, emocionantes e bizarros do ano. As sensações causadas por essa fusão surpreendente são indescritíveis, são aquelas derivadas de dias estressantes, uns em que você quer gritar de raiva e chorar pelo o que você não fez, nem fará. Os barulhos eletrônicos da guitarra são os gritos dos membros da banda, e seus remorsos se transmutam em passagens seculares de vaporwave, uma maravilhosa união de emoções, sonoridades e conceitos, que transpassam os conceitos de gênero e atingem o verdadeiro “pós” em pós-metal.

Concluindo, a melhor forma de resumir fromjoy é dizer que este é um álbum que ultrapassa os limites do metal, mas sem ultrapassá-los; é uma provocação que simboliza uma síntese maravilhosa do que é atual e do que é futuro. O registro da banda demonstra ser uma odisseia tão mundana quanto metafísica, e se isso é apenas seu segundo álbum, já estou ansiosa para saber qual será seu próximo passo!

Selo: Independente
Formato: LP
Gênero: Rock / Metalcore, Pós-Metal
Sophi

Estudante, 18 anos. Encontrou no Aquele Tuim uma casa para publicar suas resenhas, especiais e críticas sobre as mais variadas formas de música. Faz parte das curadorias de Experimental, Eletrônica, Rap e Hip Hop.

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