★★★★☆
4/5
O aguardado álbum de estreia de Martha Skye Murphy, Um, funciona como um clássico do art pop: tem a construção de paisagens etéreas, duplicadas por desafios vocais que vão de Björk a Spellling, sem deixar de lado o DNA pós-minimalista de Julia Holter. Mas é, sobretudo, algo perenemente único, e que estabelece uma classe própria de significados — musical e instrumentalmente criativos — sempre condizente e em união com os planos criados por Martha ao lado de texturas, microssons e elementos eletrônicos que incluem, por exemplo, a eletroacústica.
Há também uma profunda ligação entre temas, ora provocado por sinais atmosféricos que encontra bases no ambiente enquanto uma centena de detalhes surgem no fundo (“Theme Parks”); ora pela intimidade ocupada pelo serialismo pop (“The Words”). Estes são, por sua vez, aspectos que derivam da latência do amor, como em “Pick Yourself Up” (“Would you tell me something / Make believe / Would you lie to me”). Ou da força física de "Spray Can": "Let's go to the river / Let's fight together / Let's soak in the weight of each other". Martha, que busca prescindir dos signos básicos da composição lírica, às vezes parece apenas meditar, sem entrar em transe profundo, com delicadeza e uma força de expressão que não precisa mais do que trovões ou ruídos vindos dos ecossistemas que são gerados para fazê-la se sentir melhor, ou apenas se firmar, como na excelente “Dust Yourself Off”.
Apesar dessa calma, Um, tem seu vigor definido pelo barulho, pelo estrondo, e por isso a sequência “IRL” divide os segundos do piano com arrastões industriais. De forma semelhante, “Kind” usa as cordas para sulfatar a intensa carga explosiva e cacofônica que os vocais suaves de Martha se distorcem através do cravo e de uma infinidade de batidas acentuadas — é um desconcerto completo. E desta forma, ela cria o seu espaço, dividindo e segmentando o que poderia ser um refrão ressentido, ou um ritmo expressamente contundente numa única erupção progressiva.
Selo: AD 93
Formato: LP
Gênero: Experimental