Crítica | Amaríssima


★★★★

Em Amaríssima, Melly apresenta as diferentes fases do amor entre duas mulheres ao mesmo tempo em que estabelece sua nova — e própria — fórmula para o pop e R&B brasileiro.

Melly, cuja presença na cena musical é bastante recente, começou sua carreira com a música “My Love” e continuou por seis anos com faixas soltas e participações em trabalhos de artistas conhecidos da música brasileira, como Russo Passopusso e Saulo. Nesta terça-feira (28), ela lançou seu álbum de estreia, Amaríssima, que aborda a história de Melly em um relacionamento com outra mulher, retirando camada por camada o início, meio e fim de uma relação.

O álbum tem uma produção interessante, que mistura sons como o pagodão baiano com o R&B, além de posicionar algumas aplicações estéticas do afrobeats (“Bandida”), o que me deixa surpreso, afinal a forma como gêneros distantes de período e estudo conseguem se harmonizar entre si é bastante efetiva e de fato impressionante, saldo positivo para a equipe de quatro produtores incluindo a própria Melly. A obra começa com batidas acentuadas que convergem ao lado do R&B em “Falar De Amor”, em que Melly nos apresenta o início desse relacionamento, ainda que pós-término, falando sobre a saudade com um toque de sensualidade e suavidade, fatores que fazem o vocal da artista se destacar em dobro. Já um dos maiores destaques do disco, a faixa “Paraíso”, aborda a conexão entre o amor e a pessoa amada, com sintetizadores que mudam para um pagodão baiano que traz um toque único se comparado a outras peças do R&B nacional.

O R&B mais convencional também está inserido no álbum, mas com participações de grandes nomes da música brasileira já falados anteriormente. “10 minutos” é uma faixa com participação da Liniker, que rouba cena com seus vocais que preenchem os ouvidos. A estrutura da música é simples, sem inovações pro gênero, o diferencial são toques finais de instrumentos de corda. “Rio Vermelho” flerta com a MPB, uma faixa mais praiana, mas que no conjunto geral, acaba quebrando um pouco o ritmo. A construção de narrativa é bem amarrada, não possuindo faixas que apenas preenchem espaços vazios, cada uma possui uma importância e uma fase do relacionamento de Melly com sua amada. A música extra: um poema com minha letra (gaveta)”, é uma resolução final de toda a perda no término — o último rascunho para fechar o ciclo entre ambas.

Amaríssima é excelente na fórmula e no conteúdo, expõe uma certa coesão ao mesmo tempo que exala originalidade. Melly, sendo uma pequena artista, conseguiu trazer o que poucos artistas notáveis no Brasil conseguiram. Ela parte de uma sinceridade única, um sentimentalismo inato e uma completa integração no processo criativo da obra que se expande pela relação respeitosa com sua artisticidade.

Selo: SLAP
Formato: LP
Gênero: R&B / Pop, Afrobeats, Música Brasileira
Lucas Melo

Estudante de jornalismo, 18 anos. Amante da música e da cultura pop desde da infância. É crítico do Aquele Tuim, em que faço parte da curadorias de R&B e Soul.

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