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½
C,XOXO é um desastre anunciado: fútil na criação de uma pseudo-personalidade impossível de ser levada a sério na voz de Camila Cabello e patético por querer dar um passo maior do que as pernas sem efetivamente tentar.
Cá entre nós, Camila Cabello não é uma artista interessante e, considerando os padrões do pop norte-americano, provavelmente nem precisaria ser para encontrar um público que a abraçasse. Por isso mesmo, nunca teve motivo para ir além do que já era, uma vez que, desde os tempos de Fifth Harmony, foi tida como a principal aposta do grupo e, consequentemente, teve o nome construído sob os holofotes do mainstream e a carreira solo financiada por uma gravadora de peso. É evidente, portanto, que o sucesso comercial nunca foi um problema para a cantora, mas qual seria, de fato, seu diferencial?
Acredito que nem a própria Camila seja capaz de encontrar uma resposta convincente para essa pergunta, e talvez essa tenha sido a faísca para a criação da nova persona que acompanha seu quarto disco, C,XOXO. Menos recatada e mais petulante, essa faceta pode até ser diferente para a cantora, entretanto, não passa de um grande clichê disfarçado de reinvenção — é aquela velha ladainha da popstar que se revolta, descolore o cabelo, começa a falar bobagem e quer pagar de “alternativa”; uma “menina fofa com a mente doentia”, como a mesma diz. Simplesmente não cola. Nesse contexto, as comparações com Charli XCX, replicadas à exaustão nas redes sociais, parecem valorizar demais algo que, na realidade, é tão superficial que nem merece fazer parte dessa discussão. Também não fazem tanto sentido à luz do material presente no álbum, que é essencialmente marcado por construções linguísticas e sonoras do hip-hop — vindo de alguém que precisou passar por “sessões semanais de cura racial” após um escândalo de racismo, a auto-inserção de Cabello nesse cenário específico, ancorada por colaborações que carecem de química, soa forçada e descaradamente oportunista.
Em um dos momentos mais constrangedores do registro, ouvimos um áudio do rapper BLP KOSHER, no qual ele confessa ter chorado ao escutar o primeiro disco de Camila. Não é constrangedor por conta da experiência do rapaz, embora ela seja um tanto questionável, mas sim porque a adição deste excerto dentre tantas outras faixas meramente criadas para sustentar a ideia de que a “nova Camila” possui uma pseudo-personalidade marcante é o exemplo máximo dessa vontade da cantora em se reafirmar como uma artista digna de reconhecimento. Se esse realmente fosse o caso, não seria preciso tanta insistência. No fim das contas, o que C,XOXO estampa é o despreparo de Camila Cabello em querer tomar riscos com sua música sem ao menos acertar no básico — não adianta exagerar no autotune e fazer construções que desafiam a lógica se as canções em si são estruturalmente mal escritas. É patético.
Selo: Interscope
Formato: LP
Gênero: Pop / Alt-Pop