Nada melhor que o groove japonês.
City Pop é inevitável. Também é um tanto tacanho, muito aprazível, culturalmente diverso e com raízes tão japonesas como de outros lugares do mundo. City Pop é improvável. Um gênero setentista que ganhou novos ares de popularidade graças a algoritmos do YouTube e a samples de Vaporwave e Nightcore. City Pop é a amálgama de um soft power japonês e influências do funk, do jazz, do soul, da bossa-nova, do post-punk, do disco e do pop americano.
De onde o city pop surgiu?
Com o boom econômico japonês durante a guerra fria, urgia a necessidade de um gênero pop mais adulto, que refletisse a nova vida urbana japonesa, com toques de um luxo que progressivamente tinha seu acesso facilitado a uma porcentagem maior da população. Enquanto o J-Pop propriamente dito tinha um público mais jovem, a nova leva de pop urbano funk tinha foco num demográfico ao redor dos 30 anos de idade.
"Fly-Day Chinatown", por Yasuha. A música viria a viralizar também no YouTube. |
Artistas como Mariya Takeuchi — que viria a ser uma das artistas mais rentáveis de sua época — Yellow Magic Orchestra, Taeko Ohnuki, Masayoshi Takanaka (que teve claríssimas influências do samba e da bossa-nova); que tiveram carreiras consolidadas num ramo mais maduro do pop, e que viriam a formar as múltiplas facetas do City Pop. Enquanto Takeuchi e Ohnuki tinham origem num Funk-Disco-Soul, Yellow Magic Orchestra trouxe um synth-pop jocoso com a situação japonesa e as situações individuais de seus membros.
Na década de 2010, houve uma singela ressurgência da popularidade do gênero graças ao chamado Youtubecore, videos recomendados pelo algoritmo do site, e que são comuns entre vários usuários, principalmente com “Plastic Love” (1984) de Mariya Takeuchi e “Mayonaka no Door (Stay With Me)” (1979) de Miki Matsubara — que também viria a viralizar no aplicativo TikTok. City Pop se consolidou também como égide de Vaporwave, com samples frequentes e paradoxalmente uma atmosfera sentimental de nostalgia com uma época não vivida.
No fim, o gênero é de uma miríade de sonoridades, e por isso, é difícil dizer precisamente o que o City Pop é. A situação econômica e social japonesas são a explicação mais fácil para o surgimento de um pop mais maduro e voltado para gêneros norte americanos, a fim de angariar um público mais velho e mais acostumado com vertentes do disco e do próprio pop-rock americano.
Como o City Pop soa?
O axioma do City Pop é sua sonoridade groove. Seus arranjamentos tem um quê do funk norte-americano e com frequência possuem vocais de fundo como num coro. Temas como desilusões amorosas e letras com um tom quase brega são frequentes juntamente a um refrão com algumas palavras em inglês . City Pop também é datado: seu som é característico de um pop anos 80 e são raríssimas as exceções mais experimentais. Seus ritmos são trazidos do disco, e apresentam uma linha de baixo marcante e dançante, quase num quê da segunda leva do soul estadunidense.
Indicações:
Seychelles
Masayoshi Takanaka
Masayoshi Takanaka tem influências latinas por todo o decorrer de sua carreira, com vocais em espanhol e sua característica guitarra funk infectante. Um exemplo de álbum majoritariamente instrumental.
Formato: LP
Ano: 1976
Mignonne
Taeko Ohnuki
Com um arranjo jazz-fusion, Ohnuki canta sobre desilusões em cima de coros e guitarras. “4:00AM” é certamente um dos marcos do City Pop.
Formato: LP
Ano: 1978
"Plastic Love"
Mariya Takeuchi
O marco do City Pop. Não existe exemplo melhor dos meandros do gênero e de seus focos do que Plastic Love. Deliciosamente hedonista e melancólica, a faixa se completa por instrumentais groove ao máximo.
Formato: Single
Ano: 1984
"Communication"
Junko
Brilhante no sentido de brilhar. Excessivamente synth e funk, com uma melancolia própria de Junko. Uma pérola tardia do gênero.
Formato: Single
Ano: 1985
Cologne
Kaoru Akimoto
Kaoru Akimoto explora sintetizadores em conjunto com seu timbre doce e baixos contagiantes. Com arranjos orquestrais e baterias ecoadas, e um toque folclórico japonês.
Formato: LP
Ano: 1986