Opinião | Como o comportamento de fãs nas redes sociais representa a atual indústria e seus artistas.

Imagem: reprodução / Instagram

O mainstream é rivalidade: e os fãs conseguem entregar esse circo.

Com o crescimento significativo do streaming global, alguns artistas passaram a caminhar lado a lado com as plataformas musicais para se firmarem na nova realidade da indústria musical. E um desses artistas é, claro, Taylor Swift. Mas há um problema consequente: os fãs e o seu comportamento nas redes sociais.

O mais novo projeto da cantora será lançado no dia 19 de abril e já estamos vendo algumas manifestações nas redes sociais advindas desse controle massivo, como tentar impedir os fãs de assistirem uma transmissão ao vivo de uma streamer para não perder X número de reproduções. Após o álbum Folklore, de 2020, e seu estrondoso sucesso, os swifties — fãs de Taylor Swift — passaram a ser rígidos com streams em plataformas como o Spotify.

Só que isso começou a passar de um “apoio de fã” para uma “obrigação” de forma exagerada e escandalosa. No lançamento do álbum Midnights, as reações foram extremas a ponto de alguns swifties retratarem nas redes sociais que não sairiam de casa só para tocar o álbum e conseguir o maior número de streams nas primeiras vinte e quatro horas. E isso teve um efeito.

Quando a maioria do público percebeu que passar o dia inteiro ouvindo as músicas de Taylor aumentaria o ego de seus fãs, eles começaram a tratar a americana como um “ser intocável”, a quem ninguém se compara e, se alguém tentar, receberá comentários de ódio e também servirá de estímulo para que os fãs ouçam cada vez mais o que lhes é empurrado.

Taylor Swift é uma artista da indústria, mas ela sempre tentou camuflar essa perspectiva, então até as canções que podem levar para o lado “diferente” ainda soarão comerciais e haverá muita gente pensando que está ouvindo algo revolucionário – mas não estão.

A cada passo que Taylor dá, ela sempre vai mais longe com o apoio da mídia e de seus fãs, mas isso criou uma dependência inversa de seus seguidores: eles acham que ela precisa deles, mas são eles que precisam dela. E isso atinge níveis enormes a ponto de haver confusão nas redes sociais com temas como “Qual é a música que tem a participação especial de uma avó com mais reproduções no primeiro dia?”. Fãs de outros artistas se sentem ofendidos e isso desencadeia um curso vicioso de ofensa, falsa defesa e confusão.

E então, um efeito rebanho começou a surgir. A indústria musical é óbvia, e sempre que alguém está no topo, haverá sujeitos que apenas ouvem porque é importante e não porque levam suas músicas em consideração. Alguns artistas tiveram lançamentos considerados fracassos e perderam milhares de fãs só porque não fizeram mais sucesso. E como Taylor está nesse pedestal colocado pelo público, muitas pessoas ouvem suas músicas para se sentirem incluídas na fama e têm o prazer de esfregar na cara dos fãs de outros artistas que seu cantor “favorito” recebeu uma quantidade X de prêmios.

Mas isso também afeta Swift em um ponto muito questionável e interessante de se considerar: não importa o que ela lance, seja uma música de vinte minutos ou uma música de quarenta segundos sem letra ou instrumentais, terá sucesso. Então isso pode fazer com que a cantora se torne complacente, percebendo que se ela se esforçar ou não em suas criações, seus números ainda serão significativos. Taylor Swift pode rimar algo simples e ainda fazer muita gente chorar por causa de um pequeno trecho.

Taylor consegue fazer músicas em situações comuns, então a capacidade de identificação do público é maior e cria-se uma falsa sensação de proximidade com a cantora e suas experiências. E eu diria que é uma grande habilidade escrever algo que as pessoas se sintam representadas, seja qual for a ocasião.

Nos próximos dias o ciclo se repetirá e a internet estará fervorosa com tantas comparações de reproduções, visualizações e posições nas paradas globais. Porque é isso que a indústria musical quer e alimenta. De uma forma simples, pode levar a vários aspectos não tão agradáveis e essa coisa vira um problema – que nesse caso, é enorme.
João Vitor

20 anos, nascido no interior da Bahia e graduando em Ciências da Computação. Faz parte das curadorias de Música do Leste e Sudeste Asiático no site Aquele Tuim.

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