Revisando Discografias: Janet Jackson


Em comemoração ao seu aniversário de 58 anos, ouvimos e avaliamos todos os álbuns de estúdio lançados por Janet Jackson.

Quando se trata de influência na música e indústria fonográfica contemporânea, Janet Jackson não pode ser ignorada. Nascida em 16 de maio de 1966, ela carrega, consigo, um dos últimos grandes legados em termos de cultura pop e excelência na música mainstream. Ela é imagem, face e voz para liberdade feminina, sexualidade e a expressão em uma superestrela do que é ser uma mulher negra — recebendo, inclusive, o título de verdadeira Rainha do Pop por grande parte da comunidade preta estadunidense. O trabalho de Janet Jackson, principalmente dos anos 90, se tornou peça fundamental do R&B alternativo, sua expressão na dança, nos videoclipes e na moda moldaram o que a gente conhece sobre o que é ser um artista pop e ela é a inspiração principal de muitos nomes que vieram depois dela, de Britney Spears, Aaliyah a Frank Ocean. No Brasil, ela não teve a projeção merecida como em outras partes do mundo, sendo conhecida principalmente como a irmã do Michael Jackson, mas esse panorama tem mudado e mais pessoas estão conhecendo a sua grandeza, e essa publicação também se propõe a esse papel. Confira, portanto, a nossa análise conjunta da discografia de Janet Jackson:




Janet Jackson
1982

★★☆☆☆

O debut e primeiro disco da “era pré-histórica” de Janet Jackson é um auto-intitulado, mas pouco diz sobre a artista. Ele é demarcado pela relação conflitante entre a carreira de atuação — que, na época, era o meio em que Janet era famosa —, a busca pela independência artística e a incapacidade de se guiar sozinha ainda neste estágio inicial — ora, não sejamos injustos, ela, uma membra da família real do soul, tinha apenas 16 anos quando foi inserida no ambiente altamente machista que a indústria fonográfica é. E foi assim que, restringida totalmente pelo mercado, seu primeiro álbum teve o mais óbvio resultado: um gigante bolo de nada.

Janet opera somente como intérprete/cantora nas faixas, que contém tanto a produção quanto a composição encabeçadas por completo por seu pai e seus funcionários. Como já disse: “Era um álbum dos meus produtores, não meu”. Mas, mesmo assim, a artista não nega completamente o álbum, principalmente por reconhecer seu esforço de se libertar das amarras que a limitavam tanto durante as gravações quanto nas aparições públicas — embora esse desejo só fosse ser concretizado no seu terceiro álbum de estúdio.

Assim, o produto não poderia ser outro, era um pastiche (quase uma coletânea) mole e cinzento-amarelado de “bubblegum soul” — a clássica mistura de bubblegum pop com os estilos de r&b tendência da época, característico da família Jackson —, boogie e synth funk, falhando em apresentar qualquer espécie de mérito simbólico, artístico ou decentemente pop. É desinteressante, mas poderia ser pior. — Sophi




Dream Street
1984

★☆☆☆☆

E foi pior! Mais que desinteressante, Dream Street, nos seus piores momentos, é profundamente irritante. Igualmente robotizado, automático e genérico que seu antecessor, o segundo álbum da “era pré-histórica” de Janet Jackson representa a total submissão à indústria — o que não significa que ela desejasse isso — e a concentração máxima da mercantilização da música pop naquela época.

O álbum é tão fraco que nem ir bem nos charts de r&b ele foi, ao contrário de seu debut que ao menos isso acertou. Foca mais numa sonoridade pré-new jack swing, uma fusão da tendência corporal e agitada da música disco com uma filosofia mais eletrizante e baterias mais contundentes, mas sem ser disco nem new jack swing; é um limbo muitíssimo incomodativo. Os sintetizadores estridentes agonizam os ouvidos tão intensamente que pode até dar dor de cabeça. Não obstante, a mixagem da maioria das faixas torna todas as tracks — bateria, voz, baixo, sintetizadores e etc. — altíssimas e com uma compressão enjoativa, de forma a espantar qualquer um corajoso o suficiente para ousar escutar este disco.

Contudo, esses dois discos são, como caracterizei-os, pré-históricos: não representam em nada a arte da Janet e não têm relevância alguma para nenhum demográfico. Fãs da Janet, fãs da família Jackson, fãs de pós-disco/início do dance-pop, loucos (ou reacionários) fãs dos anos 80, nerds de música… ninguém se importa com Janet Jackson e Dream Street; claro, são ruins. Mas mais que isso, eles não são álbuns da Janet Jackson, e sim clones das tendências do mercado; álbuns de Joe Jackson. A única utilidade deles é destacar o quão gigante, revolucionário e chocante o seu verdadeiro e histórico debut é: Control. — Sophi




Control
1986

★★★★★

Persuadida pela avidez de independência e de expressão própria, Janet Jackson conseguiu, com apenas 19 anos, projetar uma quase ressurreição artística com o seu terceiro disco de estúdio. Ela havia acabado de anular seu casamento com James Debarge e estava disposta a se desvencilhar totalmente das canções formulaicas sem alma e da família Jackson em sua carreira musical — o que tornou a concepção de Control possível, mas ele, em si, vai para além desse fragmento temporal, se tornando uma peça-chave na formação do que se entende por música e cultura pop.

Aqui, o controle é título, tema e argumento, em que suas diferentes facetas compõem as narrativas líricas de um conjunto compacto e bem amarrado de nove faixas. Enquanto “Nasty”, um dos grandes hinos da cantora, se impõe de maneira mais astuta e cheia de atitude, “Funny How Time Flies (When You’re Having Fun)” é uma amostra da sensualidade aguçada que veríamos aflorar com intensidade em trabalhos posteriores. Control é, também, o marco um e a vanguarda máxima do new jack swing. Embora já houvesse experimentações do ano anterior, é a produção conjunta de Janet com Jimmy Jam e Terry Lewis que sedimenta a mistura da música pop feita por artistas negros com hip-hop, funk e R&B contemporâneo enquanto gênero musical.

Com sete singles e sucesso comercial implacável, é aqui que vemos Janet desabrochar de verdade. É um álbum provocativo o suficiente ao ponto de não apenas causar uma revolução no seu próprio senso artístico, como prototipar todas as suas características mais louváveis, que passam pelas coreografias e dance breaks elaborados e chega nos discos conceituais que tratam abertamente sobre temas sociais de urgência, principalmente para mulheres negras. Janet Jackson é uma das artistas fundamentais da música pop, e Control é o passo inicial dessa trajetória. — Felipe




Rhythm Nation 1814
1989

★★★★★

Quando Janet Jackson lançou seu terceiro álbum, Control, ela iniciou uma das mais belas e épicas sequências que uma discografia pode ter. Rhythm Nation, entretanto, tem um papel crucial no meio desta sequência, sendo o mais elaborado, melhor produzido, mixado e principalmente, o mais político.

Talvez o leitor não tenha a dimensão da força de uma mulher negra, no final dos anos 80, debatendo tópicos políticos, racismo, pobreza, vulnerabilidades sociais e até mesmo school shootings. Muito além, Janet equilibra o tom e divide o álbum entre protestos contra o establishment estadunidense e uma digna experimentação entre Pop, R&B, Industrial Pop e New Jack Swing. Os sons industriais são a marca registrada do álbum, e que ganham um excelente destaque nas longas introduções das músicas se misturando com a estrutura do New Jack Swing.

Pessoalmente, Rhythm Nation não só é o melhor álbum de Janet Jackson, como o álbum mais bem executado, composto, escrito e produzido, dentro de uma proposta, que já tive o prazer de ouvir. Se posso ser bastante ousado, diria que o responsável por inventar o R&B que conhecemos hoje, foi o Rhythm Nation. E se posso ousar mais um vez, diria que nenhum álbum consegue ser tão colossal e sincero como o Rhythm Nation, ele é a Janet Jackson, a Janet Jackson é ele. Janet. — João Lucas




janet.
1993

★★★★★

Ao se afastar dos tons industriais que fizeram de Control e Rhythm Nation 1814 duas peças revolucionárias para o new jack swing, Janet se reinventava novamente em seu primeiro disco dos anos 1990. Estilizado como janet. (lê-se “Janet, ponto”), o material, que apostava numa sonoridade mais orgânica, vinha com a proposta de dissociar a imagem da cantora de sua família, omitindo o sobrenome Jackson e reposicionando os recortes de sua narrativa em canções que tratavam da intimidade e do prazer sexual, principalmente no que dizem respeito à experiência feminina.

Não foi à toa que o trabalho transformou Janet em um dos grandes sex symbols da época, mas também em um modelo para mulheres que, assim como ela, queriam se sentir livres para discutir sua sexualidade como bem entendiam. “New Agenda”, por exemplo, mostra que o registro não se restringe apenas à exploração da sensualidade, embora faixas como “That’s The Way Love Goes”, “If”, “Throb” e “Any Time, Any Place” trabalhem com esse conceito de forma exemplar. Há, nas entrelinhas, a colocação da figura feminina como agente de um movimento social que dialoga, essencialmente, com a liberdade e com a autonomia.

janet. pode não ser a obra prima de Janet Jackson, tampouco é seu melhor álbum pré-Velvet Rope, mas é difícil imaginar que ela chegaria lá sem ele. Ela conquistou a independência com o Control e se tornou uma potência com o Rhythm Nation 1814, mas foi aqui que a caçula dos Jacksons encontrou força para comunicar seus desejos, seus prazeres e suas ambições, e isso é grandioso por si só. — Marcelo Henrique




The Velvet Rope
1997

★★★★★

Enquanto anacrônico é o sobrenome de The Velvet Rope, inspirador é o seu nome oficial. Sua leveza em tratar de temas como diversidade e o autoconhecimento é, de certo modo, gratificante de ser ouvido. Toda a força de Janet Jackson enquanto artista é demonstrada nos pontos mais necessários, em tempos que perguntas difíceis precisavam de respostas, e esse álbum não hesitava em respondê-las.

As abordagens se concretizaram em atemporalidade, em canções liricamente tristes combinadas em sonoridade empolgante como “Together Again”, ou até mesmo a liberdade sexual em “Free Xone”, que iam totalmente contra o espírito lírico daquela época.

Janet se mostrou vulnerável e inteligente no contexto completo do álbum, suas interludes se conectam perfeitamente na construção do disco e se mantém coerente de início ao fim. Clássico, harmônico e sexual são as peças chaves fundamentais para descrever esse disco da maneira mais positivada delas. — Peterson Prado




All for You
2001

★★★☆☆

Criticado injustamente, All For You é o puro escoamento de força que um artista, depois do seu auge, precisa fazer para acalmar os nervos tanto de seus fãs quanto de quem o vê pela perspectiva de um ato infalível. Janet havia, em seus projetos anteriores, criado uma espécie de manifestação pessoal baseada no R&B e com métodos próprios de new jack swing.

All For You, é a sua busca por uma nova exploração, desta vez, contida nesta necessidade de desacelerar. Contudo, essa intenção não foi concretizada genuína ou completamente graças à manutenção de um aspecto mastodôntico de produção e criação — aqui, persuadido pela sensualidade que viria a ganhar forma em Damita Jo.

São momentos que vão da estranheza pop (“You Ain't Right” e “Come On Get Up”) ao astuto conforto sensual (“Love Scene (Ooh Baby)” e “Would You Mind”) que destacam não só o interesse da artista por buscar uma certa reafirmação pela cautelaridade, mas também para provar seu valor após três álbuns de sucesso em todos os níveis possíveis do mercado americano, porém, fortemente ajustada à superficialidade boa e envolvente da época. — Matheus José




Damita Jo
2004

★★★★☆

Oitavo álbum de estúdio de Janet Jackson e, possivelmente, seu melhor trabalho pós-Velvet Rope, Damita Jo é também um de seus títulos mais subestimados. Afetado pela repercussão negativa do incidente sofrido pela cantora em uma performance no Super Bowl, o disco obteve desempenho e prestígio muito aquém do que de fato merecia.

Produzido por nomes como Jimmy Jam, Kanye West, Terry Lewis e pela própria Janet Jackson, Damita Jo é uma fusão muito competente do R&B bastante característico da década de 2000 com a música dance. O material vai da sensualidade de lançamentos anteriores da artista à irreverência das pistas de dança. É um corpo de trabalho que, portanto, explora o que Janet tem a oferecer de melhor enquanto estrela pop, ainda que não seja necessariamente considerado um clássico de sua discografia.

Apesar da escolha equivocada do lead single, “Just A Little While”, que não se conecta com o restante da lista de faixas, o álbum tem várias das melhores músicas de Janet Jackson neste século. É o caso de “Sexhibition”, “Island Life”, “R&B Junkie” e “SloLove”. Damita Jo, além de uma peça injustamente esquecida dentro da extensa discografia de Janet, é certamente uma das mais divertidas. — Lucas Souza




20 Y.O.
2006

★★★☆☆

O título do álbum faz referência a seu incrível disco “Control” lançado em 1986, celebrando o vigésimo aniversário do álbum. Em 20 Y.O, Janet esbanja sensualidade por meio de batidas e R&B totalmente voltados no estilo dos anos 2000.

Entretanto, por mais que a ideia de homenagear um de seus trabalhos mais interessantes, Janet acabou decepcionando por entregar um álbum que não chega aos pés de “Control”. Por mais que tenha algumas canções cativantes, como “Call on Me” e “Enjoy” , a maioria de suas faixas não empolgam e não tem autenticidade como outros projetos de Janet.

Em geral, embora o álbum seja um tanto datado e pouco inovador, pode encontrar seu público entre os saudosistas da sonoridade dos anos 2000. Ainda assim, mesmo com suas falhas, não se pode ignorar a presença marcante dos vocais e a assinatura única de Jackson, que adicionam um brilho familiar a cada faixa, proporcionando uma experiência auditiva reconfortante para os fãs mais dedicados. — Vit




Discipline
2008

★★★☆☆

Seria Discipline, de Janet Jackson, uma playlist empolgante, um retorno triunfal ou um sinal de decadência? Ora, vejo o décimo álbum de Janet como o resultado de uma carreira e história de vida complexa.

O primeiro destaque que faço é o seguinte, embora não seja um álbum marcante, Discipline quebra uma sequência de álbuns mornos e se destaca frente a lançamentos de outras divas na mesma época. A chave para entendê-lo, é apreciar as fórmulas dos grandes sucessos da Janet que foram recicladas e adaptadas para a proposta do Discipline, trazendo músicas eletrônicas bem produzidas e mixadas. Embora seja o grande destaque do álbum, também é seu maior defeito.

Explico, na tentativa de retomar as aplicações feitas em seus grandes sucessos, Janet acaba por se perder dentro da história que ela constroi no álbum. Alguns trechos soam imaturos e dignos de uma trama de ensino médio. A produção madura e noturna se perde junto a narrativa e problemas juvenis que algumas letras e interludes exalam, gerando momentos conflitantes. Onde está a mulher que, no auge dos seus 20 anos, já abordava temas sérios da sociedade e da sexualidade feminina? Provavelmente, se perdeu em suas frustrações e nas polêmicas que foi acometida.

Reforço, entretanto, que Discipline não é um álbum ruim. Possui momentos divertidos e acertados. A maior contribuição do álbum é atualizar as músicas eletrônicas na discografia da Janet, sendo, apesar dos problemas mencionados, o álbum mais noturno da cantora. No final, Discipline, assim como a carreira de Janet Jackson, é feito de erros e acertos. — João Lucas




Unbreakable
2015

★★★☆☆

Unbreakable marca o retorno de Janet Jackson após um hiato de sete anos, apresentando uma mistura de sonoridades de R&B, dance-pop, soul e música eletrônica. O álbum mantém a assinatura clássica da artista enquanto explora novos territórios. Entre os produtores do trabalho estão Jimmy Jam e Terry Lewis, a dupla que trouxe Janet ao estrelato na década de 1980.

Neste último trabalho, Jackson aborda suas experiências pessoais ao longo da vida e dedica a emocionante "Broken Hearts Heal" ao seu irmão, Michael Jackson. Como de costume, Janet também aborda temas empoderadores em outras faixas do disco.

Embora seja um álbum bem produzido e com temas tocantes, a maioria das faixas soam repetitivas e pouco memoráveis, sendo ofuscado por grandes obras anteriores da cantora. Apesar de coeso, não possui o mesmo impacto e inovação de seus trabalhos do final dos anos 1980 e de toda a década de 1990. — Vit

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