Crítica | How Do You Sleep at Night?


★☆☆☆☆
1/5

A persona brincalhona e pateta de Teezo Touchdown vem sendo construída desde 2020 com o lançamento de alguns singles avulsos, em especial a faixa Social Cues, que levou todos a crer que ele seria a próxima tendência do cenário alternativo — principalmente por conta do descomunal sucesso que Olivia Rodrigo fez pouco tempo depois. A escrita do cantor era facilmente relacionável com o dia a dia de qualquer um, tendo uma sonoridade extremamente acessível e uma voz única em um contexto artístico de décadas com poucos novos rockstars. Todos esses fatores levaram a milhares de pares de olhos começarem a ansiosamente aguardar pelo momento em que o próximo passo dessa carreira promissora seria dado, o que pode sim ter afetado a perspectiva geral deste disco, mas isso não altera o fato que o contexto maior em que ele se situa não faz sentido algum.

Letras imaturas, composições de iniciante, performances vocais cafonas ao extremo e uma atitude infantil vinda de um homem de 30 anos não são exatamente os ingredientes preteridos para uma receita de álbum bem feito. A qualidade já decadente do projeto piora quando Teezo falha miseravelmente em criar uma tracklist com continuidade, fazendo o projeto se assemelhar mais com uma playlist muito mal ordenada do que um álbum em si.

Sabe aquele sentimento de ter achado um diamante perdido em uma piscina de confete cor-de-prata? Aqui ele rapidamente escapuliu. O que restou de toda aquela esperança e anseio foi um imenso vazio no peito do ouvinte, como se nada da espera tivesse valido a pena. É o sentimento de que os 40 minutos do projeto são exclusivamente uma perda de tempo, nada mais, nada menos. É uma conjunção insuportável de uma inventividade mal utilizada, um conceito que nem sequer é explorado, uma repetição de temas irritante e uma execução frustrante. Todavia, esse ponto já é amplamente entendido, o que mais incrusta no cérebro após ouvir o álbum é o quão forte as expectativas afetam na recepção de novos conteúdos.

Será que gostar desse álbum seria muito mais fácil se ele fosse um artista desconhecido? Afinal, é o primeiro projeto dele. Talvez se ele não tivesse sido disparado ao grande palco principal da música alternativa — por meio de artistas como Tyler, The Creator, Travis Scott e Drake — a personalidade diferentona e as guitarras dos anos 2000 funcionassem. Quem sabe a característica convulsionada e a natureza fora-da-caixa desse álbum pudesse ter acertado em cheio no coração do povo e o consenso tivesse sido que sua fama seria inquestionável e imparável? Possivelmente as letras estúpidas e engraçadas poderiam, então, conectar sob um gosto comum as mais variadas pessoas em um grande gesto de carinho e conforto, nada é impossível.

Mas enfim, até que clarividência seja possível, teremos que conviver com a dura e fria realidade: esse projeto é mal executado, e lamentavelmente a única coisa que poderá mudar isso será o tempo. Decerto, há uma possibilidade de este ser o primeiro registro da mais nova cara da música alternativa, que em dez anos — tempo suficiente para ele criar um cult following — será visto como uma grande peça artística e que todos chamarão de subestimado. É uma pena que estamos em 2023, não em 2033.

Selo: RCA
Formato: LP
Gênero: Pop / Alt-Pop, Pop Rock, R&B
Sophi

Estudante, 18 anos. Encontrou no Aquele Tuim uma casa para publicar suas resenhas, especiais e críticas sobre as mais variadas formas de música. Faz parte das curadorias de Experimental, Eletrônica, Rap e Hip Hop.

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