Crítica | Carne de Caju


★★★★

Carne de Caju traz novidades para um dos maiores repertórios da música brasileira.

Grandes artistas muitas vezes têm os seus sucessos replicados por outros artistas que reconhecem a sua importância artística e impacto na cultura. E é a vez de Alceu Valença ver algumas faixas de seu extenso repertório receberem uma interessante homenagem de seus conterrâneos, o grupo Mombojó.

Cantor, compositor e instrumentista, Alceu Valença faz parte da identidade nacional pela profusão de sua música enraizada na cultura nordestina, pela simbologia em suas letras repletas de usos metafóricos de elementos naturais e não naturais do espaço em que vive . E, além de “Morena Tropicana” e “La Belle de Jour”, dois hits consagrados, sua obra possui uma multiplicidade sonora e temática única.

Não há título melhor para um álbum que pretende homenagear um dos nomes mais importantes da música brasileira. Carne de Caju, é o nome dado a este conjunto de oito faixas que reimagina algumas músicas específicas da discografia de Alceu Valença — e apesar do nome fazer alusão ao sucesso “Morena Tropicana”, aqui não há uma regravação desta, são faixas menos “conhecidas” pelo público. As releituras de Mombojó são modernas, utilizando principalmente o ruído das guitarras e a percussão da bateria, além de sintetizadores que apenas acrescentam novas cores sonoras.

Na faixa “Estação da Luz”, por exemplo, o rock se torna tão eletrizante que proporciona ao ouvinte uma sinergia intensa quando o intérprete entoa “LÁ VEM CHEGANDO O VERÃO”, e ali se anuncia as cores vibrantes da paisagem, o sol intenso e o azul cintilante do céu, esses elementos que são capazes de serem sentidos porque há uma transmissão no som daquilo que o conteúdo da letra reflete.

Em “Amor que Vai”, de 1995, encontramos um tom mais taciturno em sua abrangência inicial, porém, que gradativamente se expande com contínuos usos percussivos da bateria, especialmente no refrão da música. Neste momento, a sua presença aumenta vorazmente, tornando-se imperceptível a cada segundo. Os sintetizadores surgem quando o som deixa a agressividade para trás e abraça a suavidade da pausa momentânea, porém necessária.

Um aspecto muito interessante no projeto são as várias vertentes do rock, do agressivo ao sutil, estando extremamente presente do início ao fim, o que lhe confere tons psicodélicos e esporadicamente electrónicos, ocasionados devido aos elementos técnicos e físicos que são utilizados — não é um trabalho que se propõe a seguir a risca o original, pelo contrário, desnuda essas faixas, amplia-as e reveste-as de características estéticas, artísticas e sonoras de quem homenageia, mas que respeita profundamente o homenageado.

Selo: Mombojó
Formato: LP
Gênero: Música Brasileira / Rock
Joe Luna

Futuro graduando de Economia Ecológica (UFC), 22 anos. Educador ambiental, e redator no Aquele Tuim, onde faço parte das curadorias de MPB, Pós-MPB e Música Brasileira e Música Latina/Hispanófona. Além disso, trago por muitas vezes em minha escrita uma fusão com meu lado ambientalista.

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