Crítica | “Spinning”



★★★★★
5/5

Em “Spinning”, Julia Holter cria uma das obras de art pop mais frágeis, delicadas, inusitadas e surpreendentes dos últimos anos, combinando concepções complicadíssimas em um estilo singelo e visivelmente fluido. O instrumental pega ideias industriais, na repetição, no vapor, e junta com tendências pós-minimalistas da utilização do saxofone e modelo de composição, mas não só isso, ela também unifica tais conceitos com elementos psicodélicos, o que forma um produto cuja sonoridade jamais foi apresentada ao mundo, embora seja indiscutivelmente pop. É alucinante, terapêutico, desconfortável, comovente e vividamente rítmico, tudo ao mesmo tempo e em intensidades variáveis, de forma que se torna uma verdadeira bomba sentimental.

Mas mais que isso, “Spinning” é como um relógio, marcando o próprio tempo à medida que passa, em que o ouvinte consegue notar a repetição de um evento como demarcação temporal, pelo qual ele se localiza na faixa para então pensar no que irá possivelmente acontecer. É uma linda forma de compor uma música, focando na relação que o ouvinte tem com a progressão da faixa em si e no que Julia tem a oferecer em cada detalhe mínimo, cada percussão esparsa e cada reversão e inversão estrutural, não somente na sonoridade, nas texturas e escolhas já riquíssimas, mas especialmente na forma como a faixa se desenrola.

Por fim, é possível notar o quão verdadeiramente genial a canção é quando ela provoca uma sensação ao ouvir pela segunda, terceira, quarta vez. Aquela de já se deliciar e ansiar pelos momentos subsequentes dela, de esperar que aquela sensação inigualável se repita, porque você sabe que vai, afinal, é uma música perfeita.

Selo: Domino
Formato: Single
Gênero: Pop / Art Pop
Sophi

Sophia, 18 anos, estudante e redatora no Aquele Tuim, em que faço parte das curadorias de Rap e Hip Hop e Experimental/Eletrônica e Funk.

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