Crítica | Neon Pill


★★★☆☆
3/5

Quando paramos para pensar no auge do indie rock, é impossível não o relacionar ao Cage The Elephant, banda que, no início da carreira, obteve grandes êxitos com "Ain’t No Rest For The Wicked" e "Back Against The Wall" do primeiro álbum, Cage The Elephant, de 2008, ou até mesmo com "Cigarette Daydreams", "Come A Little Closer" e "Telescope", de Melophobia, de 2013. Após um breve ressurgimento com Tell Me I’m Pretty em 2015, eles se aprofundaram numa melancolia sem fim com Social Cues, de 2019, um disco totalmente obscuro e sem esperança, refletindo as perdas que sofreram. Agora, Neon Pill é mais um desgaste disso tudo. É uma luz no fim do túnel, mas sem luz, apenas um túnel que te leva até o fim, onde você não pode esperar que tudo isso acabe de vez — e o mais estressante é que não acaba.

É importante destacar, porém, o quão interessante é observar a tentativa incessante da banda em corrigir alguns erros passados, embora tudo fique difícil quando olhamos para trás. O álbum inicia com "HiFi (True Light)", que emerge como uma poderosa expressão das lutas internas e da sensação de desorientação. Nisso, ao tentar resgatar as raízes do Cage The Elephant, a música ecoa o constante questionamento sobre as escolhas e a busca por um propósito, enquanto reforça o alto custo emocional dessa jornada. Em contrapartida, "Rainbow", mergulha ainda mais a fundo nesse turbilhão emocional, em que encontrar algo bom no final do arco-íris parece exigir um preço demasiadamente alto, destacando a constante batalha contra a incerteza e a desilusão.

Em 2022, Matt Shultz se expôs alguns de seus problemas em relação a saúde mental, revelando que sua condição se agravou devido a uma resposta iatrogênica a um medicamento prescrito; essa batalha interna se manifesta de maneira visceral em suas composições, especialmente em "Neon Pill" e "Out Loud". Na primeira, a metáfora da “pílula de néon” simboliza a perda de controle e a fuga da realidade por meio de substâncias, acentuando a persistente desilusão. "Out Loud", por conseguinte, destaca a busca desesperada por clareza e apoio diante do caos circundante. Enquanto que em "Float Into The Sky", a sensação de aprisionamento é palpável, ao passo que Shultz clama por libertação e compreensão em meio à exaustão de tentar decifrar o turbilhão de coisas ao seu redor.

Por outro lado, "Metaverso" reflete a desconexão com a realidade, caracterizando-se por uma falta de personalidade e um peso opressivo. "Ball and Chain" é um grito em busca da mudança, e "Good Time" surge como uma fuga momentânea dessa narrativa, capturando os momentos de euforia após uma longa noite de festa. No entanto, é em "Shy Eyes" que encontramos um vislumbre de transformação e renovação, em que o enfrentamento de incertezas com esperança urge um novo começo.

"Silent Picture" retrata o desespero de afundar silenciosamente, e "Same" mergulha em emoções intensas e cuidadosas. Por fim, "Over Your Shoulder" encerra todo esse ciclo, deixando para trás preocupações e abraçando o futuro com a certeza de que os desafios da vida são passageiros, enfatizando a importância de seguir em frente sem se prender ao passado. O que presenciamos aqui parece ser uma repetição de momentos que já presenciamos em todos esses anos da banda. Embora Neon Pill mantenha as raízes do rock alternativo, que é a essência de Cage The Elephant, a abordagem e a narrativa que constroem carecem de persuasão, resultando em um apelo vazio.

Selo: RCA
Formato: LP
Gênero: Rock / Pop rock
Brinatti

Cientista Social com ênfase em Antropologia e Sociologia, 27 anos. É redator e repórter no Aquele Tuim, participando das curadorias de Funk e Pop.

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