Crítica | Something To Give Each Other


★★★☆☆
3/5

Uma das escolhas mais certeiras de Troye Sivan ao conceptualizar este álbum foi olhar para seu último EP, In A Dream (2020), como ponto de partida. Embora o cantor não tenha confirmado, explicitamente, uma relação entre os dois projetos, há momentos em que seu novo disco soa como uma extensão mais refinada do trabalho que o precede, principalmente pela continuidade da revitalização do cenário dance-house-eletrônico dos anos 1990 e 2000 — aqui, feita sob uma lente mais comercial. Isso é muito bom, tendo em vista que o direcionamento apontado pelo EP mostrava uma ambição de Troye em expandir seus conceitos e Something To Give Each Other, de certa forma, corresponde a esse potencial. Entretanto, aí também reside o principal deslize do álbum: ele cai num território óbvio e não extrapola as expectativas.

Por um lado, quando Troye mergulha de cabeça no pop-retrô dançante, os resultados são excelentes. É o caso de “Rush”, a escolha perfeita para primeiro single, que conta com o melhor refrão do disco: eufórico e grudento na medida certa. “Got Me Started”, que também foi single, é outro acerto, que abusa de um sample conhecido mas se sustenta mesmo sem ele.

Nenhuma outra faixa é tão imediata como essas duas, o que é decepcionante, mas algumas se destacam no meio das inconstâncias. “Honey”, por exemplo, é um house-psicodélico típico de final de festa que se encaixa bem entre os últimos momentos do registro; “What’s The Time Where You Are?” reflete a urgência irresistível de estar ao lado da pessoa amada a todo instante e possui um dinamismo interessante, e “Silly” talvez seja o maior reflexo da experimentação proposta pelo In A Dream — os vocais mascarados pelo autotune e a batida borbulhante soam quase como uma referência direta à excelente “STUD”.

Por outro lado, os momentos mais relaxados de Something To Give Each Other esbarram na narrativa genérica ao almejar uma conversa íntima com o ouvinte. Desde seu breakout na indústria musical, Troye Sivan sempre foi uma voz significativa para a comunidade queer e, principalmente no Bloom (2018), ele encapsulou os altos e baixos da jornada que diversos jovens gays enfrentam ao explorar sua sexualidade, de maneira altamente relacionável. Aqui, no entanto, não temos a mesma especificidade e nem a mesma entrega por parte do cantor, e, por isso, muitas canções passam despercebidas.

Nesse caso, a produção hiper-polida também não ajuda. Faixas como “One Of Your Girls” e “In My Room” miram no revival oitentista que ainda está em alta, mas não apresentam nenhuma novidade — a não ser a primeira que, além de ser uma emulação pífia de grandes baladas da época, traz uma mensagem questionável. Fica a impressão de que Sivan está apenas cumprindo com as obrigações para conseguir um espaço de relevância no mainstream atual quando, na verdade, são os momentos mais descontraídos e desinibidos que geram maior atenção. Em Something To Give Each Other, é preciso escavar um pouco para encontrá-los, mas eles certamente estão lá.

Selo: Capitol, EMI 
Formato: LP
Gênero: Pop
Marcelo Henrique

Graduando em Matemática Computacional pela UFMG e editor do Aquele Tuim, em que faz parte das curadorias de Pop e R&B e Soul.

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