Clássicos do Aquele Tuim | The Smiths (1984)


★★★★☆
4/5

Após a estética post-punk tomar a frente musical na Inglaterra, no final dos anos 70, o diálogo entre as bandas de rock com as angústias juvenis se tornou cada vez mais natural. Temas como depressão, ansiedade social, angústia, sensação de deslocamento eram extremamente comuns, independente da musicalidade ser mais triste ou não.

The Smiths é uma das bandas hoje mais conhecidas por seguir esse diálogo e essa ideia. Entretanto, muito se engana quem imagina que o diálogo deles era apenas para com um público específico dentro da juventude classe média inglesa. O grande diferencial na abordagem deles está em não somente representar apenas as angústias “naturais” da juventude, mas também, poeticamente, traçar um diálogo com os grupos dissidentes.

Ao longo de toda a discografia da banda, a pobreza, o preconceito, a exclusão social, são alguns dos assuntos tratados, e isso é falar sobre uma parcela da juventude que é possível considerar que sequer faz parte da “sociedade”. No caso do primeiro disco da banda, um tema é encontrado de forma muito recorrente em sua poesia: a homossexualidade — e há quem argumente a transexualidade, em “Pretty Girls Make Graves”, por exemplo.

Não surpreende que na época o pouco que existiu de crítica musical, ou jornalismo, sobre o disco tenha ignorando essa temática e tentando associar esses temas com outros, como a misoginia e a pedofilia — que são comumente atributos a pessoas homossexuais sob preconceito. Obviamente, essas alegações sempre foram negadas pelos membros da banda, que ainda sim não faziam questão de deixar claro o que eles queriam dizer nas canções, visto que, mesmo sem dizer, Morrissey já sofria muitos ataques por seus trejeitos “afeminados” no palco.

Nesses 40 anos do lançamento do álbum é importante que se retome esse diálogo, que faça essa diferença à crítica da época — capaz de reconhecer muito bem a genialidade de composição pop da guitarra de Johnny Marr, a produção lo-fi tão bela quanto angustiante, a linda forma de interpretação poética de Morrissey, a bateria muito marcada e meticulosa de Mike Joyce e as linhas de baixo inesquecíveis de Andy Rourke. Mas incapaz (ou seria desonestidade?) de reconhecer os aspectos subliminares político-sociais dessas músicas em relação aos relacionamentos de pessoas de mesmo sexo.

Em “Hand In Glove”, presente no disco de estreia e lançado como o primeiro single da banda, Morrissey canta:

[...]No, it's not like any other love
This one is different because it's us!
[...]
The good people laugh
Yes, we may be hidden by rags
But we've something they'll nave have
And if the people stare
Then the people stare
Oh, I really don't know
And I really don't care

Só isso basta.

Selo: Sire
Formato: LP
Gênero: Rock / Post Punk
Tiago Araujo

Graduando em História. Gosto de música, cinema, filosofia e tudo que está no meio. Sou editor da Aquele Tuim e faço parte das curadorias Experimental, Eletrônica, Funk e Jazz.

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