★★★★★
5/5
Imagens surrealistas e extraordinárias estouram como pipoca nas mentes de billy woods e ELUCID a todo momento, em qualquer lugar, sem nenhum aviso prévio. Reflexões absortas vão e vêm como uma partida de tênis com uma bola camaleão, mudando de cor assim como os temas flutuam na cabeça arejada dos astros sombrios do hip hop. São dez anos desse duo impressionando ao mudar sua direção sonora a cada projeto, mas dessa vez eles se superaram tanto em substância quanto em simbologia.
O contraste da voz ríspida e sóbria de ELUCID com a pura força vocal exprimida nas palavras de billy funciona tão bem quanto em seus projetos passados. Mas não satisfeitos apenas com a consistência absurda da qualidade de suas performances, ELUCID nunca foi tão místico e etéreo com sua escrita realista e impalpável, e billy com suas mensagens crípticas supera qualquer outro lançamento do duo em perspicácia e obscuridade. Mas, mesmo apresentando suas melhores performances, talvez eles nem sejam a parte mais espetacular do projeto; dou essa honra aos seus produtores.
As músicas têm um ar de névoa, uma desconhecida e sibilante névoa em sua mixagem que prefere um aspecto curvado, suave e ambiente, se assemelhando a produções de cloud rap, mas mantendo as suas bases em algo subjetivamente experimental — e consideravelmente influenciado pelo jazz. Não existe disco com essas paisagens sonoras de memórias perdidas, vivências passadas, futuros presentes e deuses humanos. Não existe estudo de atmosfera que faça jus ao nível de detalhe e esforço colocados aqui, por mais introspectivo e profundo que seja. E não existem palavras que traduzam o que esses instrumentais passam em português, ou em qualquer outra língua.
Mesmo que algumas faixas proponham algo mais contundente, os instrumentais ainda se fundem impecavelmente com os simbolismos proferidos pelos rappers, nunca largando a natureza submersa e fluida das conceitualizações sutilmente sugeridas aqui. Cada tom de bateria, cada pequena textura sintetizada e alteração feita, cada manipulação vocal, cada acorde simplório, cada mudança de ritmo, cada decisão por mínima que seja, todas elas foram escolhidas a dedo para construir um mundo abaixo do nível do mar e acima das nuvens do céu. É o trabalho de mestres colocando o máximo de si para ajudar na criação do projeto mais rico dos lendários Armand Hammer.
De "Landlines" até "The Key Is Under The Mat" não há nenhuma faixa que as habilidades líricas dos rappers dêem um tropeço ou que as faixas não progridam perfeitamente, muito menos que alguma em que a atmosfera hipnotizante fraqueje ou minimamente se desvie a algo além dos temas focais das faixas. É muito difícil superar esse nível de letras, atmosfera e produção num álbum tão insólito, porque talvez nunca terá algo que supere isso, porque nunca terá algo parecido com isso. Jamais.
Selo: Fat Possum
Formato: LP
Gênero: Hip Hop / Experimental, Abstrato