Crítica | The Dream of Delphi


★★★½

O mais novo trabalho de Bat For Lashes é austero demais, deixando de lado a essência art pop da artista.

A cantora e compositora inglesa Natasha Khan, conhecida pelo seu nome artístico Bat for Lashes, está em atividade na música há quase duas décadas. Natasha é conhecida por subverter suas influências de pop oitentista, dream pop e darkwave para um pop idiossincrático e altamente performático, de canções como “Daniel” e “The Bat’s Mouth”. Característica essa que a levantou como uma das principais artistas do art pop dos anos 2000, junto de Florence + The Machine e Imogen Heap. Seu último trabalho, Lost Girls, lançado em 2019, caminha de forma direta pelo som eletrônico dos anos 80 de Depeche Mode e trilhas de filmes como De Volta para o Futuro e O Garoto do Futuro.

Quase cinco anos depois, Khan volta com The Dream of Delphi, que caminha no sentido oposto de seu antecessor, e se enquadra como um trabalho austero similar a The Bride, de 2016. Inspirado na sua recente maternidade, o material inédito traz, no título, o nome da filha da artista, Delphi, e retrata todo o processo que começou no auge da pandemia de COVID-19. Com ecos de new age de artistas como Enya e Virginia Astley, The Dream of Delphi é enxuto demais, em seu trabalho mais curto, de apenas meia hora de duração, com uma faixa bônus.

A faixa título, “The Dream of Delphi”, foi escolhida como um manifesto do que Natasha queria apresentar como seu novo trabalho. Essa é uma de suas melhores canções já lançadas, que transparecem o que há de melhor em sua discografia: um pop teatral, lúdico e parcialmente eletrônico e orquestrado. Outras faixas lindas são “Letter to My Daughter” e “At Your Feet”, que foram apresentadas como singles de divulgação. Porém, o álbum tem apenas metade de sua tracklist com a riqueza pop característico da artista. A outra metade são canções ambient, puxadas para a new age com vocais e spoken word. O resultado está aquém das expectativas de um material semelhante à The Haunted Man ou Two Suns.

As instrumentais “The Midwives Have Left”, “Her Morning” e “Waking Up” são bonitas para o enlace das dez faixas. Apesar disso, não carregam o fator interessante de um disco ambiente além de melodias, e arranjos bonitos de artistas da new age. The Dream of Delphi traz, além disso, o cover de “Home”, do artista e produtor americano Baauer, conhecido por “Harlem Shake”. Esta é a canção preferida de Delphi, e Natasha decidiu incluir no material uma regravação da música, com uma produção e performance mediana, mais semelhante a Aurora e Sigrid do que a proposta da Bat for Lashes.

Faltou substância e uma narrativa precisa para The Dream of Delphi, talvez o trabalho mais fraco da carreira de Natasha Khan. O disco é acompanhado de um curta metragem de 30 minutos, “The Dream of Delphi - A New Transmission”. Isso pode ser um problema, pois álbuns visuais precisam se sustentar sozinhos por ambas as partes. A narrativa pode ser carregada apenas como trilha sonora, sem um refinamento característico de um álbum com metade das faixas de interludes instrumentais, estéreis sem a presença dos visuais. Porém, metade do álbum se salva pela riqueza artística de Bat for Lashes, que acaba deixando The Dream of Delphi com saldo positivo.

Selo: Mercury KX
Formato: LP
Gênero: Art Pop / Ambient, New Age
Vinicius Corrêa

Estudante de Jornalismo, 22anos. É colunista da Agência UVA e apaixonado por música. Faz parte da curadoria de Experimental, Eletrônica e Funk e Folk e Country do Aquele Tuim.

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