Crítica | We Fought Over The Moon


★★★☆☆
3/5

No caos giratório de temas e arranjos que mesclam diversas influências, o LP We Fought Over The Moon é uma obra que remonta os incríveis aspectos da música pop chinesa em sua fórmula mais agridoce e interessante possível. Distorções, vocais penetrantes e uma energia, que ganha força ao longo das músicas, são os principais pontos nos quais a banda Absolute Purity [绝对纯洁] se apoia para construir um disco de estreia denso e extremamente sofisticado.

Sob uma atmosfera pesada, somos introduzidos nesta experiência que promete aguçar nossos sentidos. Embora a barreira do idioma seja um fator limitante, tudo apresentado ao longo dos mais de trinta minutos parece satisfazer perfeitamente a ideia caótica transmitida logo na capa do projeto. Não há uma única descrição que seja capaz de classificar quais são os passos seguidos pelos artistas para criarem sons tão singulares e distantes de qualquer coisa que já tenhamos ouvido antes.

De cara, o que chama atenção, são os vocais da vocalista Wen Jun, doces e agudos, que parecem contrastar de maneira tão assertiva com o instrumental, ora marcado por guitarras, ora por batidas e outros sons cujo destino é desconhecido. Na faixa “Over The Moon”, encontramos o exemplo máximo disso: barulhos de concreto quebrando com a ajuda de uma máquina perfuradora e um acorde dissonante ao fundo despertam sensações das quais são imperceptíveis na primeira audição. “Absolutely Pure”, canção de abertura, é a responsável pela introdução do ouvinte aos diversos tons em que o grupo irá transitar ao longo da obra. “Celesta”, por sua vez, é um derradeiro sem igual. Marcada com fragmentos do post-punk e cantada aos berros, a música ganha vida enquanto o mundo parece desabar em sua volta. Além disso, é possível notar uma semelhança na estrutura dela com a que Björk explorou em uma de suas mais icônicas canções, “Declare Independence”, de 2007.

“Crime Fiction”, um dos maiores destaques do álbum, é exatamente a música que você procura para servir de trilha sonora de algum dos momentos mais insanos da sua vida. Produzida por Angus Andrew, vocalista da banda Liars, grande expoente do rock alternativo e avant-garde dos Estados Unidos, a canção parece incluir uma dúzia de caminhos trilhados pelos quatro integrantes em poucos minutos. Da pegada sombria que ele tenta ironizar romances policiais, indo rumo ao modo pelo qual as pessoas se relacionam diante de certas situações, a ideia proposta na letra é muito simples, dependendo apenas da interpretação do ouvinte. “Você leu aquele romance policial?”, questiona Wen Jun como se quisesse iniciar uma conversa casual no mesmo instante em que sintetizadores e uma energia dance-punk destroem o pano de fundo contraposto ao cenário expurgante durante toda a duração da faixa.

Em “I! Alarm! Alive! Alive!”, com o ritmo reduzido, os grupo discute sobre como o plano entre o subconsciente e a realidade são interligados: acordar nem sempre de fato é estar despertado. Com essa mensagem, eles entram em nossa mente e, a partir da proposta demonstrada na música, causam uma verdadeira confusão. “Hurry hurry”, comandada através de batidas rítmicas e um dedilhar de cordas impressionante, conta com um solo de guitarra extremamente energizante, responsável por abrir alas para “Turn Red”, peça que carrega uma atmosfera cheia de tensão devido ao trompete que se funde ao instrumental puramente tomado pelo rock.

We Fought Over The Moon é repleto de humor, coisa que podemos ver em “Middle Ring” e “Last Days of Louis XIV”, canções responsáveis por encerrar disco de maneira majestosa, cheia de vida e com um gostinho de que tudo ocorreu dentro do planejado. Apesar do tempo curto, esse acaba sendo um álbum verdadeiramente diferente da maioria, pois, são raras às vezes que vemos tamanha ousadia compactada em músicas curtas e devidamente profundas do ponto de vista narrativo. Cantando sobre temas que provocam reflexão, Absolute Purity consegue fazer uma das melhores estreias não apenas na música chinesa, como também, no cenário musical em um sentido geral.

Selo: Ruby Eyes Records
Formato: LP
Gênero: Rock / C-Pop
Matheus José

Graduando em Letras, 23 anos. No Aquele Tuim, faço parte das curadorias de Jazz, Música Independente, Eletrônica e Experimental.

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