Clássicos do Aquele Tuim | The Return of The Space Cowboy (1994)



★★★★☆
4/5

Em sequência ao sucesso de estreia Emergency On Planet Earth, que borbulha a ousadia rítmica do acid jazz no casamento com o soul funk, Jamiroquai mantém a lírica idealista e o consolidado groove; mas se permite descer um degrau no frenesi para dar forma ao projeto.

Frustrado com as mudanças na composição do grupo, algo que futuramente cairia na rotina, Jay Kay se encontrava embebido em confusão mental e abuso de substâncias. Existe um esforço hercúleo para manter a música nos trilhos, mas este estado de vulnerabilidade abre espaço ao protagonismo de outros membros como Toby Smith e Stuart Zender, algo patente desde a abertura do disco, “Just Another Story”, em que os vocais são apenas aperitivos. A partir de “Stillness In Time” é onde vemos as cores da obra, que incorpora de maneira despretensiosa o samba e as percussões latinas já conhecidas e reconhecidas até pelos ouvintes relapsos.

Faixa após faixa, é possível conectá-las pela luz do sol que emana, mas também pelo baixo robusto, linhas de sopro alegres e toda produção característica do frontman. É preciso caminhar até “Manifest Destiny” para encontrar a sombra, que viaja dos acordes até as notas altas proferidas pelo tenor, em sua contínua busca e expansão de algo que Stevie Wonder já nos apresentou. E não falha, diga-se de passagem.

“The Kids” e “Mr Moon” dão continuidade ao caminho no sol, que tomam de assalto a influência da Motown e da música disco, assimilando ao acid jazz em plena harmonia e classe. Pode não ser uma favorita dos fãs, mas “Mr Moon” é competente e melodiosa; um afago antes do verdadeiro clímax.

Enquanto “Manifest Destiny” abaixa um tom para cantar a dor do povo colonizado sob a doutrina do destino manifesto, “Scam” ousa no instrumental antes de narrar as mazelas da vida no capitalismo tardio, afastando a melancolia funesta e aproximando a força das palavras de ordem. Se tratando de arranjos, o álbum nos oferece “Journey To Arnhemland” e “Morning Glory”, a segunda servindo de sample para artistas de hip-hop ainda nos anos 90.

E como toda obra intrigante, o final guarda incógnitas; a versão de “Space Cowboy” constante no álbum não condiz com a versão comercializada na rádio, o que não é necessariamente ruim após a plenitude de estímulos que o disco traz e mantém ressoando com frescor após três décadas na pista.

Selo: Sony Soho Square
Formato: LP
Gênero: Acid Jazz / Funk, Neo-Soul
Catarina de Oliveira

Irmã perdida da Kali Uchis, Catalina Guataúba, entre outras alcunhas. Nascida em 1997, desde tenra infância alimento a paixão por gêneros musicais afrodiaspóricos. Como crítica e redatora no Aquele Tuim, faço parte das curadorias de Música Hispanófona e Música do Continente Africano.

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