Crítica | What A Devastating Turn of Events



★★★☆☆
3/5

O nome de Rachel Chinouriri começou a circular nos cantos da internet em 2022, quando duas de suas músicas viralizaram no TikTok. As agridoces “All I Ever Asked” e “So My Darling (Acoustic)” conquistaram o público que ainda não conhecia o seu trabalho. Àquela altura, ela já havia lançado três EPs, cada um deles com uma proposta diferente: Mama’s Boy, de 2019, flertava com o neo-soul, enquanto Four° In Winter (2021) unia o R&B alternativo ao art-pop — esse talvez seja o mais interessante de todos. Já Better Off Without (2022), é caracterizado por um indie-pop intimista, simples e, ao mesmo tempo, cativante, foi o que rendeu mais frutos à cantora.

O elo comum entre eles, no entanto, sempre foi a habilidade de Rachel em escrever canções pop com caráter, e isso se estendeu até o seu disco de estreia, lançado neste ano. What A Devastating Turn of Events conta com as duas faixas virais, mas vai além delas. Fortemente influenciado pelo pop-rock do início do século, o disco habita em um espaço similar ao explorado por Olivia Rodrigo e WILLOW em seus trabalhos mais recentes, porém com um toque britânico. Apesar disso, são poucos os momentos que se destacam sonoramente, muito por conta da produção previsível e amontoada, com guitarras hiper-saturadas e timbres bastante genéricos.

Por outro lado, o êxito de What A Devastating Turn of Events reside na composição. A abordagem de Rachel não foge muito do que se espera de um disco pop, mas ela utiliza essa generalidade para gerar uma conexão de maneira inteligente. A faixa título, por exemplo, narra o desfecho trágico de um relacionamento, mas também serve como uma grande alegoria para o amadurecimento e a perda da inocência, dois temas que percorrem todo o registro. “What a devastating loss we didn’t choose / She’s in me and she’s in you”, ela canta no último refrão — essa virada de chave é genial porque parte de uma história pessoal e específica para revelar algo que todos nós vivenciamos em algum momento.

What A Devastating Turn of Events é inconsistente, mas faixas como a melancólica “The Hills” e a irônica “It Is What It Is”, que possui um tom cômico remanescente do primeiro disco de Lily Allen, atestam o talento de Rachel Chinouriri enquanto compositora pop. Embora o registro funcione como mais uma exposição de versatilidade, fica a impressão de que a cantora ainda não encontrou seu lugar no meio de tudo isso. Mas o potencial está lá, como sempre esteve.

Selo: Parlophone
Formato: LP
Gênero: Pop / Pop Rock, Bedroom Pop
Marcelo Henrique

Graduando em Matemática Computacional pela UFMG e editor do Aquele Tuim, em que faz parte das curadorias de Pop e R&B e Soul.

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