Crítica | God Said No


★★★★

Omar Apollo navega por suas dores mais profundas em um disco coeso e melancólico — é o seu melhor projeto.

Desde que “Evergreen (You Didn’t Deserve Me At All)” de seu primeiro álbum, Ivory, se tornou um sucesso, Omar Apollo passou a ganhar mais reconhecimento pelo seu trabalho de anos em mixtapes e EPs, com versos que transitavam entre inglês e espanhol, sendo indicado a Artista Revelação no Grammy de 2023. Agora, entrega seu melhor projeto, God Said No, navegando por suas dores mais profundas dos últimos anos em um disco coeso e melancólico.

O novo álbum é seu trabalho mais consistente até hoje, e consegue se balancear entre faixas mais obscuras e mais solares sem que seus sentimentos de dor se percam. O senso de humor de Omar, tão bem executado em canções como “Bi Fren” e “Tamagotchi”, acaba fazendo falta no projeto, que dá voz às suas inseguranças e dores de coração partido de um relacionamento que o deixou transformado. Mesmo assim, o sentimentalismo não é maçante, e a experiência do disco é prazerosa do início ao fim. “Less of You” e “Against Me” fogem do panorama sonoro predominante, que entrega baladas belas, como a poética “Plane Trees” com Mustafa e “Glow”, que fecha o disco. O álbum flerta predominantemente com o R&B, característica onipresente em toda sua discografia, mas também recebe influências de house e disco.

Líricamente, seus sentimentos são conflitantes. Na única canção que canta em espanhol, “Empty”, Omar diz trocar o idioma para que seu parceiro não o entenda quando diz o quanto sofre. “Life’s Unfair” entrega uma traição, e “While U Can” é um choro por despedida, mesmo que não desejada. Sendo o principal compositor do álbum, dividindo a caneta apenas com mais um ou dois escritores, Omar consegue criar espaço para a complexidade de sentimentos que podem ser tão opostos e tão latentes, manifestando dores como raiva, tristeza, superação e distanciamento. O disco seria mais um típico álbum de término já tão conhecido no pop se não fosse por sua personalidade espalhada pelas canções, seja por seus versos de duplo sentido ou por sua pronúncia e sotaque deliciosos.

God Said No é um projeto emocional e transborda sinceridade, conforme Omar investiga sua dependência emocional, falta de comunicação, autoestima e ansiedades de seu último relacionamento. O artista ostenta seu bom gosto com escolhas refinadas, com produção executiva de Teo Halm junto de Apollo, que evidencia seu crescimento artístico desde Ivory e Live For Me. Um disco impressionante, que se encaixa perfeitamente em sua melancolia e ainda se abre para poucos momentos de descontração.

Selo: Warner Records
Formato: LP
Gênero: Pop / R&B
João Agner

joão agner (2003) é escritor e graduando de jornalismo. escreveu sua primeira história aos oito anos, e tem explorado diversos formatos desde então, como não ficção e poesia. é fascinado por música desde sempre.

Postagem Anterior Próxima Postagem