Crítica | Still


★★★★☆
4/5

Desde sua estreia em 2019, a carreira da portuguesa Erika de Casier vem em uma crescente admirável, e não é difícil entender o porquê. Seus álbuns são peças nostálgicas, remanescentes da febre R&B noventista com um toque característico que só alguém que viveu e estudou a era de ouro do gênero poderia trazer. A sonoridade é familiar e acessível, às vezes até minimalista, mas charmosa o suficiente para agradar tanto aos fanáticos, quanto àqueles que não têm tanta familiaridade com o ritmo suave das batidas — sem contar o excelente ouvido da artista para melodias que se adequam aos limites de sua voz e grudam na cabeça de qualquer ouvinte.

Não é surpresa, portanto, que ela tenha conquistado reconhecimento internacional recentemente. Desde o lançamento de seu segundo disco, Sensational (2021), Erika passou a atuar mais frequentemente como compositora de outros artistas e, em 2023, seu nome apareceu nos créditos do EP Get Up, das NewJeans, possivelmente o girl-group mais promissor da nova geração do k-pop — não é à toa que “Super Shy” e “Cool With You”, duas das quatro canções co-escritas por ela, cativaram tanto o público.

E é bastante possível que essa experiência tenha despertado, em de Casier, uma vontade de expandir a sua (já sólida) sonoridade. Still, seu terceiro álbum de estúdio e o primeiro em três anos, é um reflexo direto disso. Por mais que o título insinue uma manutenção das fórmulas e da proposta criativa de Erika — o que é verdade até certo ponto —, o disco é mais diverso e ousado na forma como trabalha a nostalgia.

Produtores como Timbaland e Darkchild sempre foram grandes referências para os trabalhos de Erika, e, em Still, isso não é diferente. “Test It” e “ooh”, por exemplo, soam como peças extraídas diretamente do álbum autointitulado de Aaliyah. Por outro lado, “ice” e “Believe It” têm raízes nos grooves aveludados da fusão clássica de hip-hop e soul dos anos 90, e são igualmente cativantes.

Still também flerta com ritmos do underground europeu, como o drum n’ bass, o grime e o UK-garage — todos eles contribuem para reconstruir a estética Y2K nas faixas, com o uso irreverente de sintetizadores que marcaram boa parte das produções de R&B da metade final dos anos 2000, quando o gênero encontrou um lugar nas pistas de dança. É um registro que adiciona bagagem a uma discografia que já era muito sólida e abre portas para experimentações ainda mais animadoras.

Selo: 4AD
Formato: LP
Gênero: Pop / R&B
Marcelo Henrique

Graduando em Matemática Computacional pela UFMG e editor do Aquele Tuim, em que faz parte das curadorias de Pop e R&B e Soul.

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