Crítica | Deixa Com a Gente


★★★½

Deixa Com a Gente, de Antônio Neves, encontra impulso em ser, apesar dos reputados jazz e samba, suficientemente familiar.

Ao contrário de A Pegada Agora É Essa (The Sway Now), de 2021, o último álbum de Antônio Neves, Deixa Com a Gente, segmenta suas perspectivas do jazz e do samba em duas partes bem definidas, que funcionam como um correspondente vitalício para cada exemplar sonoro vindo desses dois gêneros. Não parece tão interessante, já que a mistura do álbum anterior, vista até no título, tinha efeitos mais compensadores como conteúdo — era mais despojada.

Aqui ele ainda mantém essa boa visão, em parte, devido às suas raízes locais, que formam incrivelmente o tema central da obra, alimentada por humor e referências escrachadas bastante típicas do samba e da representação popular (futebol, cerveja e contos que beiram o lúdico). De “DINAMITE” a “ABÓBORA”, o samba exerce o maior peso na divisão com o jazz. É nesse momento que Antônio Neves organiza o que de melhor pode usar para formatar sua identificação antiautoritária. “17 DE MARÇO” e “LÁ TINHA”, localizadas no final do álbum, no entanto, rompem com humor e os sinais mais profundos do samba em si.

Nelas, o instrumental está mais próximo do jazz, e os minutos que se seguem tornam-se mais agradáveis e espirituosos que o restante da obra. Se Antônio deveria seguir esse caminho, quem somos nós para dizer. O fato é que ele é bom em tudo e essa sequência, apesar de não ter o mesmo ritmo do álbum anterior, no caso, uma certa afinação vinda de suas próprias habilidades de estudo, ainda tem ótimos momentos — é familiar, no sentido de proximidade, e não banal ou comum.

Selo: Mexxe
Formato: LP
Gênero: Jazz / Samba
Matheus José

Graduando em Letras, 23 anos. No Aquele Tuim, faço parte das curadorias de Jazz, Música Independente, Eletrônica e Experimental.

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