Clássicos do Aquele Tuim | Minecraft - Volume Beta (2013)


★★★★☆
4/5

Trabalhos de música ambiente raramente são notados pela maioria das pessoas, e muito menos são elogiados com o devido apreço que deveriam ser. De qualquer recorte social, esse tipo de música pouco é elevada ao status de obra-prima, sem ser entre nichos muito específicos e isolados de pessoas mais dedicadas à música. Não existe nem uma tribo urbana para isso, uma “cultura ambiente” amplamente propelida ao grande público para se identificarem com — como funkeiros, kpoppers, punks, metaleiros e etc.

Uma minoria relativa pode até gostar de música ambiente, quem sabe ouvindo playlists de field recordings no youtube. Uma outra pode ser grande fã de Aphex Twin, ou de Tim Hecker, talvez de Brian Eno, ou até mesmo do épico Everywhere At the End of Time, mas nenhuma delas está interconectada sob uma estética comum, ou ainda sob um gosto em comum, pois todos os citados trabalham em gêneros e vertentes divergentes da música ambiente, mesmo que com convergências costumeiras.

E é considerando essa perspectiva que a importância de um trabalho como Minecraft - Volume Beta logo fica óbvia. A comunidade de Minecraft é enorme, não, mastodôntica, desmesurada, quiçá a maior de todas no mundo dos jogos, e por isso, ter um trabalho de música ambiente atrelado diretamente ao projeto foi fundamental ao gênero. Mesmo com seus gritantes toques de eletrônica e clássica, o cerne e intenção fundamental do disco é a atmosfera ambiente; é apoiar a experiência do jogador ao rodeá-lo de ares sinistros, triunfantes, vivazes ou sombrios, o que o ouvinte espera ou não.

Entretanto, não é só sua influência no gosto de dezenas de milhões que torna o álbum bom, se fosse uma trilha musical simplória e sem notoriedade alguma ninguém se importaria com ela, nem se tornaria uma das obras mais amadas entre pessoas que adoram jogos. Pelo contrário, ambos volumes são obras estupendas de C418, que reuniu estéticas que tendem para lados completamente opostos em seus exatos pontos em comum. É fácil de entender como um álbum que intensifica tanto a imersão e experiência em suas texturas e notas deixou tantas pessoas pasmas e apaixonadas, tanto pelo jogo quanto pela própria música.

Porém, algo complexo relacionado a esse álbum é compreender sua mágica e o que o torna tão transcendental. Tem algo na progressão das faixas, na quentura dos baixos, nos sintetizadores que emulam a natureza, nos que descem dos céus com suas melodias angelicais ou de causar horror, algo inexplicável. Não há passo a passo da construção dessas músicas que explique, prove o feitiço jogado aqui, só a experiência de 105 minutos do começo ao fim é que pode te explicar, um encanto tão grande que nem jogando o jogo é possível de se conseguir.

No fim, Minecraft - Volume Beta gerou e gera uma comunidade inteira de pessoas que passaram a se interessar por música ambiente, pela capacidade única dela de provocar sentimentos e criar universos únicos, revitalizantes ou pós-apocalípticos. Conexões, por mais simples que sejam, moldam cultura, e quem diria que um joguinho de sobrevivência em um mundo quadrado uniria as pessoas pelo gosto musical, um gosto adquirido e tão pouco acessível? Bem, que bom que aconteceu.

Selo: Independente
Formato: LP
Gênero: Ambiente, Eletrônica

Sophi

Estudante, 18 anos. Encontrou no Aquele Tuim uma casa para publicar suas resenhas, especiais e críticas sobre as mais variadas formas de música. Faz parte das curadorias de Experimental, Eletrônica, Rap e Hip Hop.

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