Crítica | Truque


★★★☆☆
3/5

Todos amamos a ironia estapafúrdia de Clarice, desde 2012 encantando corações com seu jeito inconfundível de fazer rir das mais comuns das situações. No entanto, há uma notável mudança no rumo de sua arte com seu disco de 2019: Tem Conserto. O lado mais vulnerável da cantora era suavemente posto em cima de um finíssimo fio; abaixo dele a ironia, acima a depressão.

Em Truque esse fio some, e assim sua vulnerabilidade flutua no espaço, mesclando realisticamente o humor cáustico da autora com seus conflitos internos. A diversão não toma lugar da tristeza, elas coexistem belamente como velhas amigas de infância numa rodinha nostálgica de fofoca. Igualmente, os instrumentais que acompanham a voz da cantora são tão vívidos quanto suas performances despojadas.

Os instrumentais fusionam o icônico indie pop de Falcão com uma espécie de synthpop/dance-pop, formando uma chave exata para o cadeado da sua voz e escrita cínicas. Assim, as discotecas futuristas aqui exploradas são comicamente quebradas ao meio, te forçando a não parar de requebrar no centro da pista de dança. Dance, perceba a solidão, sorria, lembre da louça suja, sinta a vibe, lembre daquele fora, viva, morra, ressuscite, continue vivendo. As texturas cintilantes nunca te deixarão no tédio.

Após o terminar, a mensagem de Truque é clara: Clarice não precisa mais da ironia enxugando suas lágrimas, ela pode chorar o quanto quiser, quando quiser e como quiser. É um registro libertador, denotando uma intimidade verdadeira, transformando-o em algo nada menos que deslumbrante. Se ela queria ou não encantar a todos ou escrever um álbum puramente para si mesma não importa, o resultado do disco está presente bem aqui: fascina e seduz.

Selo: Chevalier de Pas
Formato: LP
Gênero: Pop / Alt-Pop, Synthpop Revival
Sophi

Sophia, 18 anos, estudante e redatora no Aquele Tuim, em que faço parte das curadorias de Rap e Hip Hop e Experimental/Eletrônica e Funk.

Postagem Anterior Próxima Postagem