Crítica | FETICHE


★½

Apesar de ter uma produção meramente criativa, FETICHE só pode ser descrito com uma palavra: desinteressante.

Baco Exu do Blues é o típico artista brasileiro de R&B cujo grande público o reconhece pelas músicas do gênero, sejam boas ou ruins, mas sempre com expectativas relacionadas a atos carnais, o que não é culpa do ouvinte, afinal, Baco traz ar de sensualidade em seus projetos há anos. Sua discografia é cheia de altos e baixos, mas certamente sua maior conquista é Bluesman, em que ficou evidente como Baco tem boas ideias para seus projetos. Já cometeu seus erros, como QVVJFA?, mostra que apesar de ter letras minimamente interessantes, há uma lentidão tediosa que o persegue até o fim. Nesta quarta-feira (26), Baco lança FETICHE, que, para mim, é um dos projetos mais desagradáveis deste ano no R&B.

Para começar, a obra se propõe a abordar o sexo, por isso é normal pensar em ver esse tema sendo mostrado com uma certa replicancia. No entanto, sinto que as letras das canções de Baco estão se tornando cada vez mais sem sentido à medida que o trabalho avança. “limão siciliano” é um exemplo disso, ouvi duas vezes e ainda me sinto confuso com a articulação de tudo que foi escrito por Baco e Samuel Alves. O mesmo acontece em “tanta enveja”, música de abertura do EP, em que há uma clara desconexão entre a produção (como construção e programação de sons) e a composição (lírica). Diferentemente das letras, a produção do EP é meramente criativa, mesmo não tendo uma diferença tão perceptível de seu trabalho anterior para este, permanecendo num nível ok para um bom fã do gênero. Aliás, é importante ressaltar que já vimos esse mesmo tipo de criação nos trabalhos anteriores de Baco. A participação de Liniker em “pausa para tristeza” é mesmo um respiro. Embora a música não seja tão boa, Liniker mais uma vez, como em quase todas suas parcerias, rouba a cena com sua voz charmosa e magnética.

Por fim, FETICHE é mais uma obra esquecível de Baco Exu do Blues, aqui não senti o prazer, a sensualidade genuína ou mesmo a emoção de ouvir o R&B proposto por ele. Em grande parte do trabalho me senti obrigado a estar em uma atmosfera sensual que parecia algo feito como um produto industrializado, sem nenhum sabor natural no meio. É como se Baco não concretizasse seu desejo de parecer sensual neste EP — em outros trabalhos também. O som é tudo uma questão de criatividade, sem mais ou menos, não me interpretem mal, é uma boa produção mas falta uma peça para torná-la realmente cativante. Além disso, Baco continua sendo um artista bacana dentro do núcleo do R&B brasileiro, mas certamente perdeu algo que foi essencial no início de sua carreira: a qualidade.

Selo: Sony Music
Formato: EP
Gênero: R&B / R&B Contemporâneo, Pop rap.
Lucas Melo

Estudante de jornalismo, 18 anos. Amante da música e da cultura pop desde da infância. É crítico do Aquele Tuim, em que faço parte da curadorias de R&B e Soul.

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