Crítica | 20 MIL LÉGUAS EXTRA-TERRENAS


★★★★☆
4/5

Dentro da bolha do “hip hop underground”, o talento de Big Rush é ponto pacífico. Quer você goste ou não de sua personalidade polêmica e incontrolável, não há muito o que negar, ele é o mais lírico de sua geração e cenário, seja pelas suas referências relativamente obscuras ou sua capacidade inenarrável com os esquemas de rima. A partir disso, já é esperado que seus projetos novos sejam, no mínimo, decentes, mas aparentemente em 20 MIL LÉGUAS EXTRA-TERRENAS o rapper quis se superar em todos os níveis.

De “VALDERRAMA”, com sua lírica impecável do início ao fim, até “NETUNO”, com seus ritmos desorientadores e bombásticos, a mixtape não apresenta uma falha sequer em suas faixas, curtas, estufadas com substância e incrivelmente charmosas. Elas são indubitavelmente únicas tanto em sonoridade quanto em conteúdo lírico, mas todas são interconectadas por um estilo indescritível em comum, que foi introduzido pelo próprio Big Rush na prequela deste projeto, 2 MIL E UMA NOITES — que, inclusive, falhou em sua proposta por ter uma produção pouco carismática e performances medianas para o padrão do rapper.

Estilo esse que combina a produção pateta, palidamente aprazível do icônico Timbaland com a improvável voracidade do hip hop hardcore, uma combinação que é surpreendentemente viciante, refrescante e fascinante. Contudo, para além do fator inovação, o projeto é também excelente para todos os gostos, eletrizando os ouvintes mais casuais e tendo flows especiais e duplos sentidos graciosos suficientes para saciar os mais famintos fãs de rap.

Enfim, a mais relevante afirmação em forma de faixa encontra-se em “ATMOSFERAS”, que possui um sample tão brutal quanto um vendaval, linhas de baixo alienígenas na própria música e uma performance decisiva de Big Rush, que sintetiza perfeitamente a posição dessa mixtape no cenário do hip hop brasileiro com o seguinte verso: “Eu furo atmosferas, nego, eu não furo bolhas”. Assim, é nas mãos de MC’s como Big Rush, Sain e Bonsai que o futuro do nosso hip hop — fora do trap, em que temos nomes fenomenais como Putodiparis, Matuê e akajuug — conseguirá brilhar.

Selo: GLUVCON
Formato: Mixtape
Gêneros: Hip Hop / Hardcore, Pop Rap

Sophi

Estudante, 18 anos. Encontrou no Aquele Tuim uma casa para publicar suas resenhas, especiais e críticas sobre as mais variadas formas de música. Faz parte das curadorias de Experimental, Eletrônica, Rap e Hip Hop.

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