Clássicos do Aquele Tuim | Melodrama (2017)


★★★★

Em Melodrama, Lorde expõe sua mente estranha em meio à dor dos relacionamentos amorosos, ao fim da adolescência e à reflexão sobre sua vida adulta.

Lorde sempre foi uma artista interessante. Desde seu álbum de estreia, Pure Heroine, lançado quando tinha apenas 16 anos, ela conseguiu chegar ao topo das paradas com a música “Royals” e ainda conquistar uma das principais categorias no Grammy, a de “Gravação do Ano”. Mas esse sucesso todo, tido por muitos como precoce demais, só se provou pelo fato de Lorde possuir uma identidade artística marcante, um registro vocal único e produções que vestia uma roupagem crua naquele contexto do pop. Esses sinais viriam a ser efetivados ainda mais, logo após uma longa espera e extensa construção de produção, em que ela lançaria, em 2017, aquele que seria o trabalho mais polido de sua carreira até então: Melodrama, que traz a dolorosa jornada da juventude para a vida adulta e a solidão do pós-término, temas recorrentes, mas que ganham novas perspectivas.

Em primeiro lugar, devemos notar que Lorde é uma artista verdadeiramente excepcional no que diz respeito à originalidade. Em Melodrama, percebemos isso através de um início grandioso, com os graves e a sobriedade com que fluem os vocais em “Green Light”, clássico para uma geração já cansada de amores mal sucedidos. Se essa música fosse lançada no final do período pandêmico, seria um verdadeiro hino de libertação. A produção principal é assinada por Jack Antonoff – que na época ainda conseguia manter projetos bons e diferenciados – e produtores anônimos, que juntos de Lorde criam um universo frio e sem muitas enrolações no que se assemelha ser uma longa festa.

A simplicidade de Melodrama é um toque especial, não porque a produção seja simples, o que não é, pois há uma clara evolução artística desde seu primeiro álbum de estúdio, mas porque fica estabelecido que apesar de haver uma diversão, também há uma tentativa de lidar com situações subjetivamente melancólicas, essencialmente para quem acabou de sair de um relacionamento. “Liability” ocupa esse espaço. A faixa é uma balada, que se torna uma espécie de freio que para Lorde, no turbilhão dos sintetizadores, era necessário. É um momento de lucidez, que aborda as nossas fragilidades e o estranhamento que advém da pressão social. É um dos pontos altos. Mas o mais incrível de Melodrama é que ele termina de forma semelhante a como começou: com “Perfect Places”, um ritmo dosamente elevado, em que Lorde sistematiza a temática de que festas badaladas, drogas viciantes e sexo não são o cúmulo da felicidade humana, e que todos temos uma característica em comum: a imperfeição. O álbum encerra com esta mensagem, focando profundamente na maturidade. A faixa tem uma produção que incentiva a nós, ouvintes, sentir uma sensação de ar puro e um novo horizonte; camadas vocais com Lorde cantando o refrão são apresentadas em meio a um efeito sonoro que ecoa nos ouvidos — sem dúvidas, a minha música preferida.

Melodrama é o álbum de maior sucesso de Lorde, possuindo um caráter de identificação no qual não centra apenas naquilo que Ella passou, no caso, esses momentos estranhos e confusos no amor e na vida social, mas também abre brechas para que comparemos nossas próprias experiências individuais às apresentadas ao longo do registro. De fato, essa é a obra máxima de Lorde, há uma excepcionalidade que talvez até mesmo ela jamais irá conseguir se aproximar novamente.

Selo: Universal Music
Formato: LP
Gênero: Pop / Alt-Pop, Electropop
Lucas Melo

Estudante de jornalismo, 18 anos. Amante da música e da cultura pop desde da infância. É crítico do Aquele Tuim, em que faço parte da curadorias de R&B e Soul.

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