Crítica | FEARLESS


★★★☆☆
3/5

Não é difícil entender que o k-pop é baseado em competição. Ao olharmos para o passado, precisamente nos anos 90, vemos que as disputas entre as empresas foram essenciais e serviram como o principal fator de mudanças neste mercado. A rivalidade dentro da Coreia do Sul fomentava a popularidade dos idols em seu próprio país. Desse modo, assim que uma grande agência lançava algum grupo, as outras corriam para também lançar os seus, do modo que aconteceu quando a SM Entertainment debutou o S.E.S e a DSP, como resposta, o Fin.K.L, dois dos principais girl groups da história. Atualmente, o k-pop passa por uma fase muito importante e a estreia do LE SSERAFIM nos mostra o porquê.

Após o sucesso colossal do BTS, a HYBE, antiga Big Hit, começou a apostar em novos grupos. Entretanto, pelo fato da companhia ter se estabelecido meio tarde, sobrou apenas a quarta e atual geração para eles fazerem isso. A partir daí, vemos surgir alguns nomes bem populares, sendo eles o Enhypen e TOMORROW X TOGETHER, dois grandes exemplos sobre a forma em que esses grupos têm se tornado cada vez mais indiferentes na Coreia. A HYBE, diferente da SM, YG ou JYP, foi fundada com a intenção de fazer artistas alinhados ao que o BTS fez no cenário global, então, fica fácil observar quais os métodos deles que são utilizados em seus trainees. Musicalmente, seus artistas são mais distantes do que estamos acostumados a ouvir de outros atos no k-pop: nada muito complexo e conceitos variados que se assemelham muito bem ao pop ocidental, sendo em sua grande maioria, lançamentos menos estranhos para o público que não está familiarizado com a ferocidade de sons barulhentos que dominam a música sul-coreana atualmente.

FEARLESS, primeiro disco do LE SSERAFIM, composto por Garam, Eunchae, Kazuha, Yunjin, Sakura e Chaewon — as duas últimas ambas ex-IZ*ONE —, é exatamente o que podemos esperar de um grupo da HYBE, exceto pelo mau-uso do autotune, como fez o TXT. Aqui, não há complexidade alguma nas 5 peças que compõem a obra. A faixa-título, por exemplo, passa longe de ser ruim, mas deixa a desejar devido o tom ameno que a canção desempenha em seus seguintes minutos de execução. Infelizmente, mesmo tentando ir além do esperado, a faixa não dispõe de nenhuma substância atrativa, soa limpa, plana e extremamente calculada.

E por se tratar de competição, podemos pontuar que o EP todo não surge da mesma maneira tremendamente revolucionária tipo quando o aespa estreou ano passado. “Blue Fame”confirma as convicções que tínhamos sobre a fórmula usada pela HYBE, aqui, o som retrô aparece ajustado aos parâmetros que BTS usa para fisgar o máximo de gente o possível, entretanto, nas vozes do LE SSERAFIM. A temática acessível se repete em “The great mermaid”, porém, a canção acaba soando mais agressiva e próxima do que realmente era esperado vir do grupo quando as primeiras imagens promocionais foram divulgadas. “Sour Grapes”, é fofa e encerra a obra de um jeito adequado, com batidas e vocais aveludados, parecendo algo que o Red Velvet lançaria uns 3 anos atrás.

No geral, FEARLESS não é uma estreia tão ruim como demonstra os charts sul-coreanos em que a faixa-título pouco obteve destaque, o restante da obra, mesmo dentro da linearidade da HYBE, consegue soar refrescante e, até mesmo, bem executado. Infelizmente, para fins de competição, uma necessidade intrínseca do k-pop, LE SSERAFIM surge de maneira pouco interessante. Por ser o primeiro ato feminino de uma companhia gigantesca, era esperado que tudo feito por elas aqui, causasse um impacto extraordinário, mas não é isso que acontece. A impressão que dá, é que a HYBE não quer mostrar que os seus grupos são diferentes dos grupos das outras empresas, mas sim, que eles são diferentes do k-pop.

Selo: HYBE
Formato: EP
Gênero: Música do Leste e Sudeste Asiático / K-Pop
Matheus José

Graduando em Letras, 23 anos. É editor sênior do Aquele Tuim, em que integra as curadorias de Funk, Jazz, Música Independente, Eletrônica e Experimental.

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