Uma lista com Racionais MC’s, Björk, Portishead, Janet Jackson, Chico Science & Nação Zumbi, Marisa Monte, Aphex Twin, Sade e mais!
Parece que todo movimento de contracultura musical que nasceu nos anos 60 culminou nos anos 90. A última década da música? Certamente não, ainda que seja difícil hoje imaginar tanta coisa acontecendo ao mesmo tempo, apesar da internet. Os países do primeiro mundo estavam se alimentando musicalmente do sul global e vice-versa. O relançamento de grandes clássicos dos anos 50 e 60 era incentivado pelos artistas mais populares do momento. Era o nascimento de novas formas de produção, e a criação musical era indissociável da sua forma política. Desse modo, muitos suspiros de resistência se davam através de inovações técnicas de produção ou nas letras das músicas.
Os discos pouco escutados na época, seja do Brasil, Estados Unidos, África, Ásia ou Europa, continuam sendo objeto de estudo, e cada vez mais álbuns são encontrados ou redescobertos. Mesmo os álbuns populares dos anos 90 continuam sendo parte diferenciada da história da música; produtores independentes trabalhando com grandes bandas, um novo formato dentro do artpop unido à música eletrônica, e influências do meio experimental cada vez mais comuns na música pop são apenas alguns exemplos. Nessa lista, buscamos agrupar o que consideramos os 50 melhores discos dos anos 90. Uma tarefa árdua, tendo em conta tudo o que já foi referido, mas certamente gratificante pela possibilidade de descobrir tantas coisas novas e poder apresentar as melhores nesta lista. A última década da música? Não, mas talvez a década de referência para toda a música que é feita hoje.
50.
As Canções Que Você Fez Pra Mim
Maria Bethânia
1993
Apenas uma artista como Maria Bethânia poderia lançar um tributo a Erasmo Carlos e Roberto Carlos mantendo sua própria essência. Muito mais do que uma homenagem, As Canções Que Você Fez Pra Mim é um fenômeno histórico da MPB. É também um retrato sensível e melancólico, em que Bethânia se apropria dessas músicas populares, imortalizando-as com seus vocais tão únicos; não é surpresa que o disco tenha se tornado o mais vendido de sua carreira. De “Olha” a “Emoções”, Bethânia eleva esses clássicos a uma potência imensurável com sua voz sublime. — Lucas Souza
49.
Before Driving to the Chapel We Took Coffee with Rick and Jennifer Reed
AMM
1997
Se existe um grupo essencial para entender a Improvisação livre, esse certamente é o AMM. E Before Driving to the Chapel… é uma de suas performances mais icônicas até hoje. Apesar de utilizar lógicas matemáticas para criar suas músicas, o grupo não para de explorar instrumentos não convencionais, texturas inesperadas e tempos desconfortáveis. É um manifesto de uma nova forma de pensar a música, com liberdade irrestrita mesmo dentro de formalidades; com músicos extremamente estudados, o que realmente importa é formar um som distinto – um momento que vai grudar na sua mente e vai te fazer se sentir diferente. — Tiago Araújo
48.
Soundtracks for the Blind
Swans
1996
A banda de rock experimental Swans surgiu na cena underground, durante a década de 1980, como um tsunami de agressividade e violência no wave de Nova Iorque. Ao longo da década, o grupo liderado por Michael Gira se metamorfoseou num dos projetos mais cultuados da música alternativa, em trabalhos como Children of God, e The Great Annihilator, que mesclavam o gótico ao pós industrial, de forma abrasiva. Em 1996, o Swans apresentou Soundtracks for the Blind, sua grande obra-prima antes do encerramento de suas atividades, em 1997. Um álbum duplo com ideias e faixas criadas nos últimos quinze anos de banda, desde o primeiro EP de 1982. São 26 músicas escritas como se fossem as últimas de suas vidas. — Vinicius Corrêa
47.
Homework
Daft Punk
1997
O debut da dupla francesa, sem dúvidas, foi a fundação para o que se tornaria a cena eletrônica a partir dali. Seu horizonte contempla não só contemporâneos e futuros colegas, mas também se tornou fonte de inspiração e samples aos produtores e artistas do hip hop. Faixas como "Da Funk" e "Around the World" não envelheceram sequer um dia; da mesma forma "Teachers", que continua sendo a ode perfeita concebida em celebração aos nomes responsáveis pela fundação do gênero até então. Homework é o passado que devemos observar para compreender o presente. — Catarina de Oliveira
46.
Bitter
Meshell Ndegéocello
1999
A década que demarca os grandes expoentes do R&B e do neo soul também carrega, consigo, exemplos fortes das intersecções desses gêneros. Nos seus primeiros registros, Meshell Ndegeocello se propõe como uma excelente agregadora do jazz e do hip hop, mas Bitter forja uma ruptura provisória para inflamar algumas experiências amorosas passadas — e, indiretamente, reforçar a sua gênese. Tão amargo quanto o título sugere e com uma regravação de Jimi Hendrix inclusa, o cerne da obra se concentra na elaboração complexa sobre a conflituosidade desses sentimentos, embalados pela melancolia do que sobrou. — Felipe
45.
The Return of The Space Cowboy
Jamiroquai
1994
O segundo esforço do grupo Jamiroquai é, também, sua consolidação na cena britânica, que nesta altura borbulhava. Parecia impossível repetir o acerto, quase às cegas, que o primeiro álbum se revelou. Faixas como "Manifest Destiny" e "Scam" conseguem reproduzir a fórmula com nuances agregadas, enquanto "Morning Glory" e "Space Cowboy" são retratos claros das novas cores atribuídas à proposta central. The Return of The Space Cowboy é um grande passo ao amadurecimento, a tentativa que precedeu os principais acertos do grupo até meados dos anos 2000. — Catarina de Oliveira
44.
Hybrid Noisebloom
Merzbow
1997
Os anos 90 foram decisivos para a consolidação da música noise e, consequentemente, para a redefinição da música experimental dali em diante. Com ela, o mundo testemunhou, entre desespero e fascínio, a atonalidade — no sentido literal — ser elevada ao mais alto patamar de abstração e impalpabilidade. Merzbow, em Hybrid Noisebloom, não apenas explorou possibilidades infinitas para o gênero, como transcendeu inexplicavelmente todas as suas propostas e raisons d'être, sempre mantendo-se fiel ao que o define. Você nunca mais experienciará um universo como este. — Sophi
43.
CrazySexyCool
TLC
1994
Seria negligente falar da música dos anos 90 sem mencionar os grupos de R&B. Boyz II Men, SWV e Destiny’s Child são apenas alguns que catapultaram o gênero para um patamar de influência generacional. Mas entre todos, TLC se destaca pela excentricidade que marcou, em especial, seu segundo disco, CrazySexyCool — “Crazy” por sua ousadia ao ocupar os espaços do pop e do hip-hop sem se render a convenções estéticas; “Sexy” porque explora facetas múltiplas do prazer, e “Cool” porque é jovial e tem gingado, frente a outros clássicos da época. É um álbum atrevido e visionário. — Marcelo Henrique
42.
Cabaceiras: Edelmir Canta Poemas de Castro Alves
Edelmir
1994
Lançado em 1994, Cabaceiras: Edelmir Canta Poemas de Castro Alves, é uma das várias peças que abordam a transfiguração da linguagem entre literatura e música. Aqui, porém, encontramos uma profundidade sutil através da qual os textos de Castro Alves são repletos de sonoridades que remetem tanto à música sertaneja regional quanto a arranjos de concertos à la Pixinguinha, como a longa abertura de seis minutos, “O Navio Negreiro (Fragmentos)”, possivelmente uma das interpretações mais miríficas já feitas. Edelmir canta com calma, prova máxima de como sua arte, mesmo depois de anos, e ainda conservando alguns sinais empoeirados do tempo, soa divertida, elegante e mágica. — Matheus José
41.
Things Fall Apart
The Roots
1999
Com algumas das melhores músicas de rap dos anos 90, como “Ain't Saying Something New” e “You Got Me”, Things Fall Apart consolidou-se como uma potência incontestável da East Coast e do “hip hop alternativo”. Com conceitos elaborados, rimas engomadas e um contraste exímio entre as performances energéticas e instrumentais espirituosos e relaxantes, o coletivo de rappers é imprescindível em qualquer lista de destaque. — Sophi
40.
BCD
Basic Channel
1995
Antes de Andy Stott fervilhar a década de 2010 com três de seus projetos dub techno mais incisivos, Luxury Problems (2012), Faith in Strangers (2014) e Too Many Voices (2016), outro projeto de música eletrônica lançou as bases do gênero: o Basic Channel. União de discos diferentes, Bcd é mais que o marco zero, é também a massa corrida de toda a construção da percepção que compõe o som e as características que dele fluem; é também a fonte e continua a ser a receita secreta. — Matheus José
39.
Violator
Depeche Mode
1990
O sétimo álbum de estúdio do Depeche Mode é um marco na década de 90, destacando-se pela sua produção única e pelos sintetizadores sombrios combinados com rock alternativo. Neste trabalho, estão presentes músicas como "Personal Jesus" e "Enjoy the Silence", que são grandes sucessos até hoje e redefiniram o electro-pop, influenciando gerações de artistas. Violator é uma obra atemporal que continua a influenciar a música moderna. — Vit
38.
In Utero
Nirvana
1993
Após o estrondoso sucesso em Nevermind (1991), que catapultou o grunge no início dos anos 90, Nirvana lançou In Utero, um disco mais visceral e cru que seu antecessor. A sua premissa era justamente essa: oferecer algo completamente diferente do que a banda havia feito até então. O álbum se afasta quase completamente do “grunge pop”, apresentando um material direto e incisivo em suas mensagens transmitidas através das faixas. — Davi Landim
37.
First Love
Hikaru Utada
1999
Dificilmente um álbum consegue ser tão cativante em seus primeiros momentos como o First Love. Talvez o álbum mais anos 90 desta lista, Hikaru Utada se firmou de forma genial no j-pop e iniciou a carreira mais brilhante da música japonesa contemporânea. Com uma produção afiada, posso afirmar que existe música japonesa antes e depois de First Love. — João Lucas
36.
Versos Sangrentos
Facção Central
1999
Versos Sangrentos é uma crônica contundente das desigualdades sociais no Brasil, onde a violência surge como resposta à marginalização e à fome. O álbum descreve um cenário desolador em que o crime é uma questão de sobrevivência, revelando a revolta contra um sistema que negligencia educação, saúde e segurança, empurrando pessoas marginalizadas para a criminalidade. É um manifesto contra a injustiça e a falta de esperança, expondo a realidade cruel das favelas cujos sonhos são sufocados pela violência e pela falta de oportunidades; é um apelo emocional para que os jovens prosperem sem ter que recorrer à dureza como única alternativa. — Brinatti
35.
The Low End Theory
A Tribe Called Quest
1991
A Native Tongues abriu caminho para a diversidade lírica e de samples no hip hop no final dos anos 80 e início dos anos 90. Nesta década, nenhum álbum define melhor essa virada de chave histórica do que The Low End Theory, uma evolução exímia das ideias otimistas e inspiradoras que Tribe exibiu em seu debut. Contrapondo o gangsta rap, a estratégia de conscientização do grupo é menos uma transliteração da realidade e sim uma análise afiada da comunidade negra estadunidense. Os instrumentais semi-psicodélicos, flows reduzidos e a reconfiguração do método de sample (e de bateria) revolucionaram o rap para sempre. — Sophi
34.
Live Through This
Hole
1994
Embora a banda não seja frequentemente reconhecida como uma das principais representantes do movimento grunge dos anos 90, seu álbum continua exercendo uma influência significativa sobre mulheres no cenário do rock e do pop rock, incluindo a nova sensação teen Olivia Rodrigo. Live Through This é um testemunho da resistência feminina e uma peça essencial para compreender o panorama da música alternativa na década de 90, assim como os desafios enfrentados pelas mulheres na indústria machista do rock. Sua relevância perdura, inspirando uma nova geração de artistas e destacando a necessidade de reconhecer o impacto das mulheres na história da música. — Vit
33.
loveless
my bloody valentine
1991
Quando se pensa em shoegaze, os anos 90 surgem como seu pico criativo e definidor, sendo que tudo relevante após esse momento parte da redefinição do gênero. Nesta década, inegavelmente, não há álbum melhor que loveless, conjuntura perfeita dos melhores defeitos do rock. Há um certo encanto nele; mais que a mixagem, é a própria sonolência, repetição e morosidade nas performances que fazem deste disco um clássico atemporal. É inevitável: loveless entra na sua mente de modo intrusivo, excessivamente intrusivo, te hipnotiza e nunca mais sai. — Sophi
32.
Dangerous
Michael Jackson
1991
Dangerous talvez seja o principal documento histórico do new jack swing, sumarizando o gênero em seu apogeu e oferecendo ao ouvinte excelência do início ao fim. Ainda que fosse um projeto ambicioso, os reais riscos foram tomados por Janet Jackson em Rhythm Nation 1814; assim, Michael teve a oportunidade de trabalhar com Teddy Riley, produtor que já havia dominado o gênero em todas suas capacidades, possibilitando a concepção de sucessos absolutos como "Jam", "Remember the Time" e "Black or White", para além de outras canções que elevam Dangerous ao status de clássico. — Catarina de Oliveira
31.
ECO PACK-王菲浮躁
Faye Wong
1996
O que fazer perto do fim de um contrato com a gravadora? Fuzao (浮躁) foi a resposta de Faye Wong (王菲) para esta pergunta. Sem nada a perder, a Sra. Wong tomou riscos e fez o seu disco mais experimental e autoral, brincando com letras e melodias. Ela tinha muito a expressar em um espaço muito pequeno. Acima de tudo, Fuzao é a beleza que apenas o fim de um ciclo pode proporcionar. — João Lucas
30.
Erotica
Madonna
1992
Erotica pode ser considerado o disco mais importante da carreira de Madonna. É também seu disco mais controverso, sujo no som e nas palavras, ao mesmo passo que se materializa como um afronte corajoso ao conservadorismo da época. Teve um impacto óbvio no imagético da artista por romper com os padrões visuais que a acompanhavam até ali, mas sem deixar de transmitir uma mensagem que ainda carrega importância e significado cultural e social, mesmo depois de décadas. Foi o pop subversivo dos anos 90 e continua a representar o pop subversivo da atualidade. Não há nada mais Madonna do que isso. — Marcelo Henrique
29.
Bigtyme Vol II, All Screwed Up
DJ Screw
1995
DJ Screw é um mago da linguagem dentro de seus mixes; ele recorta, alterna, distorce e remonta os mais variados significados do rap. Parece ser simples, mas na realidade é um dos processos mais vanguardistas e grandiosos de toda a música. Sendo o trabalho mais relevante do gênio, All Screwed Up transporta sensações e sentidos de um lugar de arranhões na pele, tempestades de navalhas e gritos incisivos para um de completa transcendência: é metafísico por completo. O psicodelismo surrealista advindo da transformação do palpável é uma das maiores belezas que o rap já ofereceu. — Sophi
28.
darker than darkness style 93
BUCK-TICK
1993
BUCK-TICK são imortais na cena visual kei, sendo um grande nome na história do rock japonês. Em seu sétimo álbum de estúdio, a banda provou, com ritmos espirituosos e letras sinceras, o erotismo, o calor de viver e a dificuldade de existir em um mundo de trevas dolorosas. A faixa "Dress", um dos grandes sucessos do grupo, reflete com primazia a sensação de ouvir BUCK-TICK pela primeira vez, iluminando-nos com uma melodia envolvida a melancolia, destacada pela voz atemporal e profunda de Atsushi Sakurai, que abraça a vida com medo de não amar o suficiente. — BeatriS
27.
Underground Vol. 1
Three 6 Mafia
1999
Enquanto o rap do leste e oeste dos Estados Unidos celebrava grandes sucessos, dominava os noticiários com brigas de gangues, realizava internacionalizações e criava gravadoras do gênero, no sul do país se escondia um monstro. Um monstro nunca ignorado, pois sua influência para o leste e o oeste é inegável, mas um monstro desprezado, recluso, sem acesso a essas gravadoras e visibilidade. O monstro se manifestava como o rap de memphis, colocava assassinato, brutalidade e satanismo na boca dos jovens que se arriscavam a mexer com ele, e, no final, aprisionava essas conjurações em fitas cassete, música. Esta é uma das prisões, uma compilação de vários experimentos surgidos sob a influência do monstro, do grupo mais icônico que ousou enfrentá-lo. Não há introdução melhor para o memphis rap do que Underground Vol. 1, e talvez não haja nada melhor em todo o rap estadunidense. — Tiago Araujo
26.
Elite Sounds
Gachet
1994
Um revival da estética drum n bass não é mais novidade para ninguém hoje em dia, o que torna essencial revisitar os clássicos de Jungle dos anos 90. Elite Sounds é um desses clássicos, talvez não o mais lembrado, mas certamente o mais emocionante; um DJ Set que beira uma hora de duração e não é cansativo por um minuto sequer. Não tendo medo algum de tentar mudar e adicionar novos elementos — mesmo que alguns erros surjam, Gachet os reaproveita de forma brilhante. O disco é uma audição obrigatória para todos os fãs de EDM, DJs, críticos musicais e qualquer pessoa que queira descobrir uma nova paixão musical. — Tiago Araujo
25.
Muzai Moratorium
Sheena Ringo
1999
Muzai Moratorium não é apenas um dos pilares da grande renovação musical que circulava pelo Japão no final dos anos 90, mas também marca o início do jeito peculiar de fazer música da Sra. Sheena Ringo. Ela busca harmonizar a elegância do jazz na guitarra e no baixo, fundindo elementos de rock, tudo isso com uma estética icônica. Esse é o jeito Sheena Ringo de ser! — João Lucas
24.
Coisa de Acender
Djavan
1992
Mais acessível, mas não menos Djavan. Coisa de Acender é um aceno mais direto à música pop, sem abrir mão do melhor da extensa discografia do artista. Com o eu-lírico em sua forma mais romântica, composições poéticas e grandes sucessos como “Boa Noite” e “Se…”, o álbum se destaca como um dos mais cativantes já lançados pelo cantor. Em seu registro mais brilhante da década de 1990, ele reafirma sua importância na música nacional, explorando principalmente o tema do amor com o talento que o caracteriza. — Lucas Souza
23.
LONG SEASON
Fishmans
1996
Do farfalhar das árvores ao som do mar, Long Season expressa a sensação de viver em um mundo em constante movimento. A psicodelia de Fishmans, junto com sua marca no dream pop e dub, cria um álbum repleto de sensações que marcam a carreira do grupo e traçam um caminho até o inimaginável da sonoridade japonesa sintética na década de 1990. Long Seasons é um álbum que aquece o coração de todos os viajantes perdidos que atravessam as quatro estações do ano. — BeatriS
22.
Sla Radical Dance Disco Club
Fernanda Abreu
1990
O álbum de Fernanda Abreu, Sla Radical Dance Disco Club, é uma mistura audaciosa de pop, dance e música eletrônica. Lançado em uma época dominada pelo rock brasileiro no final dos anos 80 e início dos anos 90, o disco foi projetado para incendiar as pistas de dança. Ele celebra a cultura urbana carioca e se destaca especialmente pela marcante faixa “Disco Club 2 (Melô do Radical)”, em que DJ Marlboro contribui com scratches, caracterizando-se pelo estilo do miami bass, com batidas eletrônicas intensas e linhas de baixo robustas. Além disso, apresenta interpretações de sucessos como “Kung Fu Fighting” de Carl Douglas, e “Got To Be Real” de Cheryl Lynn transformada em “Luxo Pesado”. — Brinatti
21.
Grace
Jeff Buckley
1994
Nem a morte precoce e acidental de Jeff Buckley, nem a inicial falta de reconhecimento de sua obra foram suficientes para dar fim ao legado do artista. Isso porque seu primeiro e único álbum lançado em vida, Grace, embora tenha demorado para alcançar grandes números, ganhou extrema notoriedade ao longo dos anos, sendo hoje considerado um marco musical da década de 1990. A potente voz de Jeff, aliada a arranjos que mesclam rock e jazz e composições de um “último romântico”, revela um lugar muito particular criado pelo artista, dotado de irreverência, lirismo e musicalidade. — Raquel Nascimento
20.
Hvis Lyset Tar Oss
Burzum
1994
O black metal tem seus altos e baixos, mas o Burzum certamente representa o ápice desse subgênero. A banda alcançou seu maior sucesso com seu terceiro álbum, Hvis Lyset Tar Oss, um trabalho que, apesar de ter apenas 45 minutos de duração, é impressionante pela intensidade que consegue transmitir. Este disco demonstra de forma marcante e sombria o quão ameaçador o black metal pode ser, explorando temas de natureza, melancolia e evocações à morte. Nada é deixado ao acaso, e todas as faixas parecem meticulosamente misturadas, organizadas e compostas. — Alícia Cavalcante
19.
76:14
Global Communication
1994
Quando falamos da união da música ambiente com a eletrônica, é impossível não mencionar Aphex Twin como o exemplo máximo. Mas, além de qualquer proposição do tipo, devem ser considerados outros meios de divulgação desse modelo que sejam importantes e, sobretudo, inovadores. 76:14, de Global Communication, é certamente um dos ápices simbólicos dessa concepção de mescla, em que o ambiente se torna mais dançante, mais alegre e de certa forma mais convincente no que diz respeito à ideia de partir do mesmo espaço que a eletrônica como principal meio de criar mundos sintéticos. — Matheus José
18.
Reasonable Doubt
JAY-Z
1996
Reasonable Doubt, embora bem recebido, não foi o clássico instantâneo que certos setores da comunidade hip hop poderiam reivindicar. Jay-Z retratou a realidade de sua vida na obra, ilustrando os desafios de viver 'honestamente', desviando-se assim da norma estabelecida. Com mais de 10 faixas que exploram suas experiências pessoais, o álbum se tornou desde então uma referência nas discussões sobre os maiores álbuns de rap de todos os tempos, sendo reconhecido por novas e antigas gerações por seu status clássico. — Alícia Cavalcante
17.
Consume Red
Ground-Zero
1997
Caótico, desnecessário, perturbador e repetitivo – esses são todos adjetivos úteis para descrever Consume Red; mas o mais justo seria monumental. Pelo menos três dos músicos japoneses mais interessantes e distintos estão presentes no álbum. Eles se unem por meio de aspectos do rock japonês voltado ao noise e tendências da música contemporânea japonesa, especialmente o Onkyo. É difícil citar a principal qualidade do álbum; poderia ser o contraste entre os instrumentos orgânicos e o harsh noise, ou a transformação dos elementos repetitivos em segmentos diferentes, até a explosão de todos eles no final da música. Ou então as escolhas de afinação inconsistentes dos instrumentos, que causam sim um incômodo inicial, mas em conjunto a impressão é que seria impossível que fosse diferente. É ouvir pra crer. — Tiago Araújo
16.
Heaven or Las Vegas
Cocteau Twins
1990
Há muito de celestial em Heaven or Las Vegas. A atmosfera etérea fora criada com tanto esmero por Robin Guthrie, Simon Raymonde e Elizabeth Frasier que serviu de modelo para a consolidação do gênero dream pop, influenciando diversos artistas. E atingir esse patamar talvez só foi possível graças ao quase imperceptível toque “terreno” dado ao álbum, tanto por ser mais acessível em relação aos demais trabalhos do Cocteau Twins quanto pelas composições, abrangendo o momento enevoado que o trio vivia: desentendimentos entre os integrantes, o vício em substâncias por Guthrie e a gravidez de Frasier. — Raquel Nascimento
15.
Baduizm
Erykah Badu
1997
Pensar sobre neo soul é, de imediato, endereçar o legado de Erykah Badu. Os motivos da sua importância sólida já se desenham em Baduizm, sua grande estreia. Aqui, ela debruça sobre si mesma e tateia narrativas que envolvem o seu lugar no mundo e nas suas próprias dores e afetos. Erykah consegue trazer a abordagem setentista que evoca a simplicidade e, ao mesmo tempo, concatenar contrastes entre jazz, soul e R&B, subdivididos em diferentes camadas. É dessa forma que Badu cria um dos projetos mais importantes da música preta recente, chacoalhando uma cena inteira que caminhava rumo ao estado de inércia. — Felipe
14.
OK Computer
Radiohead
1997
Ok Computer, lançado em 1997, aborda temas que continuam relevantes até hoje. A ascensão tecnológica, desemprego, sedentarismo, sentimentos melancólicos e questões políticas são os principais focos líricos do disco. Com uma sonoridade menos comercial em comparação aos grandes nomes do rock na época, o álbum transmite uma sensação de estarmos imersos em uma programação computadorizada. Isso é evidente nos intensos acordes de guitarras de “Paranoid Android” e nos riffs incomuns de “Subterranean Homesick Alien”. A coesão desses elementos resulta em um dos álbuns mais importantes da história da música. — Davi Landim
13.
Selected Ambient Works 85-92
Aphex Twin
1992
A primeira coisa que imaginamos quando ouvimos falar em Selected Ambient Works 85-92, é que este é um álbum profundamente imerso na música ambiente — aos moldes do que temos de repertório: estágios de silêncio atmosférico ou um drone fleumático. Um risco temático e comercial, considerando o fato de causar impressões assim até hoje. Mas é, no entanto, uma peça que precede a justa e conhecida mistura de eletrônica com o ambiente, que logo ganharia uma força incisivamente única em Selected Ambient Works Volume II, de 1994. É, portanto, o começo de tudo aquilo que tornaria o Aphex Twin o projeto mais importante dos espaços eletrônicos que ganhavam novas formas no início dos anos 90. — Matheus José
12.
Dummy
Portishead
1994
Dummy é a obra que melhor representa o trip hop. Apresentando atmosfera hipnotizante, sombria e por vezes sonhadora, não apenas através da bateria — elemento principal do gênero —, mas todos seus componentes contribuem para potencializar a excelência de algo que, mesmo que fosse mais simples, ainda seria fantástico. A estreia de Portishead se mostra tão importante no gênero, pois é um dos discos que melhor manifesta aos ouvintes as principais sensações que o trip hop se propõe a fazer. — Davi Bittencourt
11.
Tidal
Fiona Apple
1996
Com apenas 18 anos, Fiona Apple fez uma marcante estreia em seu álbum inaugural, revelando uma profundidade e maturidade emocional notáveis apesar de sua pouca idade. A artista demonstrou habilidade em criar poesias impactantes através de metáforas, abordando temas baseados em sua vida pessoal, como angústia e traumas. As canções ganharam mais intensidade graças à sua poderosa voz, acompanhada por piano, elementos pop e um toque de jazz — o resultado foi um trabalho coeso, definido como um grande clássico musical dos anos 90. — Vit
10.
Mais
Marisa Monte
1991
O álbum que inseriu o Brasil no cenário da World Music (um avanço significativo para época), que fez o mercado de vendas físicas distribuir milhões de peças em pleno 1º de janeiro e que foi produzido por Arto Lindsay, Bernie Worrell e Ryuichi Sakamoto. É, também, linguisticamente, a obra mais importante do pop brasileiro de todos os tempos, tanto como formação de espaço quanto na criação e deslocalização de signos musicais entre o antigo e o novo — é a música da saudade, do amor e da paixão pelo que é nosso. — Matheus José
9.
When The Pawn…
Fiona Apple
1999
Fiona Apple já era uma estrela com o lançamento do inovador Tidal, em 1996, no qual mostrou muito de sua vulnerabilidade diante da cena pop e cantor-compositor da época. Quatro anos depois, ela apresenta When the Pawn..., que além de mais frágil, era um avanço artístico e vários passos a frente em relação à sua estreia. Em dez músicas, Fiona amplia seus horizontes em uma produção efervescente que se aproxima do rock alternativo e do jazz-rock, com cada vez mais piano, cada vez mais crua e cada vez mais rápida que nunca. E, embora não tenha tido tanto sucesso de vendas quanto o primeiro trabalho da cantora, pelo menos estabeleceu Fiona Apple como uma das artistas mais visionárias a surgir a partir da década de 1990. — Vinicius Corrêa
8.
Post
Björk
1995
O segundo disco de Björk é marcado pela evolução inovadora da artista em sua carreira solo, em que ela mergulhou na música eletrônica, pop e trip hop. O álbum abre com a poderosa “Army of Me” e logo se deixa levar por melodias emotivas em “Hyperballad”. Em “It’s Oh So Quiet”, a islandesa mostra um lado teatral, cativante e inesperado. "Post" é um álbum no qual não sabemos o que esperar da próxima faixa e, mesmo assim, tudo se torna uma experiência divertida e emocional. — Vit
7.
The Velvet Rope
Janet Jackson
1997
Após lançar três álbuns que se consolidaram como verdadeiros blockbusters da música pop, Janet Jackson optou por um caminho diferente com seu sexto trabalho. Alvo de críticas na época, The Velvet Rope firmou-se como um dos discos mais influentes e progressistas dos anos 90, especialmente dentro da esfera alternativa do R&B. Íntimo e auto-reflexivo, o registro explora um lado mais humanizado da persona de Janet. Na faixa título, ela convida o ouvinte a explorar seus pensamentos mais profundos numa jornada única e inesquecível. — Marcelo Henrique
6.
Ray Of Light
Madonna
1998
Uma característica intrigante da discografia de Madonna é como ela sempre se mostrou ligada nas tendências musicais, incorporando-as em seus discos que, na maioria das vezes, se tornaram álbuns essenciais dessas eras da música. No período, na música eletrônica, surgiam novos movimentos fascinantes, e em Ray Of Light, ela mergulha no universo dos technos noventistas em faixas que além de destacar as melhores características dos estilos, tinham força em mostrar a cantora em seu ápice de criatividade. Ray Of Light é a obra máxima de Madonna. — Davi Bittencourt
5.
The Miseducation Of Lauryn Hill
Ms. Lauryn Hill
1998
The Miseducation of Lauryn Hill é o álbum de estreia da artista Lauryn Hill, lançado em 1998. A obra se destaca pela fusão do hip hop e do soul, sua profundidade lírica e riqueza emocional, aspectos que a artista deposita com personalidade em suas composições. As letras abordam temas que giram em torno da maternidade, memórias evocativas, amor intenso e corações partidos, refletindo em seu eu interior. O estilo vocal de Lauryn cria uma experiência memorável, complementada por arranjos musicais sofisticados que capturam a essência do soul e do R&B. Esse, sem dúvidas, é um dos melhores discos da história da música. — Brinatti
4.
Da Lama ao Caos
Chico Science & Nação Zumbi
1994
Da Lama ao Caos, álbum inaugural não apenas do grupo Chico Science & Nação Zumbi, mas também do manguebeat, marcou a música brasileira com sua psicodelia pernambucana. Maracatu, funk rock e embolada compõem a musicalidade e críticas sociais do disco, que aborda questões presentes até os dias atuais no cenário brasileiro. A faixa inicial “Monólogo ao pé do ouvido/banditismo por questão de classe” evidencia a preocupação em exaltar nomes que lutaram pelo povo brasileiro, e percorre a injustiça social, violência policial e pobreza, imortalizando o nome de Chico Science & Nação Zumbi. — BeatriS
3.
Love Deluxe
Sade
1992
Love Deluxe é concedido pela beleza imensurável do amor, representando uma especificidade rara de se ver: a paixão flamante combinada com a suavidade da maturação, sensações vividas por Sade Adu a flor da pele no início do seu casamento. Reunindo as características que consagraram a banda britânica já na década anterior, o único registro de Sade nos anos 1990 é, também, essencialmente definidor para o smooth soul e cheio de sofisticação e vivacidade. A sofisticação do amor de luxo que não se pode comprar, nas palavras da própria vocalista, está expressa de ponta a ponta, desde a epopeia apaixonada (e realista) de “No Ordinary Love” a instrumentação jazzista de “Mermaid”, que consegue se propor como uma síntese perfeita sem precisar das palavras. — Felipe
2.
Sobrevivendo no Inferno
Racionais MC’s
1997
Sobrevivendo no Inferno, dos Racionais MCs, lançado em 1997, é um marco indiscutível na história da música nacional. Este álbum bate de frente com questões cruciais como a desigualdade social, racismo, violência policial e a realidade das periferias de São Paulo. As letras são visceralmente contundentes e realistas, destacando-se em faixas emblemáticas como “Diário de um Detento” e “Capítulo 4, Versículo 3”, que mergulham na brutalidade do cotidiano dos moradores das comunidades e denunciam a opressão enfrentada pela população negra. O álbum é permeado por simbolismos que narram o contexto estrutural do país, e mesmo após duas décadas, continua a ressoar como uma obra recente, evidenciando que as questões que aborda ainda persistem e clamam por solução. — Brinatti
1.
Homogenic
Björk
1997
Embora o objetivo fosse criar um disco com faixas semelhantes, Björk conseguiu dar uma personalidade única a cada uma em Homogenic. O ideal de homogeneidade é aplicado de forma exemplar neste trabalho, em que as batidas eletrônicas desalinhadas acompanham diversos estilos do pop ao longo do disco, revelando as suas particularidades. Com incursões ocasionalmente pelo trip hop e até pela música clássica, a cantora islandesa produz uma obra experimental fantástica, elevando a música eletrônica a um patamar quase inatingível. — Davi Landim
Uma ilha no Atlântico pode virar uma sinfonia? O afastar das placas tectônicas, o pulsar do magma ardente, o estrondor dos vulcões, a arcaicidade da língua escandinava… Homogenic é, acima de tudo, um grito, uma epopéia, um afago, a destruição e a reconstrução. A vida fértil que surge após o castigo eruptivo de vulcões impronunciáveis. Björk e a Islândia se transformam em uma única entidade; é subjetivo, territorial e antropológico. Uma lenda escandinava cantada e performada. — João Lucas
Das cordas às distorções, dos sons interdimensionais aos mais orgânicos possíveis, Homogenic é a música eletrônica mais simples, robusta, contraditória e bem orquestrada já feita. É um exemplo vivo de coragem e sofisticação, criatividade e inovação que tornam este trabalho único e irrepetível. Björk, no seu melhor, produziu, escreveu e conceituou trabalhos que moldaram o alternativo, o pop e o experimental de uma forma nunca antes vista. Cada arranjo, cada melodia e cada letra imposta a Homogenic consegue representar algo novo e distinto. É como se a música ressurgisse ali. — Matheus José
Homogenic é diferente de qualquer outro registro da música contemporânea. Mais do que uma exploração multidimensional dos espaços eletrônicos característicos do trabalho de Björk, o terceiro disco da artista marca o encontro do vanguardista com o clássico, o casamento do artificial com o orgânico e o nascimento de uma nova maneira de encarar a relação homem-máquina, bem a tempo da virada do novo milênio. É a obra máxima dos anos 90 por diversos motivos, mas especialmente por ter uma visão expansiva das incontáveis formas musicais que definiram o período e mudaram a música para sempre. — Marcelo Henrique
O trabalho mais brilhante de Björk traz uma das capas de disco mais famosas da cultura pop, criada por Alexander McQueen. Aqui, há uma fusão de elementos eletrônicos e orquestrais, revelando uma Björk cada vez mais criativa. No disco, ela também consegue transmitir suas emoções sobre o amor, tanto por meio de canções delicadas quanto por faixas mais vibrantes, como “Pluto”, que traz um lado explosivo e agressivo de seus sentimentos, simbolizando uma renascença em suas emoções. — Vit
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