Crítica | Documentário


★★★★☆
4/5

Para qualquer um que se importe com o hip hop brasileiro, o trabalho e talento de Kamau não é desconhecido. Com dois dos melhores álbuns brasileiros de rap, “...Entre…” e Non Ducor Duco — sendo que este, pessoalmente, considero um dos melhores de rap no geral —, o famigerado rapper tem uma carreira impecável, com alguns dos melhores versos e instrumentais das décadas passadas. E, em Documentário, parece que a intenção é conservar essa sequência inabalável.

O álbum é curtíssimo. São 13 músicas de, no máximo, 86 segundos, formando exatos 16 minutos de material, o que, somado a lírica quase formal de Kamau, faz um clima técnico, matemático surgir em meio ao disco. Há uma preocupação em entregar e desenvolver ideias até o prazo acabar, criando uma pequena estufa de pensamentos em cada faixa. Contudo, não há um superaquecimento ou saturação dessas ideias, pelo contrário, elas se intercalam para criar cores altamente esperançosas em meio às manipulações sonoras oblíquas, presentes em tons de cinza, ciano e amarelo, dos instrumentais.

Kamau, através dessas camas de gato mentais, cultiva um adorável bonsai que pode ser chamado de “hip hop”, pelo qual expressa uma conexão inquebrável. Assim, ele poda seus pequenos galhos para atingir o resultado que almeja, mas também o admira como produto natural, formado pelos fatores que escapam de seu controle.

Selo: Plano Audio
Formato: LP
Gêneros: Hip Hop / Consciente, Lo-Fi Hip Hop
Sophi

Estudante, 18 anos. Encontrou no Aquele Tuim uma casa para publicar suas resenhas, especiais e críticas sobre as mais variadas formas de música. Faz parte das curadorias de Experimental, Eletrônica, Rap e Hip Hop.

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