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Dar play em um álbum é fácil. Basta abrir o aplicativo de sua preferência, encontrar o que deseja e em cerca de quatro cliques você poderá ouvir o que quiser. Algumas pessoas fazem isso por amor, outras por curiosidade, algumas até para colocar seu artista favorito nas paradas. Não há muita diferença entre nenhuma dessas pessoas, todas precisam dar os primeiros quatro cliques. Escrever sobre música também começa assim, sem esse primeiro passo é impossível escrever sobre qualquer coisa. Talvez a diferença esteja apenas na abordagem, enquanto alguns procuram se satisfazer dando play, o crítico tem que buscar o confronto com a obra.
A maior dificuldade de THE TORTURED POETS DEPARTMENT já começa no confronto, pois, além de não ter muita diferença no que abordar que não havia sido exposto musicalmente em seu álbum anterior, Midnights, o novo disco de Taylor Swift não difere em absolutamente nada da música pop atual no geral. Contentando-se na mesmice da estrutura padrão muito bem estabelecida pela indústria musical estadunidense, e em manter os mesmos velhos temas em suas músicas, até os fãs já estavam especulando e ansiosos para saber de quais ex-namorados a cantora falaria agora, não sendo, portanto, algo que alguém tenha esperança de que ela consiga não se repetir tematicamente mais uma vez.
Em relação à letra, pode-se dizer que, pelo menos, não há nada tão absurdamente vergonhoso como em Midnights. O que não significa também que ela se levar tão a sério seja algo positivo, já que independente de qualquer coisa, nem mesmo o maior poeta musical poderia causar um impacto real em alguém com um instrumental tão impiedosamente calculado. A sensação de já ter ouvido todos esses instrumentais é constante, e é possível dizer o mesmo da letra. O confronto aqui é saber quem são esses poetas torturados, ou se a tortura é mesmo só para os ouvintes do álbum.
O que já foi dito acerca da parte musical da obra e sua produção é óbvio, mas precisamos dar nome aos bois: Jack Antonoff. Neste ponto, não surpreende absolutamente ninguém que ele faça a mesma produção para qualquer lançamento desde o Melodrama, de 2017, e mesmo que você goste do álbum de Lorde, você sabe muito bem reconhecer que depois deste, é quase insuportável ouvir outro disco produzido por Antonoff e aguentar suas padronizações: músicas sempre com os mesmos tons, sequências melódicas repetitivas, efeitos de voz preguiçosos em momentos de “impacto” das músicas, piores escolhas de timbre para qualquer instrumento de cordas, um péssimo gosto na mixagem de percussão… E por aí vai.
Obviamente todas essas coisas são reforçadas industrialmente, quem não sabe quantos Grammys Taylor ganhou? Quanto ela provavelmente ganhará com este novo lançamento? Quantas críticas positivas surgirão neste momento ou já foram publicadas? Uma coisa é certa: ela é a “rainha da indústria”, só não sei até que ponto isso virou sinônimo de qualidade — sempre pensei que o fordismo era um símbolo de alienação, de transformação da produção em processos maquínicos e consequentemente o completo oposto do fazer artístico.
É claro que algumas coisas mudaram e acredito que nenhuma indústria hoje é fordista por definição. Os serviços de streaming e as plataformas de distribuição de música em geral estão presentes para mostrar que a produção musical hoje é bastante abrangente, que qualquer pessoa pode lançar sua faixa, com suas referências, sua forma de produção e seu estilo único. Ninguém precisa mais seguir os modelos industriais americanos, não existe mais uma indústria musical que prende os artistas a uma distribuição específica para sempre — exceto, é claro, alguns nomes, como Taylor Swift e Jack Antonoff, que decidem continuar fazendo isso, voluntariamente. Nunca foi tão fácil dar play em um álbum, é difícil, diante de tantas possibilidades de música para ouvir hoje em dia, querer tocar THE TORTURED POETS DEPARTMENT pela segunda vez.
Selo: Republic
Formato: LP
Gênero: Pop / Synthpop