Critica | Funk Generation


★★☆☆☆
2/5

“Traduzir é inseparável de uma solidão povoada de encontros” diz Luiz B. L. Orlandi na nota de tradução da primeira edição de O anti-Édipo. O trabalho de Anitta é de certa forma uma tradução constante: a artista tem como meta, e sina, a universalização do funk, talvez como tenha ocorrido com o jazz no período pós anos 1950, ou com o hip hop nos anos 90.

O funk, é claro, é um ritmo característico do Brasil, que emana o país e seu povo. A tradução de um gênero que gera reações quase ufanistas — vide a discórdia recorrente com o termo “brazilian phonk” como descritivo do funk — é por vezes enrascada, quase sempre fadada ao fracasso. Isso não impede Anitta de ter tentado durante os mais recentes anos de sua carreira: numa proposta de tipo espanglês, meio pop, meio reggaeton, e que jura a todos os santos ser o tão brasileiríssimo funk.

O problema de Funk Generation mora nesses detalhes, nessa moratória. A dívida de querer uma carreira internacional (leia-se: norte-americana) se cobra nos pormenores de um gênero de origens intraduzíveis aos alheios à vivência de favela. O resultado é uma música aguada, em línguas estrangeiras, que apesar de deixar bem claro para quê vem, não deixa claro como vai chegar lá.

Suas performances dizem mais reggaeton do que funk, suas letras, com o quê sexual característico ao gênero, se perdem ao serem feitas em inglês e espanhol. Ao contrário do que faz parecer, Anitta é fluente, mas não nativa, nas duas línguas, e com isso perde nuances líricas que poderia utilizar em português, e leva um enxágue verbal quando divide suas canções com colombianos ou estadunidenses.

Desde a sofrível música com Sam Smith, até os features com Dennis e Pedro Sampaio, Anitta está por todo lado e não acerta verdadeiramente em nada. O álbum é bem mixado, bem produzido, mas emana mais um 150bpm feito por um garoto de Detroit do que o Funk maiúsculo que Anitta alega fazer. É, no todo, um álbum completamente bege, que vai fazer sucesso entre sua audiência cativa, gerar buzz com suas letras sexuais entre uma parte reacionária da população, fazer uma menção aqui e acolá na gringa. E vai ter sua influência no funk-internacional comparada a algum áudio viral do TikTok, com dancinha e tudo.

Selo: Floresta
Formato: LP
Gênero: Pop / Funk, Reggaeton
Pedro Piazza

Pedro, 21 anos. Cursa psicologia e tem uma quedinha pelas abordagens mais abstratas. Ama todos os tipos de arte e em especial a música, que guarda um lugar essencial em sua vida, principalmente as mais barulhentas. Parte da curadoria de MPB e hip-hop no Aquele Tuim

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