Crítica | What Is Not Strange?


★★★★☆
4/5

Os longos minutos que passam por What Is Not Strange? estão longe de contemplar apenas uma natureza reflexiva. Isso porque, embora composto por Tashi Wada enquanto se recuperava da morte do pai e comemorava o nascimento da filha, o álbum tende a se posicionar como um parêntese entre esses dois acontecimentos.

Há, de fato, uma certa soturnidade a escorrer pelas frestas de texturas e ritmos planos, densos e que contam muito bem com a colaboração de Julia Holter. É interessante notar como, longe de perpetuar suas letras de modo que fez em seu último álbum, Something in the Room She Moves, ela empresta sua voz, às vezes mergulhada na imensidão eletroacústica, como parte da elaboração tônica dos pontos expressados de Tashi — espremido nos cantos, quase numa entonação hermética.

Os fragmentos vocais de Holter são, sobretudo, as veias que bombeiam o drone em estado de engolição, apoiados numa perspectiva atmosférica que recorre ao silêncio em momentos de introspecção (“Revealed Night” e Asleep to the World”), ou na cacofonia pop (“Flame of Perfect Form” e “Subaru”).

Mas é no encanto do novo que tudo se arranja para fazer sentido. Não se trata, por um lado, apenas da experiência de dar vez às suas experiências, mas sim do que delas pode advir. Neste caso, os quase oito minutos de “Time of Birds” e o seu tom ascendente, amadurecido por uma angústia assustadoramente confortável, meticulosa e doce, que explica, num ar de aclaração, a paixão, e só a paixão sustentaria a criação de Tashi Wada em seu contexto.

Selo: RVNG Intl.
Formato: LP
Gênero: Experimental / Ambiente, Drone
Matheus José

Graduando em Letras, 23 anos. É editor sênior do Aquele Tuim, em que integra as curadorias de Funk, Jazz, Música Independente, Eletrônica e Experimental.

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