Crítica | Fountain Baby



★★★★★
5/5

Dentre tantos fenômenos e tendências musicais, a indústria fonográfica estadunidense tem presenciado a ascensão gradativa, mas contundente, do afrobeats como sonoridade definidora de potência criativa e sucessos avassaladores. Nomes como Burna Boy, Ckay, Wizkid, Rema e Tiwa Savage pavimentaram e elevaram o gênero a nível global, que pode ser descrito como a música pop de uma região do continente africano que possui o seu maior polo da indústria musical, a Nigéria (também chamada de ‘African Giant’).

Surgido no final da década de 1990, a sua aparição dentro do mercado internacional foi menos alarmante durante a década passada, mas os grandes virais que surgiram no TikTok durante o auge do período pandêmico o trouxe ao centro dos holofotes.

Em um cenário tão rico, surgem identidades artísticas que estão dispostas a propor outras visões e extrapolar limites. Amaarae é um acontecimento nesse sentido: a cantora ganesa-americana faz um trabalho prático de fundir o afrobeats, e outras sonoridades que passeiam pelo continente africano, com o R&B e a música pop. Ela já acumula um portfólio sólido em projetos e parcerias, como o remix de SAD GIRLZ LUV MONEY, mas Fountain Baby é a sua peça mais essencial até então.

O que vemos, portanto, é a realização de um material que esbanja carisma e sensualidade, em que o timing nunca se perde. Batuques, dedilhados, sintetizadores e instrumentos acústicos se conversam, em meio a uma lírica envolvente e cheia de magnetismo. O grande carro-chefe, porém, é a voz da cantora, doce, cativante e instantaneamente identificável.

Se ‘Co-Star’, ‘Princess Going Digital’ e ‘Counterfeit’ são os exemplos perfeitos de síntese para o trabalho, ‘Sociopathic Dance Queen’ é o momento mais surpreendente, em que uma música aparentemente contida e reflexiva se transforma numa catarse ansiosa e cheia de energia, embalada por guitarras e por uma atmosfera imediatista e cheia de vigor.

Fountain Baby se mantém atrativo e instigante do começo ao fim, em uma composição de 14 faixas em quase 40 minutos. A relação entre duração e quantidade de músicas de um álbum, principalmente no mainstream, tem se tornado um desafio em termos criativos para tantos artistas, mas Amaarae não se acanha. É, de fato, um dos grandes álbuns da década de 2020 até então, e ele tem intrínseco a si uma característica que se tenta emular à exaustão: ser contagiante ao máximo.

Selo: Interscope
Formato: LP
Gênero: Pop / Afrobeats, R&B
Felipe

Graduando em Sistemas e Mídias Digitais, com enfoque em Audiovisual, e Estagiário de Imagem na Pinacoteca do Ceará. É editor adjunto do Aquele Tuim, integrando a curadoria de Música do Continente Africano.

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