Uma visão geral dos projetos que se destacaram na região Nordeste em 2024 até agora. Com Hermeto Pascoal, Manu Trovão, Tormentosa Tez, Tela Azzu, Gracinha e mais!
Alagoas
Pra você, Ilza
Hermeto Pascoal
O álbum, composto por 13 faixas, dissipa a doçura pela nostalgia, com o saxofone vociferando a paixão e o piano guiando a memória. É um dos raros casos em que o sentimento está intrinsecamente ligado ao fazer, e é por isso que cada uma das composições aqui soa justa e adequada ao seu autor, que vai “Do Rio Para Recife”, dos “Seus lindos olhos” ao “No topo do morro de Aracajú”. — Matheus José
É muito fácil se perder nos espaços sonoros, esverdeados e urbanos de Memórias Não-Recicláveis, da mesma forma que é facílimo exercitar a imaginação durante seus 50 minutos de duração e se impressionar com algumas decisões ousadas, mas sutis, dentro de faixas já pouco ortodoxas. Músicas como “A Mulher do Amanhã” exibem a liberdade e vontade intensa de quebrar os moldes do que virou sinônimo de ultrapassado no rap brasileiro, e são as vias em direção à espiritualidade das ruas de Salvador que fazem o projeto se concretizar como um dos lançamentos mais fascinantes deste ano. — Sophi
Ceará
JAHZZ
Tormentosa Tez
Tormentosa Tez tece uma cartografia sonora nos guiando por sua delicada criação de cenários que é a representação de seu corpo dentro do espaço no brilhante trabalho JAHZZ. Nos acordes delicados e barulhos ferozes, manifestam-se paisagens exóticas e uma interessante narrativa que momentaneamente ao diluir-se na retaguarda de robustas linhas de produção, e também se maximizando na agressão do som, permite que ruído, maleabilidade e corpo tornem-se uma só matéria. — Joe Luna
TRANSNACIONAL é uma aventura eletrizante dentro do universo do funk, centrado primariamente no mandelão, o registro passa por diversas outras vertentes, justa posicionando-as de forma a construir a experiência hipnótica de baile-funk que marca esse projeto. A introdução, por exemplo, em poucos segundos te leva do miami-bass sedutor para os eletrônicos agressivos do beat bruxaria, enquanto em seguida, a obra apresenta o melhor do mega funk e “botano Y socano” é a abordagem fantasticamente divertida da mescla do funk com o pop eletrônico dos anos 2000. — Davi Bittencourt
Paraíba
Baleia Explode
Tela Azzu
Baleia Explode revela um dos nomes mais promissores do rock brasileiro da atualidade ao revirar os clichês do rock progressivo do avesso. Durante o álbum, o talentosíssimo vocalista canta como um cervo em constante perigo, reunindo todos os apetrechos vocais do jazz-rock, do soul psicodélico, do prog e até do reggae em suas trilhas vocais. Uma explosão catártica de uma criatividade sem limites, um monumento que se ergue sozinho, um cardume de aquarelas vivazes; Baleia Explode é tudo que um álbum de estreia deveria ser. — Sophi
Pernambuco
Sessões Selo Sesc #12: Devotos
Devotos
A banda Devotos, originária de Pernambuco, lançou seu primeiro álbum em 2000, chamado “Devotos do Ódio”. Este álbum, repleto de críticas sociais, expressa a repulsa dos integrantes em relação às injustiças. Em 2024, durante uma amostra no Sesc, a banda decidiu regravar o álbum, agora denominado “Devotos”. Nesta nova versão, foram inseridas músicas como “O Herói”, que critica a politicagem no Brasil de forma escancarada, e “Luta Pacifista”, na qual a banda defende a luta pelos direitos nas ruas e critica firmemente o armamento promovido pelos políticos de direita no país. Faixas como “Vida de Ferreiro” e “Caso de Amor e Ódio” foram preservadas na regravação, e é notável como a evolução da banda é evidente nessas músicas. Cada aspecto parece se encaixar melhor, demonstrando um maior conforto dos integrantes com as faixas. O álbum Devotos continua a ser um reflexo do povo, tocando na essência da população necessitada. — Alícia Cavalcante
Piauí
Domínio das Emoções
Estação Imaginária
Muitos artistas na atualidade utilizam essa grande fonte de inspiração que é o mundo tangível, fazendo com que nas trocas entre os múltiplos e diferentes espaços que permeiam esse mundo, haja a frutificação de trabalhos como Domínio das Emoções, que ao estruturar um catálogo de referências da cultura nacional e inspirações da nova musicalidade moderna, permite adicionar novos ingredientes a música popular brasileira — o que chamamos hoje de Pós-MPB. — Joe Luna
Rio Grande do Norte
Corpo Celeste
Gracinha
Quando consumir é a regra, é muito estranho estabelecermos uma relação tão particular com a música ao ponto de senti-la. Corpo Celeste é um álbum que desperta o sentir da música. O olho fechado, os pelos arrepiados e a hipnose total. No trabalho nos perdemos e nos encontramos na mente de Isabela Graça, às vezes em devaneios. Já os sintetizadores de Tinoc soam como um feitiço que coloca o ouvinte em transe. Corpo Celeste é magia, é sentimento, e principalmente, é música potiguar. — João Lucas
Sergipe
Beleza tem Cura
El Presidente
O grupo de Aracaju, El Presidente, lançou no início deste ano seu primeiro álbum de estúdio, Beleza Tem Cura, explorando o rock psicodélico e a música ambiente. O álbum é marcado por distorções, ecos e efeitos sonoros alucinógenos. Com Benke Ferraz, integrante do Boogarins, envolvido, as canções possuem uma fluidez instrumental que desencadeia o experimentalismo. Além disso, o álbum confronta o medo e suas consequências, explorando a dificuldade do esquecimento e o impacto do medo que destrói a alegria; entre a confusão, a saudade e as ilusões da vida moderna, há uma sensação de vazio emocional construída de maneira orgânica. Tudo isso é muito bem executado. — Brinatti
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