★★★★☆
4/5
4/5
AURORA se destacou por seu alt-pop que trazia uma atmosfera fantástica com sua performance vocal forte e única, além de referências muitas vezes reminiscentes da música folk nórdica. Fora esta característica que prevaleceu no seu trabalho ser, por si só, algo que a tornou um nome fora do comum na vertente em que fez parte e que foi, aliás, uma das primeiras artistas a trazer essa sonoridade, foram vários os momentos em que seus discos abordaram a eletrônica de forma pouco convencional, com o glitch pop ou quando ela misturava esses sons eletrônicos com o folk e criava faixas excêntricas tomadas pela folktronica. Ela está longe de ser uma das artistas mais inventivas ao trabalhar com os dois gêneros citados, se comparada a nomes de ritmos mais underground, porém, olhando para o cenário da música pop mainstream daquele período, AURORA se diferenciava de tudo.
Aos poucos, porém, acho que ela criou um som extremamente característico e se manteve nele. Na verdade isso não é algo ruim; AURORA criou uma identidade artística forte e decidiu se manter fiel a ela, no entanto, aos poucos o sentimento de novidade foi se perdendo. The Gods We Can Touch foi por um tempo meu álbum favorito dela, mas observando melhor agora, mesmo tendo um conceito excelentemente elaborado e soando apaixonante em diversos momentos, percebo que não tem o mesmo frescor de antes. Nesse sentido, o álbum apresenta um pouco do que ela faz de melhor, embora a sua apresentação não seja surpreendente.
What Happened To The Heart?, ao contrário do álbum que o precede, é o trabalho em que AURORA mais procura fugir da sua zona de conforto. A cantora apresenta diversas abordagens sonoras que ainda mantêm as características mais essenciais do seu trabalho artístico. Nesse sentido, o álbum representa o máximo de excelência com os aspectos mais marcantes de sua obra musical, ao mesmo tempo em que leva o ouvinte a territórios desconhecidos dentro de sua discografia. Essa busca constante por explorar novos horizontes cria uma experiência auditiva em que nós nunca esperamos o que acontecerá a seguir.
A primeira metade do disco faz você imaginar que está ouvindo um álbum comum de AURORA. Esta parte do álbum busca destacar alguns dos melhores aspectos da arte da cantora. “Echo Of My Shadow” é uma faixa que trabalha com uma das principais características do alt-pop: o minimalismo. A eletrônica com certo toque folk suave traz uma ambientação envolvente enquanto o caráter minimalista da produção dá espaço para que a performance igualmente encantadora da cantora brilhe. O mesmo ocorre a seguir em “To Be Alright”, onde sua bateria de synthpop e freestyle fica em segundo plano para destacar as lindas melodias vocais. Porém, as primeiras músicas aqui cometem os mesmos erros de The Gods We Can Touch: são boas, mas não inventivas e apresentam o lado mais genérico do trabalho musical da norueguesa. A partir de “Earthly Delights”, acredito que a obra começa a apresentar seus aspectos mais interessantes. Referências da música folk nórdica são evidenciadas juntamente com elementos eletrônicos que, como resultado, criam um som hipnotizante. “A Soul With No King” é ainda mais intrigante na incorporação dessas influências. A música fica mais arrepiante à medida que camadas de guitarras sombrias entram.
Os trechos mais surpreendentes vêm, entretanto, de “My Name”. Se as 4 faixas anteriores mostraram a artista trazendo sua sonoridade característica em uma abordagem mais refrescante, aqui ela traz abordagens bem diferentes do que apresentou ao longo de sua carreira. Se a princípio os sintetizadores com som glitch já são bastante curiosos, somam-se a ele a desconcertante percussão metálica, elementos folk e, no ponto mais alto da música, a bateria grandiosa, que alinhada com os demais instrumentos que já preenchiam a faixa, acaba resultando em algo extremamente sublime. “Do You Feel” é o melhor flerte de AURORA com o dance-pop. Os versos trazem uma mistura fascinante de folk e dance, enquanto o refrão impõe o funky house com grooves de baixo funk e melodias irresistíveis.
“Starvation” é uma faixa arrepiante que traz percussão de banda militar, a qual, aos poucos, vai se transformando em um trance arrebatador. Já “The Blade”, marcada por baixos sombrios com tom industrial mesclados com breakbeats fortes que, juntos, formam um espaço extremamente suntuoso. No geral, What Happened To The Heart? tem um início agradável, mas não muito animador, felizmente, à medida que o disco avança, revela-se a peça mais inventiva da carreira de AURORA.
Selo: Decca
Formato: LP
Gênero: Pop / Alt-Pop, Art Pop