Crítica | STRUGGLER


★★★☆☆
3/5

Um tema muito frequente na arte moderna e contemporânea é o sentimento de impotência. Impotência causada pela sensação de que nossas ações parecem não influenciar na realidade em que vivemos, normalmente relacionada à política/capitalismo, à relacionamentos, ou à religião, principalmente a cristã. Essa última questiona a benevolência divina e entra em loops depressivos sobre nós, seres mortais, não sermos capazes de afetar o destino proferido por Deus. Esse tema, em sua maior parte, é trabalhado com composições desconcertantes, texturas aterrorizantes e ambiências sombrias, mas a ética punk de Genesis Owusu quis abordar isso de uma forma bem diferente.

STRUGGLER é sobre a relação entre humanidade e Deus, e também é o álbum mais divertido possível de se imaginar sobre isso. Músicas como “Leaving The Light”, “Tied Up!” e “Stay Blessed” são extremamente dançantes, tornando impossível não ficar parado enquanto o artista desabafa a narrativa do álbum com crueza e elegância. Já outras como “See Ya There”, “That's Life (A Swamp)” e “Stuck To The Fan” são mais relaxadas, para desintoxicar a mente e acalmar os nervos, mas ainda mantendo completa coerência nas reflexões sobre a vida em sociedade, superar dificuldades e, obviamente, impotência perante ao divino.

A gororoba de influências que afetam o trabalho, como a diversão do dance-punk, a suavidade do neo-soul e o fato dele ser rapper vão na direção contrária do desespero impotente, comumente trazida por outros artistas quando se fala na temática religiosa. Na verdade, o disco se propõe ao oposto disso: ele quer sanar a alma e a dúvida de quem se sente sem salvação.

Os humanos são retratados, durante o álbum, como se fossem baratas, para ressaltar o ponto chave que ele quer provar aqui, que somos resistentes a tudo, sempre — pois para quem não sabe, baratas são um dos animais que mais consegue se adaptar a situações inóspitas. Não importa quantas adversidades nós enfrentemos, vamos sempre sair por cima, pois o indecifrável nunca será o suficiente para acabar com o poder que a união de uma comunidade em prol da sobrevivência e convivência tem.

Apesar de ser bem romantizada — mesmo que encontrando muitas contrapartes na forma de letras assustadas em relação à situação de imponência descrita —, a mensagem de STRUGGLER é uma que muitas pessoas se beneficiariam ao entender. Não tem “velho no céu” que impeça a melhora de sua situação, um dia ela vai chegar. Quando? Ninguém sabe, mas vai ser a melhor sensação que você vai sentir na vida, e é celebrar essa atitude otimista que é o propósito deste álbum.

Selo: AWAL
Formato: LP
Gênero: Rock / Dance-Punk, Neo-Soul
Sophi

Estudante, 18 anos. Encontrou no Aquele Tuim uma casa para publicar suas resenhas, especiais e críticas sobre as mais variadas formas de música. Faz parte das curadorias de Experimental, Eletrônica, Rap e Hip Hop.

Postagem Anterior Próxima Postagem