Crítica | NA


★★★½

NA trabalha com sonoridades já apresentadas no primeiro disco de NAYEON, porém com abordagens substancialmente mais criativas.

Em sua estreia solo com a música “POP!”, que apesar de representar o ponto de partida em uma direção artística oposta à do TWICE, NAYEON procurou manter uma certa reafirmação das características mais ilustres contidas nos maiores sucessos do grupo. Carregado de um tom alegre e ensolarado, podemos dizer que ela trouxe consigo o elemento principal da essência das intérpretes de “Cheer Up”.

No restante do álbum, porém, o que ficou perceptível foi a intenção da cantora de voltar seu olhar para o R&B. IM NAYEON, nesse sentido, foi importante para mostrar o potencial dela nessa sonoridade, embora muitas das faixas ainda fossem genéricas para de fato surpreender nessa abordagem. Com NA, segundo álbum solo de NAYEON, sua proposta é ainda mais centrada no R&B, no entanto, o resultado é muito mais interessante. Isso porque, mesmo sendo baseado principalmente em tendências comuns dentro do gênero, aqui, ele se relaciona perfeitamente com a perspectiva do pop sul-coreano.

A faixa-título “ABCD” relembra uma tendência notável dos anos 2000: o R&B dançante, inspirado em um estilo de funk marcado por grande ênfase em pratos, sinos e metais, conhecido como Go-Go. NAYEON consegue trazer os aspectos que fizeram de “Crazy In Love”, “Deja Vu” e “Suga Mama” de Beyoncé, e “1 Thing” de Amerie, músicas que mais marcaram muito bem aquele período do pop ocidental.

Nunca a performance da integrante do TWICE soou tão poderosa quanto em “ABCD” – ela exala grande carisma aqui. Além disso, a produção instrumental é, por si só, fenomenal. Apresentando suntuosas cordas nos versos e pré-refrão, e ao chegar ao refrão, a instrumentação traz uma guitarra funk tomada de energia, algo que se repete em seguida com os metais e a percussão trazendo juntos uma intensidade arrebatadora. Apesar de todos esses elementos, o fator principal que torna essa música tão fenomenal é a entrega, a performance e o êxito de NAYEON.

O resto do mini-álbum não apresenta nenhum outro momento tão notável quanto o single, no entanto, ainda é composto em sua maioria por faixas adoráveis. Além da música principal, o disco mostra outras abordagens fascinantes baseadas no rhythm and blues. Em “Heaven”, as melodias doces e a deliciosa produção atmosférica de trap criam um trap soul apaixonante. “Something” faz uma mistura refrescante de elementos R&B com divertidos ritmos de 2-step. Já “Count It” apresenta o R&B com produção eletrônica que, acompanhada da performance suave da artista, consegue maximizar sua qualidade.

Marcado pelo funk divertido, com sua rica instrumentação funky house e melodias sedutoras, “HalliGalli” é a melhor b-side. “Magic”, peça ordenada pelo nu-disco, é tão básica que vários discos recentes de k-pop apresentam a mesma construção, porém, o carisma de Nayeon, aliado à produção que, mesmo superficial, é competente no uso divertido de certos elementos como o metal e a flauta, consegue torná-la, no entanto, um momento agradável.

Se IM NAYEON foi uma introdução à nova fase da cantora como solista em músicas que dialogavam com seu trabalho no grupo — “POP!” — ao mesmo tempo em que mostra a construção de uma nova faceta centrada no R&B; NA, por sua vez, trabalha de forma mais atenciosa com a direção artística proposta em seu antecessor, explorando prioritariamente o R&B a partir de colocações mais substancialmente criativas.

Selo: JYP ENTERTAINMENT
Formato: EP
Gênero: Música do Leste e Sudeste Asiático / K-Pop, R&B Contemporâneo
Davi Bittencourt

Davi Bittencourt, nascido na capital do Rio de Janeiro em 2006, estudante de direito, contribuo como redator para os sites Aquele Tuim e SoundX. No Aquele Tuim, faço parte das curadorias de Música do Leste e Sudeste Asiático, Pop e R&B.

Postagem Anterior Próxima Postagem