★★★★☆
4/5
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Quando em 1993 o Nirvana lançou o seu terceiro disco de estúdio, logo após lançar Nevermind, um dos discos de maior sucesso da história da música, ninguém poderia imaginar para qual lado eles iriam dessa vez. Os trabalhos anteriores, apesar de apontarem na direção do grunge rock, sempre tinham variações estéticas, na maior parte das vezes vindas das bandas experimentais que eram referência da banda, especialmente do Kurt Cobain.
No entanto, ainda que se esperasse uma diferença de estética, as reações do público na época são impagáveis até hoje. Provavelmente você já viu essa matéria, do próprio Kurt Cobain reagindo ao que as pessoas estavam pensando sobre o disco no período do lançamento. Ao analisar superficialmente o conteúdo do vídeo, é notável que as músicas mais parecidas com o disco anterior estavam sendo apostas de hit, e ao mesmo tempo, sendo as favoritas, especialmente o single "Heart shaped box".
Contudo, a abordagem lírica de In Utero se mostra diferente do disco anterior, principalmente pela frontalidade maior de algumas canções, como a polêmica "rape me", que no vídeo aparece, muitas vezes, sendo uma das mais rejeitadas. Muito provavelmente por causa da frontalidade da canção, não há dúvidas que uma música com a palavra "estupro" sendo repetida ia ser um enorme tabu, mesmo hoje ela ainda seria.
Além disso, não somente as letras se mostram mais agressivas do que o disco anterior, mas também a performance vocal de Kurt Cobain, que incorpora uma agressividade não vista antes, com gritos e rispidez nas palavras sendo coisas extremamente comuns. Mesmo nas canções mais tristes, como "Dumb", Kurt Cobain trata de arrastar alguns momentos e ser mais seco nas frases mais frontais.
Nesse sentido, instrumentalmente falando, Nirvana é sempre um campo de disputa. Para muitos, não tem diferença nenhuma de um disco pro outro, eles teoricamente se repetem muito. O que é um absurdo, a influência do noise em In Utero é muito mais presente do que nos anteriores — apesar dessa referência existir na obra deles desde sempre. Pois aqui o campo é de agressividade instrumental para tornar as duas diferenças supracitadas em algo ainda mais real. Para falar tecnicamente, com certeza é a melhor mixagem de bateria e guitarra que a banda já teve; seco, agressivo e juvenil como o punk, mas sofisticado na forma de tocar, que só o Nirvana dessa época (e posterior) conseguia fazer.
Por fim, os esforços de In Utero eram para atingir tudo que eles não conseguiram transmitir no disco anterior. Se a agressividade irônica de músicas como "In Bloom", ou a poesia sutil de "Polly" não foram suficientes para transmitir as mensagens para a maior parte dos fãs, então aqui eles seriam ainda mais agressivos em cada uma das músicas. A temática ainda gira em torno de todo o "teen spirit" que o Nevermind tinha, mas agora em uma maior falta de esperança com o próprio público. Além disso, a desesperança, num espectro mais privado, é do próprio Kurt Cobain com sua vida. No período de gravação, o vocalista teve duas overdoses, o que mostra a decadência de sua saúde mental, que levaria para uma grande tragédia anos depois.
Por fim, In Utero é essa auto-contradição, de tentar levar algo para o público mesmo o odiando, de ser grunge demais para o grunge e não ser pop demais para o pop, de ser polêmico demais e ao mesmo tempo simples demais de entender. Certamente a obra-prima de Nirvana, o maior feito da banda em todos os aspectos. A canção que fecha o disco, "All Apologies" é a melhor representação poética dos sentimentos de Kurt Cobain quanto à sua vida e a criação do álbum como um todo.
"All in all is all we are"
Selo: Interscope
Formato: LP
Gênero: Rock / Grunge