Crítica | Dall



★★★★★
5/5

Devido às más condições de trabalho na Blockberry Creative, todas as integrantes do LOONA entraram na justiça e conseguiram sair do contrato abusivo da empresa. Como resultado, as artistas que inicialmente formaram o grupo BBC foram para outros grupos, enquanto Yves e Chuu tornaram-se solistas. Loossemble foi, então, o primeiro ato estrear com as membros ViVi, HyunJin, Go Won, HyeJu e YeoJin. Já na empresa MODHAUS, de início, reuniram novamente o ODD EYE CIRCLE para o segundo disco da unit após 6 anos de Max & Match. Depois, elas se juntaram à subunidade com os artistas Haseul e Heejin para formar o artms, grupo que agora tem seu álbum de estreia, lançado na última sexta-feira (31).

Assim como o girlgroup que todas elas começaram, o artms também vem com novidades curiosas para o pop sul-coreano. Talvez, caso faça uma análise superficial do disco o ouvinte não consiga compreender todo o aspecto refrescante que essa obra possui. Afinal, muito do registro se baseia na exploração de tendências musicais recentes, como o uk-garage e o drum n’ bass, além das sonoridades que mais marcaram a discografia de LOONA, como o future-bass e o synthpop. É, entretanto, na sua criatividade, tanto na forma como abordam estes ritmos em alta, quanto na mistura bem feita com sons já estabelecidos, que apresentam um dos trabalhos mais singulares do k-pop desta década.

Nesse sentido, “Birth” é a canção perfeita para exemplificar como as tendências são utilizadas aqui de maneira ímpar. Nela, é mesclado drum n’ bass de caráter mínimo e texturas industriais que criam atmosfera sombria e prá lá de singular — é uma das explorações mais criativas do dnb no k-pop. Já “The Hitchhiker's Guide to the Galaxy” é uma faixa excêntrica que traz o future-bass sonhador, característico do trabalho do LOONA, junto ao dancefloor dnb que é capaz de envolver qualquer um. É um exemplo fascinante de como conseguem introduzir sons populares no seu trabalho, juntamente com as abordagens mais marcantes na sua discografia, para criar um resultado que só funciona aqui.

É interessante, pois o disco inteiro parece trabalhar para criar uma atmosfera fantástica e, de certa forma, apaixonante. Penso que, além do modo como abordam tendências recentes no k-pop, essa é uma das principais qualidades do registro. “Virtual Angel”, por exemplo, traz sintetizadores entorpecentes e performance suave das artistas. “Candy Crush”, por outro lado, é um city-pop amável em que sua instrumentação, extremamente sofisticada, principalmente com as guitarras, sintetizadores e flautas, consegue apresentar a base que marca grande parte do álbum excelentemente.

O que também é intrigante, até no que diz respeito à elaboração dessa atmosfera, é que mesmo os momentos mais fracos ainda têm destaques, justamente porque contribuem para a formação da energia etérea e fantástica que serve de enchimento na obra. “Sparkle” pode ser um pouco esquecível com seu uk-garage comum em meio a tantas faixas do k-pop que trazem o gênero de forma semelhante, mas cria algo doce e encantador, enquanto “Air” mistura afrobeats com um tom suave que permeia o disco, e apesar do resultado não ser tão cativante quanto o restante das músicas, é simpática.

<Dall> se destaca por ser a obra mais bem construída do k-pop deste ano e uma das melhores desde que se tem notícia. A excelência com que mescla características marcantes do trabalho do antigo grupo, LOONA, com padrões do pop recente e que estão figurando como novidade, além de como o álbum possui uma esfera de ideias e conceitos musicais muito bem elaborados ao longo de todas as faixas, sem nenhum furo de coesão neste aspecto, resulta em um projeto fora de órbita.

Selo: MODHAUS
Formato: LP
Gênero: Música do Leste e Sudeste Asiático / K-Pop
Davi Bittencourt

Davi Bittencourt, nascido na capital do Rio de Janeiro em 2006, estudante de direito, contribuo como redator para os sites Aquele Tuim e SoundX. No Aquele Tuim, faço parte das curadorias de Música do Leste e Sudeste Asiático, Pop e R&B.

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