Uma lista com Caroline Polachek, Kelela, Sufjan Stevens, DJ RaMeMes, FBC, d.silvestre, Kara Jackson, Lana Del Rey e mais!
Uma das características musicais de 2023 foi a repaginação da música alternativa que, depois de inúmeros lançamentos importantes no início da década, agora parece ser comandada por novos artistas e novas abordagens na cena. Em particular, o retorno de nomes como Kelela, Caroline Polachek e Ana Frango Elétrico, que, embora já tivessem lançado discos na última década, somente agora ressurgem na indústria dando continuidade às suas ainda muito curtas discografias. Além desta questão, outras chamaram a atenção, algumas delas descritas ao longo desta lista. Então fique até o final e confira os melhores álbuns lançados em 2023!
30.
*1
Rắn Cạp Đuôi
*1 é uma paisagem sonora detalhista, que ambienta como seria uma tarde ensolarada após o apocalipse. Através de glitchs, sound collages e a total ausência de voz humana, o coletivo vietnamita consegue expressar esperança e vitalidade. — Felipe
29.
SOS
SZA
Em 2017, SZA despontava como uma das vozes guias do R&B contemporâneo com seu primeiro álbum, Ctrl. SOS, lançado cinco anos depois, prova que a cantora norte-americana é um fenômeno cultural: suas melodias imprevisíveis são o pano de fundo para narrativas que refletem a realidade conturbada de uma geração que, assim como ela, está sempre à procura de um norteamento. E, justamente por ser uma espécie de espelho para muitas pessoas, SZA se firmou como uma potência na música. Não importa quanto tempo ela demore para lançar um disco, todos sempre estarão a postos para ouvi-la. — Marcelo Henrique
28.
Softscars
yeule
Yeule se aventura no rock alternativo de forma triunfal em Softscars. A exploração de vertentes como o shoegaze, dream-pop e noise-pop é feita de forma fantástica. Algo que fica evidente, por exemplo, em “dazies”, em que a atmosfera sonhadora do shoegaze se mescla de forma apaixonante com os sons distorcidos e dissonantes da guitarra do noise-pop, resultando em uma música formidável. Uma das coisas mais fantásticas de Softscars, no entanto, é como Yeule, ao mesmo tempo em que explora território novo, mantém o uso do eletrônico característico de sua obra, o que, além de preservar a essência de seu trabalho, a junção fenomenal do rock com influências do glitch-pop entrega alguns dos melhores momentos do LP. — Davi Bittencourt
27.
GOOD POP
PAS TASTA
GOOD POP leva seu título a sério ao criar através da fusão de j-pop e hyperpop ricas camadas sonoras que elevem a maneira de se fazer experimentações com música eletrônica. — Joe Luna
26.
gush
soft tissue
gush é um disco que te faz refletir sobre o próprio fazer artístico e do que pode ser considerado música na sociedade pós-moderna. Os microsounds dispostos entre intervalos de silêncio são rápidas estocadas de uma combinação de experimentação e energia, te lembrando constantemente que nada do que você está ouvindo é normal nem será normalizado. — Sophi
25.
SCARING THE HOES
JPEGMAFIA & Danny Brown
Em SCARING THE HOES, dois dos nomes mais ilustres do hip-hop atual se juntam em uma obra que resulta na amostra mais fascinante das habilidades artísticas de ambos os artistas. A produção de JPEGMAFIA, que rompe completamente com o convencional no ritmo, mostra-se extremamente fantástica. São faixas que, no geral, trazem diversas influências não habituais no cenário do rap, manipuladas de forma muito singular, e o resultado é bastante surpreendente. Ademais, mesmo que o ponto mais brilhante no registro seja o trabalho ao produzi-lo, as performances formidáveis dos rappers, que mostram a versatilidade deles ao conseguir encaixar suas rimas e a energia de suas entregas excelentemente nas diversas experimentações presente nos beats, elevam o caráter fascinante do disco. O projeto se destaca, em especial, por ser um dos melhores álbuns de hip-hop a se propor a fazer um experimentalismo de gênero dos últimos tempos, JEPGMAFIA e Danny Brown desafiam as barreiras do convencional de maneira sensacional. — Davi Bittencourt
24.
7 Estrelas | quem arrancou o céu?
Luiza Lian
Em 7 Estrelas | Quem Arrancou o Céu? Luiza Lian mergulha nas profundezas dos conflitos pessoais, dores e angústias. O álbum é um catálogo de emoções, revelando as camadas mais íntimas da experiência da artista. Cada faixa é uma jornada emocional que, ao explorar as sombras da alma, eventualmente conduz ao livramento desses sentimentos. Luiza Lian desvenda os céus rasgados por questionamentos e confrontos internos, transformando o sofrimento em uma trilha para a emancipação. — Brinatti
23.
Evenings at the Village Gate
John Coltrane & Eric Dolphy
Parece que todo ano temos uma nova descoberta na discografia de Coltrane, sempre uma nova jam que nunca antes tinha sido lançada. Essa, era supostamente lost media, até alguns anos atrás quando encontraram. Depois de um longo processo de restauração, esse é o resultado. Muitos reclamaram dos problemas de mixagem (eles existem), mas a experiência de ouvi-lo já é um milagre, um primor do avant-garde jazz. É um prato cheio de versões incríveis de músicas icônicas e improvisação. — Tiago Araújo
22.
O AMOR, O PERDÃO E A TECNOLOGIA IRÃO NOS LEVAR PARA OUTRO PLANETA
FBC
FBC apresenta mais um trabalho isento de música ruim e, desta vez, explora o gênero da música disco, com letras contemporâneas e uma produção impecável. As influências neste álbum vão de Olivia Newton-John até a música brasileira dos anos 70, especialmente o grandioso Jorge Ben Jor. — Vit
21.
After the Magic
Parannoul
Parannoul é o melhor expoente da música shoegaze moderna, e nesse ano isso ficou evidente quando ele lançou um dos discos mais emocionantes, caóticos, atmosféricos e intensos do ano, e depois chocou todos com a versão ao vivo dele, sendo essa mais descabelada e inovadora que as junções indiscerníveis de guitarras e texturas de After the Magic. O disco extrapola as barreiras do que é shoegaze e coloca camada atrás de camada sem ter medo de soar exagerado, dado que ele sabe muito bem que, ao fazê-lo, só potencializa a capacidade que a sua arte tem de criar ambiências surrealistas. — Sophi
20.
Lahai
Sampha
Entre sequências e sequências, talvez, nenhuma fosse tão aguardada com essa. De uma voz tão marcante em diversos projetos de RnB da década passada, parecia que faltava a Sampha uma plataforma maior para o seu próprio trabalho. A espera, entretanto, valeu a pena. Em Lahai, reencontramos o Sampha que tanto aguardamos. — João Lucas
19.
Ulaan
Enji
Ulaan é uma oportunidade de escapar do convencional e entrar em um universo ligeiramente distinto. Talvez a mistura do jazz com as tradicionais vocalizações da Mongólia criem um ambiente levemente mágico e emotivo ao mesmo tempo. Só posso reafirmar que Enji demonstra como a música é a linguagem universal dos afetos. — João Lucas
18.
ESPANTA GRINGO
d.silvestre
d.silvestre é um dos nomes mais reconhecidos por passear pelas margens do funk paulista e explorar seus limites às vezes agressivos demais. É uma forma diferente de transformar o produto — ou torná-lo mais diferenciado a partir de novas possibilidades. ESPANTA GRINGO, disco que vem na sequência de outras tentativas do artista de replicar seu conhecimento de bombear sangue pela pressão de batidas desconcertantes em 2023, é seu maior acerto até agora. Ele é assertivo porque está livre de intenções concretas; quase sem um senso de necessidade — além de romper com seu portfólio. — Matheus José
17.
MIMOSA
cabezadenego, Mbé & Leyblack
MIMOSA é um projeto colaborativo entre os artistas Luiz Felipe Lucas (cabezadenego), com os beatmakers e produtores do Rio de Janeiro, Mbé e Leyblack. Lançado pelo selo QTV, um dos principais expoentes da música experimental em solo brasileiro, o registro é descrito como um “disco-manifesto sobre a potência dos ritmos afro-brasileiros”. E não é à toa. Aqui você encontra uma extensa diversidade de ritmos — mesmo que pareçam distantes entre si — interligados pela ideia de fazer um passeio pela música com raízes negras no cenário nacional. É interessante notar que, para isso, são utilizados alguns maneirismos, como a própria repetição do funk ou mesmo algumas distorções e fragmentos vocais que dão a ideia do álbum ser uma coletânea. Mas engana-se quem pensa que isso é ruim. Quando nos deparamos com um material como esse, a propriedade de quem o produz precisa ser levada em consideração. E nada mais justo do que ver esta síntese musical como um esforço genuíno para representar a evolução da música como produto artístico. — Matheus José
16.
Why Does the Earth Give Us People to Love?
Kara Jackson
Kara Jackson escapa de qualquer estereótipo e lança uma obra tão poética, tão trágica e que mistura melodias doces do folk com letras melancólicas. Ainda temos muito o que conhecer de Kara Jackson! — João Lucas
15.
Sem Limites
DJ RaMeMes (O DESTRUIDOR DO FUNK)
A música experimental é perfeitamente definida dentro de Sem Limites. DJ RaMeMes, em seu novo projeto, mostra como é extremamente interessante a forma em que ele, por vinte e quatro minutos, demonstra sua habilidade em combinar diferentes influências, criando um trabalho autêntico. De “Ei Mané Você Acha Que Seu Som É Bom” até “Tomação Sem Limites” é impressionante a facilidade do ouvinte em adentrar na sua totalidade artística. As mesclas entre as batidas pesadas e contagiantes com uma diversidade de samples, criam um som vibrante e cheio de energia diante das camadas intrincadas, em que a seção rítmica fica proeminente. O artista desafia as estruturas musicais tradicionais, explorando a imprevisibilidade e expandindo limites. Isso resulta em uma sensação constante de descoberta, à medida que novos arranjos e combinações são revelados, mantendo o interesse vivo. A habilidade de entrelaçar influências diversas em uma sinfonia coesa é uma demonstração de talento criativo. A experiência sonora proporcionada transcende o comum, convidando o ouvinte a explorar um universo musical profundamente original. — Brinatti
14.
Did you know that there’s a tunnel under Ocean Blvd
Lana Del Rey
Ocean Blvd é o disco mais honesto de Lana Del Rey. Pela primeira vez, ela parece se desprender da estética para contar suas histórias; aqui, as palavras significam muito mais que qualquer outro elemento. O resultado é um registro extremamente tocante, com uma carga emocional difícil de digerir na primeira audição, mas que permanece contigo por muito tempo. — Marcelo Henrique
13.
The Loveliest Time
Carly Rae Jepsen
É o amor! Na sequência de The Loneliest time, Carly Rae Jepsen deixa de lado os corações partidos e parte para viagem solar dentro dos novos caminhos que um novo relacionamento recém começado possibilita, uma excelente coletânea de faixas que explora o já carismático pop de Jepsen, entretanto, com ousadas flexões com a música experimental eletrônica. — Joe Luna
12.
Javelin
Sufjan Stevens
Um grande retorno de Sufjan Stevens a uma solidez impressionante. O contexto que foi lançado, junto a uma mensagem dele no instagram para seu parceiro que havia falecido, obviamente colabora para esse impacto, mas desde a madrugada que eu ouvi o álbum, em seu lançamento, eu já sabia que era algo diferente. — Tiago Araujo
11.
That! Feels Good
Jessie Ware
Impossível não se divertir com mais um álbum da Jessie Ware inspirado em grandes divas como Donna Summer e Diana Ross. That! Feels Good! parece uma continuação incrível do seu álbum anterior, What's Your Pleasure?. Embora não represente uma inovação significativa na carreira da artista, Jessie demonstra que possui um talento inato para criar dance pop de alta qualidade. — Vit
10.
I Killed Your Dog
L’Rain
I Killed Your Dog encara o existencialismo por lentes psicodélicas e encontra, na introspecção, uma força expressiva que irradia criatividade e ousadia a todo momento. L’Rain é uma artista que se distancia do convencional e é bem sucedida por ter certeza de suas escolhas. Este disco explora o melhor dessas decisões. — Marcelo Henrique
9.
DJ E
Chuquimamani-Condori
DJ E é um álbum que não se importa com nenhum tipo de convenção musical para se guiar, jeito de se estruturar, progressões de acordes a se seguir, melodias cativantes para ficar na mente do ouvinte, nada. Todo o apelo do álbum é dado de forma orgânica — pois, por mais artificial que o processo de produção seja, este ainda se mostra como um dos discos mais vívidos do ano — celebrando a resistência indígena ao dispor vários elementos da música indígena aimará dentro das epic collages transcendentais. Sua simbologia trespassa como resistência a uma infinidade de conceitos que circundam a música, e seu conteúdo é uma das formas de música mais lindas que eu já tive o prazer de escutar. — Sophi
8.
The Land Is Inhospitable and So Are We
Mitski
The Land Is Inhospital and So Are We de Mitski emerge como seu álbum mais americano, como a artista mesmo afirma. Ela explora o tema central do amor, entrelaçado com uma melancolia solitária. O disco se desenrola como um auto-testemunho íntimo, oferecendo uma visão penetrante da sua complexidade emocional. Mitski pinta paisagens sonoras que ecoam a vastidão da terra e, por extensão, a amplitude dos sentimentos humanos. Neste trabalho, ela não apenas cria música, mas tece um tapete emocional que convida os ouvintes a se perderem e se encontrarem em suas próprias reflexões. — Brinatti
7.
Aphorisms
Graham Lambkin
Gravado em Nova Iorque e Londres, Aphorisms marca o retorno do lendário Graham Lambkin à cena. O seu estímulo assenta na colagem de sons e na extensão sonora da sua intimidade assustadoramente cotidiana, sendo o disco descrito como um avanço na missão idiossincrática do artista. Na verdade, é um material que perpassa as declarações de Lambkin: são acordes de piano e intromissões marcadas por palavras faladas, respirações e ruídos decorrentes de gravações de campo. Mas há muito mais do que isso, são percepções que só podem ser notadas através da experiência, sendo esse convite, de mergulhar na obra, um dos pontos mais interessantes de todos. Aphorisms, portanto, fecha como um retrato fiel dos detritos musicais de Graham Lambkin; uma obra produzida contrapondo a estranheza de suas sobreposições atípicas. — Matheus José
6.
No Tempo da Intolerância
Elza Soares
O álbum póstumo de Elza Soares finaliza a sua carreira de maneira excepcional. Este é um projeto que consegue sintetizar algumas das principais características de sua obra. Com o disco abordando sonoridades que ela explorou ao longo do período em que ela esteve trabalhando na música, fora as letras, que mantêm o grande cunho social e político que ela apresentava em sua lírica. Todas essas características que remetem a seus projetos antigos se mostram aqui de forma bastante excelente. O samba, gênero no qual mais ela conquistou reconhecimento, misturado à música soul feito ao longo do registro, soa muito lustroso. Já o rock, que marcou os últimos discos da artista antes de seu falecimento, com grooves que bebem um pouco da fonte do funk de “Coragem” é envolvente, por exemplo. Enquanto isso, as composições apresentam alguns dos comentários sócio-políticos mais afiados de sua carreira. As faixas mostram o ponto de vista que Soares tinha sobre a humanidade, e como vivemos em uma época em que a intolerância é muito forte e, dessa forma, ela percorre com excelência por problemas vindos do preconceito, principalmente, relacionados com o racismo e machismo. O mais fascinante de seu lirismo é que, por mais que diversas músicas tenham sido escritas há mais de 30 anos, elas se mantêm extremamente atuais. — Davi Bittencourt
5.
tds bem Global
dadá Joãozinho
Em seu trabalho de estreia, Joãozinho narra a respeito das imagens falsamente vendidas dos grandes centros populacionais no geral, discorrendo sempre sobre as desigualdades sociais que também assolam esses lugares, como a falta de oportunidades para quem já vive lá e para quem está chegando. — Joe Luna
4.
Fountain Baby
Amaarae
Para muito além do afrobeats, o segundo álbum de Amaarae é refrescante e atrevido. Com a união dos ritmos latentes da música africana contemporânea com o pop e o R&B, a obra esbanja carisma e sensualidade. Contendo verdadeiras jóias, como “Co-Star”, “Princess Going Digital” e “Counterfeit”, Amaarae não se acanha e consegue se manter contagiante do começo ao fim, dando aula de como fazer um grande álbum pop na atualidade. — Felipe
3.
Raven
Kelela
Kelela é uma figura fundamental para a atual seara da música eletrônica. Ela explora suas vivências e sua identidade enquanto mulher negra e queer, em peças musicais que estão enriquecidas pela versatilidade e união das várias vertentes que compõem a cena. Vê-la em ação é um deslumbre e um alívio. Raven era ansiosamente aguardado pela sua comunidade. O álbum, no entanto, conseguiu superar todas as expectativas. A artista traceja uma verdadeira jornada do amor através de paisagens íngremes, que começa em “Washed Away” e finaliza em “Far Away”. Com um non-stop perfeito, ouvimos R&B, UK bass, breakbeat e até mesmo ambient pop passarem pelos nossos ouvidos. É uma narrativa atordoante, marcada por grandes hinos, instrumentações sofisticadas, pela sua voz suave, que ecoa como uma sereia envolta por melancolia, e por desdobramentos líricos intensos. Raven é a lapidação irretocável de uma mente que sempre irá nos surpreender, e que devemos mergulhar profundamente e sem receios. — Felipe
2.
Desire, I Want to Turn Into You
Caroline Polachek
Em relação à música pop, já é completamente possível perceber o quão diferente foi o lançamento de Desire, I Want to Turn Into You se comparado aos outros discos do gênero ao longo do ano. Caroline trabalha com camadas e texturas como ninguém, e sabe unir isso à sua voz, que é um primor. Que venha o deluxe! — Tiago Araujo
1.
Me Chama de Gato Que Eu Sou Sua
Ana Frango Elétrico
Ana Frango Elétrico não só consegue criar um trabalho excepcional, como também supera suas obras anteriores. Em Me Chama de Gato Que Sou Sua, Ana celebra as sonoridades dos anos 70 e 80, mesclando elementos do pop, jazz-funk, boogie e MPB da época. Longe de ser datada, a obra tem um frescor vintage-atual. Temos aqui, então, uma obra elegante, sensual, viciante e moderna, que poderá se tornar um grande clássico da música brasileira. Além disso, as melodias e letras são envolventes, apaixonantes, profundas e divertidas ao mesmo tempo, combinadas por uma voz suave capaz de agradar qualquer amante da música. — Vit
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