★★★★☆
4/5
4/5
O surgimento dos sex pistols, a popularização do movimento e da estética punk, a morte de Elvis Presley (física e culturalmente), a revolução cultural inglesa, o início da análise dos artistas experimentais americanos dos anos 60, pelos artistas dos anos 70… Tudo isso é inevitável de lembrar ao pensarmos o ano de 1977 na música. O mundo estava de cabeça pra baixo e a agressividade do movimento punk era um respiro para a juventude. Nesse segmento, a dupla Alan Vega e Martin Rev lançaram seu primeiro disco, o homônimo Suicide.
Claro que para falar dessa dupla é impossível começar em 1977. Ambos eram artistas desde o final dos anos 60 e já estavam envolvidos no cenário underground do rock americano, sendo fortemente influenciados pelos Stooges, banda de Iggy Pop, e pelos New York Dolls, duas bandas extremamente performáticas, o que explicaria muito do que eles fariam em suas próprias carreiras artísticas posteriormente. Alan Vega, além da música, era também artista performático/visual, e Martin Rev era multi-instrumentista, integrante de uma banda de free-jazz, gênero que, por si só, já denota um grande experimentalismo e sensação de liberdade estética.
Desde o início dos anos 70, os dois já faziam pequenos shows, no início, ambos tocavam instrumentos e Vega era o vocalista, havia guitarra nas músicas e instrumentos “orgânicos”, foi também nessa época que eles empregaram o termo “punk” pela primeira vez. Em anúncios e nos próprios shows eles estavam sempre usando o termo “punk music”, algo que, para a época, era extremamente inédito e já seria muito popular quando lançaram seu primeiro álbum.
Suas apresentações naquele momento dividiram opiniões, pois se tratava de uma performance bastante agressiva, fortemente inspirada nas influências das bandas citadas, com um discurso político muito forte e muito incômodo para a sociedade americana, até mesmo para a juventude. Aos poucos, eles mudaram um pouco a forma como a banda criava suas músicas, Alan Vega passou a ser apenas o vocalista e Martin Rev abandonou os vários instrumentos para focar apenas em um teclado, em que ele criava loops de bateria e sintetizadores alucinantes e, até mesmo, extremamente assustadores.
Foi nesse contexto que, em 1977, eles lançaram Suicide, seu primeiro álbum homônimo, que contava com apenas os loops de teclado e sintetizadores de Martin Rev, da forma mais minimalista e repetitiva possível, criando uma atmosfera hipnótica e dissonante. Além disso, em contraste com a parte instrumental mais minimalista, os vocais e a performance de Vega são, no mínimo, aterrorizantes, tanto no tom de voz, entre gritos, choros e sussurros, quanto nas próprias letras. A revolução e a agressividade eram por meio da sexualidade, por meio do ódio à nação americana em canções como "rocket USA"; pela forma de repensar figuras polêmicas, como Che Guevara em "Che".
O vazio instrumental também te joga em uma zona de desconforto, desde o início nada parece certo, faltam coisas, e imagine como era radical a falta de uma guitarra elétrica em uma música punk naquela época. Às vezes, me remete muito a um ambiente, uma cidade, de fábricas vazias, destruídas, nada importa, a grandeza dessas construções vai durar para sempre… e você? Qual é o seu fim? A dupla responde em cada música.
O nome e os temas da dupla podem até remeter a uma proposta mórbida, à morte, à realidade de saber que viver, matar e morrer sob o capitalismo já é suicídio, como bem demonstra em "Frankie Teardrop". Mas é por meio desse suicídio social, por meio dessa destruição dos valores americanos, que esse álbum ainda soa tão vivo hoje. Nas palavras de Alan Vega: "He's A-screaming the truth/America is killing its youth".
Selo: Red Scar
Formato: LP
Gênero: Rock / Synth Punk