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A cena alternativa do pop atual deve muito ao selo PC Music e seus artistas, isso é fato. Desde sua contribuição a expansão da nova música EDM ao pop ou na criação indireta de gêneros como bubblegum bass e hyperpop, a gravadora tem um papel central na experimentação do pop. Inesperadamente, ela deu a triste notícia que, após 10 anos de sua existência, suas atividades se encerrariam, sendo esse projeto um dos últimos que sairão até o final do ano. Entretanto, esse contexto apenas piora o álbum, vide o quão ele deixa a desejar.
Toda a imagem da PC Music é a de uma arte inovadora, que destrói com socos as muralhas conceituais do que é música dançável ou culturalmente pop, uma que cria uma nova maré pois é muito única para apenas nadar contra a dominante…. e bem, Perfect Picture está bem longe de seguir essa linha. O álbum dá longos passos para trás em busca de uma sonoridade mais padrão e desinteressante, se apoiando em clichês de gêneros indeterminados do EDM enquanto raramente cumprimentam com o bubblegum bass. É como se os produtores se sentaram à mesa para criar uma fórmula perfeita do gênero-marca do selo e essa foi seguida à risca pela artista, esquecendo que a parte mais memorável desse tipo de música é justamente a de não seguir regra alguma.
Mas afinal, o álbum soa bem? Não consigo responder. Os sintetizadores estão calibrados apenas um pouco mais açucarados do que uma música do Alok e as batidas parecem ter sido diretamente retiradas de um drumkit imitando a SOPHIE, enquanto os vocais têm a mesma vida e emoção que a atuação da Ellen Pompeo num episódio atual de Grey’s Anatomy. Quando “Poster Girl” começou eu jurava que era um anúncio do Spotify até os vocais aparecerem. Isso aconteceu três vezes enquanto eu ouvia o disco. Já os refrões são tão frequentes que ouvi-los pela quarta vez não é uma recompensa para dançar mais, e sim uma frustração por conta da repetição incessante das mesmas ideias batidas — que por sinal deixam o disco extremamente homogêneo — que Hannah não quer largar.
Ainda sim, não consigo dizer que Perfect Picture é ruim, de forma alguma. Ele pode até ser decepcionantemente genérico e um retrocesso artístico, mas músicas como “Staring At The Ceiling” e “Divisible By Two” exprimem muito bem o porquê de valer a pena ouvir esse álbum: ele é divertido por padrão. A fórmula dá certo, afinal de contas, é um disco feito com intenção exclusiva a de divertir e agradar os fãs ávidas de um pop semelhante ao de Charli XCX, e nisso ele garantidamente — por pouco — não falhará. É uma tristeza que suas qualidades param por aí.
Testemunhando o funeral da PC Music, ele não está com tanto glitter quanto pensei que teria. Fazer o quê?
Selo: PC Music
Formato: LP
Gênero: Pop / Eletropop