Crítica | I Killed Your Dog



★★★★★
5/5

Afinal, qual é a verdadeira posição de quem faz música experimental? As respostas não são consensuais, mas Taja Cheek possui uma visão clara sobre o assunto: ela não se vê de maneira tão especial por isso. Para a Pitchfork, ela definiu I Killed Your Dog, seu terceiro álbum, como “o lado mais obscuro, malcriado e diabólico de L’Rain”, além de classificá-lo, por essa perspectiva, como a sua obra “basic bitch”. Preciso dizer que ele é a antítese de básico, mas que, paradoxalmente, confirma todas as outras afirmações.

Com um título tão atordoante, o terceiro álbum de L’Rain consegue diagramar as facetas mais serrilhadas das diferentes relações humanas com o amor. Formado por peças com desdobramentos difusos, o álbum está ancorado em colagens musicais ousadas que passeiam do rock psicodélico ao neo soul. Com recortes líricos de diferentes fases da sua vida, a artista exprime maturidade ao tratar as complexidades desse âmago da experiência humana.

Porém, a sua natureza desconcertante não está focada no outro, seja ele um familiar, um amigo ou uma pessoa amada. A relação intrapessoal do eu lírico domina a narrativa, e é impossível de escapar ou de não se identificar. As paisagens sonoras, que parecem tão febris, só estão traduzindo os anseios e as nuances que as palavras não conseguem expressar.

I Killed Your Dog é, portanto, um dos álbuns essenciais de 2023. Ele consegue aglutinar tudo o que Taja Cheek tem a dizer a partir de suas experiências enquanto artista experimental, multi-instrumentista, curadora de arte e, principalmente, humana. É algo difícil e, em certos momentos, indecifrável, mas essa é a essência do ato de amar.

Selo: Mexican Summer
Formato: LP
Gênero: Experimental
Felipe

Graduando em Sistemas e Mídias Digitais, com enfoque em Audiovisual, e Estagiário de Imagem na Pinacoteca do Ceará. É editor adjunto do Aquele Tuim, integrando a curadoria de Música do Continente Africano.

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