Clássicos do Aquele Tuim | We Hate All Kinds of Violence… (1996)


★★★★☆
4/5

O grande público do k-pop são os jovens, atualmente, aqueles que nasceram depois dos anos 2000. Mas, e antes disso? Como eram as coisas? A resposta para essa e outras perguntas do tipo, nos faz relembrar do modo que toda essa indústria começou. Lançado em 1996, o álbum We Hate All Kinds of Violence…, do H.O.T., é uma importante peça da música pop sul-coreana. Agenciados pela SM Entertainment, o grupo foi o primeiro a ser gerado a partir do sistema de trainee. Embora, existissem outros nomes na época, tipo o Seo Taji and Boys, foi apenas na estreia deles que vimos a mudança mais significativa acontecer. Neste processo, We Hate All Kinds of Violence… tornou-se uma ferramenta extremamente necessária na apresentação daqueles novos artistas que viriam a ser a maior influência de tudo explorado pelo k-pop ao longo dessas mais de duas décadas desde que eles surgiram.

Nos dias atuais, não existe uma empresa inserida neste mercado que não use o sistema trainee criado pela SM nos anos 90. Para entender melhor, esse sistema tem como objetivo fabricar ou aprimorar novos talentos. Após serem recrutados através de audições, os artistas, bastante jovens, começam a ser treinados em uma rotina extremamente controlada pelas agências. Do alimento que eles comem até a escola que frequentam, tudo é monitorado de acordo com o que determinada companhia achar necessário no aprimoramento técnico dos seus escolhidos. Existem também, algumas regras polêmicas, como o fato dos trainees serem proibidos de namorar ou ter alguma relação amorosa antes dos 30 anos. A prática de dança, canto e idioma, principalmente para os idols estrangeiros, geralmente chineses e tailandeses, é definida por critérios rigorosos, entre eles, a prática de exercícios físicos intensos e rígidos.

Apesar de assustar e de realmente consistir em algo bastante repugnante, principalmente para quem vê de fora, esse sistema é o principal fator por fazer com que o k-pop se ajustasse a um molde que ao longo dos anos tornou-se a ser este grande fenômeno que ultrapassa gerações. Pois, como muitos sabem, a Coreia do Sul é um país cujo contexto histórico remete a guerras e conflitos. Diante disso, o k-pop surgiu como um grande alívio para os mais jovens daquela época, então, o cuidado para criar artistas regrados e dentro dos padrões comportamentais exigidos para uma celebridade sul-coreana, resultou em todo esse processo que é utilizado até os dias de hoje.

Formado por cinco rapazes, sendo eles Heejun, Woohyuk, Tony, Kangta e Jaewon, o H.O.T. surgiu como um verdadeiro tsunami na cultura pop que começava a se formar na Coreia. Com belos visuais e uma presença que mudava de acordo com as fases do grupo, os jovens artistas da SM deixaram o anonimato da noite para o dia. O sucesso repentino não apenas agradava e enchia os olhos de Lee Soo-man, fundador da SM Entertainment, como também, de uma dezena de empresários que passariam a investir ainda mais no campo desconhecido que era o k-pop com a observação da figura de um ídolo fabricado. Então, não demorou muito para que o primeiro projeto fosse lançado e os seus envolvidos, reconhecidos no país inteiro.

Em We Hate All Kinds of Violence… podemos notar a existência de um sentido vanguardista pelo qual o grupo se apoiaria ainda mais nos trabalhos seguintes. Na faixa “Descent of Warriors”, por exemplo, os integrantes cantam sobre a violência e o bullying nas escolas, ao mesmo tempo em que traçam uma abordagem musical fora do comum, na qual, todas as obstinações em criar um som acessível e comercial, se voltam para a principal influência trabalhada por eles: o hip hop. Centrados no que havia de mais puro na música pop durante a década de 90, eles ainda, com tantas limitações tecnológicas, conseguiram estabelecer a principal característica do k-pop: a diversão. Algo que, pode ser muito bem notado no maior sucesso do grupo, a música “CANDY”, uma das mais respeitadas e referenciadas na Coreia do Sul. Fofos e devidamente apaixonantes, os cinco membros faziam o que era necessário para conquistar o público mais jovem. A dança, o carisma e todo conjunto dessa canção, apenas bastava para torná-los a sensação do momento. No videoclipe, eles aparecem com macacões coloridos, cabelos espetados e tudo que poderia se tornar tendência ao longo de 1996. Quanto a isso, nenhum artista havia, até então, causado tamanho impacto como eles. Do estilo musical aos visuais adotados nas apresentações, o H.O.T. foi, em sua máxima essência, aquilo que o k-pop tinha que ser para ganhar forma.

Vendendo 1,5 milhões de cópias, We Hate All Kinds of Violence… quebrava barreiras e parecia levar o nome do grupo para além dos shows e dos palcos em que eles botavam os pés. As baladas como “By Your Side” encantavam e faziam com que eles fossem adorados, tanto pela ótima interpretação ao vivo, como também pelos vocais perfeitos. Em outros momentos, os jovens garotos do H.O.T. buscavam um sentido para seguir adiante. Embora marcado pelo hip hop, R&B e pop, esse álbum ainda assim parecia emergir pouco no que poderia representá-los melhor. Por isso, em faixas como “About Women”, notamos a presença avassaladora de guitarras e sons mais alinhados ao rock que tanto seria explorado no futuro, principalmente, no clássico álbum I Yah!.

Em relação ao que viria dali para frente, eles, obviamente, não sabiam, mas tinham a clara certeza de que estavam fazendo história. We Hate All Kinds of Violence… não é o melhor disco de k-pop que você vá ouvir, pois, apesar de ser limitado e, muitas vezes, pouco coeso, essa obra de uma forma ou outra, representa início dessa indústria colossal e sem medições, a qual, tem o H.O.T. como uma das suas principais bases.

Selo: SM
Formato: LP
Gênero: Música do Leste e Sudeste Asiático / K-Pop
Matheus José

Graduando em Letras, 23 anos. É editor sênior do Aquele Tuim, em que integra as curadorias de Funk, Jazz, Música Independente, Eletrônica e Experimental.

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