A recapitulação mensal contendo os melhores singles do mês.
A primeira metade do mês passado foi bastante movimentada, repleta de destaques do ano inteiro. Enquanto a segunda metade, por sua vez, nos proporcionou um maior número de faixas mas que exploraram menos mundos e, de um modo geral, não foram interessantes o suficiente para se infiltrar nas melhores músicas do ano. Leia o RECAP para se tocar do que anda perdendo nesses maravilhosos singles! Curiosamente, três deles têm alguma relação com o Dean Blunt.
4.
“Outubro”
Milton Nascimento & Esperanza Spalding
Em agosto, Milton Nascimento lançará seu próximo álbum, uma colaboração com Esperanza Spalding, jazzista estadunidense apaixonada pela música brasileira, e para nos dar uma pequena amostra do que está por vir, distribuíram a faixa “Outubro” como single. Nela, vemos um Milton pouco vocalmente ativo, já incapaz de atingir a excelência vocal que teve em gravações como “Dos Cruces”, de Clube da Esquina, e “Milagre Dos Peixes”, do álbum de mesmo título, mas ainda perspicaz na composição instrumental. Nesse sentido, Esperanza auxilia o gênio brasileiro a guiar a banda e a vida da música, indo de célebre a fúnebre, outonal a invernal e de cálido a gélido.
Embora seja, inegavelmente, conduzida de forma mais calculada e cuidadosa, o compromisso dos artistas nunca foi de apresentar algo vanguardista, mas sim de meditar em seus repertórios impecáveis, seja por meio do contexto pop ou das letras que emulam o clássico Milton — que, felizmente ou não, nunca retornará. A bela voz da jazzista é quase um conforto ao seu par, mais fragilizado, mas feliz de estar participando e de ter um apoio tão fenomenal. Vale muitíssimo a pena checar o lançamento, tanto para se animar com o que pode ser o primeiro destaque de inéditas da carreira de Milton em 40 anos, quanto para se introduzir a música de Esperanza.
Selo: Concord
Gênero: MPB / Jazz Pop, Spiritual Jazz
3.
“Supernova”
aespa
Ao se aventurar pelo electroclash e a sua capacidade de embrutecer a música, aespa desvenda e escancara oposições quase cyber-barrocas através dos sintetizadores cortantes e as clássicas batidas maximalistas do gênero em questão. As relações interconectadas entre as hipérboles perfeccionistas do k-pop e as hipérboles defeituosas do electroclash — que, lembro-te, tem como uma das maiores músicas um refrão cujo é unicamente a repetição de “Come on, fuck me emo boy” — trazem uma face mais arisca à personalidade fanfarrã das meninas. Acha que falei um monte de lorota, balela, bobice? Ouça a música e veja por si mesmo!
Selo: SM
Gênero: Música do Sudeste e Leste Asiático / K-Pop, Electroclash, Eletropop
2.
“Why Did I Laugh Anyway”
Dev Lemons
Nome por trás de um dos melhores EPs do ano passado, Dev Lemons aproveita a crescente atenção que vem recebendo para lançar o que é, possivelmente, seu melhor trabalho até agora, competindo apenas com a arrepiante “Dizzy Vision”. “Why Did I Laugh Anyway” possui os melhores atributos da cantora: seu canto angelical e suas reflexões intrusivas e quase adolescentes — é quase como se o espírito da Lorde de 2013 tivesse possuído a cantora —, formando um dos poucos momentos em que a simplicidade, ambição e a intimidade se unem na música pop dessa década.
Aparentemente vindos diretamente da escrita tocante da cantora, os violões e leves elementos eletrônicos reforçam a sensação de auto abandono, especialmente por estarem envoltos em camadas espectrais de pó e gás pesado. Tudo isso forma uma atmosfera de aceitação e felicidade dentro da melancolia e desesperança; um “vai ficar tudo bem” de alguém que sabe plenamente que está mentindo. De todas as pessoas, não esperava que Dev Lemons fosse a próxima aposta do pop alternativo, mas venho me surpreendendo desde o lindíssimo Delusional, e espero continuar me surpreendendo ao longo dos próximos anos.
Selo: Independente
Gênero: Pop / Alt-Pop, Neopsicodelia, Folktronica, Dream Pop
1.
“MAINSTREAM vs. UNDERGROUND”
Putodiparis
Sendo, sem muita dificuldade ou competição, o melhor produtor e rapper de trap do Brasil, e, argumentavelmente, um dos melhores do mundo, Putodiparis é completamente inacreditável. Samples totalmente inesperadas, letras hilárias, uma habilidade em fazer o ouvinte querer ouvir suas canções por centenas de vezes que não tem páreo em qualquer espécie de música; ele tem tudo. “MAINSTREAM vs. UNDERGROUND” não é muito diferente em vários de seus aspectos, mas, notavelmente, é muito mais sombria.
O sample utilizado não parece com nada que a música trap já chegou perto de soar. O que ele é, exatamente? Um loop de piano de jazz muito desacelerado? Uma música de videogame colocada fora do tom? Vários samples unidos? Difícil dizer, mas é completamente irreal. Entretanto, a faixa não se constitui apenas do sample, e sim dos flows fora do beat do rapper e de suas letras abismalmente distantes da sensação da música.
Ouvi-la pela primeira vez foi um choque completo; parecia falsa, algo que simplesmente não existe ou não poderia existir no mundo. Mas então percebi que não foi uma primeira impressão, ela é assim mesmo: fantasmagórica do começo ao fim, e brincalhona de um jeito que parece criminoso, totalmente errado. Por incrível que pareça, “MAINSTREAM vs. UNDERGROUND” lembra, e muito, Dean Blunt.
Selo: Independente
Gênero: Hip Hop / Trap
Menções Honrosas:
“BAD VEGGIES”
Black Dresses
Aquecimento para o, supostamente, último álbum do duo de música semi-industrial, “BAD VEGGIES” apresenta tudo o que você pode exigir de Devi McCallion e Ada Rook: beats inimagináveis, qualidades pop incontestáveis, utilização primorosa da influência industrial e grandes picos de diversão empacotados em curtas investidas de intensidade noise.
Selo: Blacksquares
Gênero: Eletrônica / Electro-Industrial, Eletropop, Power Noise
“Death & Romance”
Magdalena Bay
Na música pop, nem sempre precisamos de coisas além de um refrão espetacular (se bem executado), mas Magdalena Bay sempre deu um passo a mais com uma busca por identidades distintas e uma sede insaciável por novidades. Em “Death & Romance” isso se dá pela utilização do baggy como apoio ao já datado piano rock, adicionando estruturas semi-psicodélicas que enriquecem as narrativas açucaradas como um caldo de tempero extra-grosso. É o que podemos chamar de inovador? Certamente não, mas é pop, quem liga?! Elegantíssimo feitiço.
Selo: Mom+Pop
Gênero: Rock / Piano Rock, Baggy
“DOWNER”
Dean Blunt feat. Panda Bear & Vegyn
Especializado em não ter consistência alguma em como comercializar a sua música, Dean Blunt, de supetão, lança “DOWNER” com a lenda da neopsicodelia Panda Bear e a promessa da música eletrônica Vegyn; digo-te, é um trio e tanto. O resultado rapidamente vicia, mas, mesmo assim, o indie rock aqui testado não é, exatamente, o melhor experimento sonoro que o artista principal já lançou oficialmente.
Selo: World Music Group
Gênero: Rock / Indie Rock, Baggy, Neopsicodelia
“Live Small Party Huge”
Alleen Plains
Alleen Plains, novo projeto de Weiland, um rapper de plugg relativamente relevante na gringa, tem como seu single de estreia uma das melhores interações do h-pop no ano, com camadas de psicodelia intensas e sintetizadores quentinhos. Dean Blunt e Ariel Pink estariam orgulhosos!
Selo: Independente
Gênero: Pop / Hypnagogic Pop, Pop Psicodélico, Bedroom Pop
“Lost Changes”
Beth Gibbons
Presente pela terceira (e última) vez aqui nos recaps, posso afirmar com toda a certeza que Beth Gibbons já esgotou todos os elogios que eu poderia rasgar ao seu trabalho durante a sua estadia. Já utilizou todo seu arsenal para nos impressionar, da sutileza pós-rock à beleza das dedilhadas delicadas no chamber folk, já me fez voltar ao Dummy diversas vezes, já até lançou o álbum — que, inclusive, é tão maravilhoso quanto os singles, mesmo que um tanto enfadonho. Então, após tudo isso, o que mais eu poderia ter para falar sobre o último single do mais recente ciclo da cantora? Sinceramente, nada! Gostou dos outros singles? Ouça “Lost Changes” e o álbum.
Selo: Domino
Gênero: Folk / Chamber Folk, Baroque Pop, Post-Rock
“Push”
Skrillex, Hamdi & TAICHU
Parte de sua renascença aos holofotes, Skrillex lança “Push” em colaboração com Hamdi e TAICHU, assim expandindo seus horizontes pela nova música tearout e sincronicamente brincando com o que os latinos do pop podem oferecer. Spoiler: mais que os americanos!
Selo: Atlantic, OWSLA
Gênero: Eletrônica / Tearout
“She's Gone, Dance On”
Disclosure
Após um álbum levemente decepcionante que faz parte de uma sequência de álbuns altamente decepcionante, Disclosure parece nos pedir desculpas com “She’s Gone, Dance On”, uma de suas últimas faixas boas do começo ao fim. Influenciado pelos franceses, o duo finalmente capturou ideias de sample e de ritmo que valem a pena serem testadas e efetuadas, construindo um animador mundo de festejo e vinho. Mas poxa, que saudades do Settle e do Caracal…
Selo: Capitol, Disorder
Gênero: Eletrônica / Funky House
“Tipo Ruyter”
MC Saci, Dj Lc & Dj Js da Bl
Concretizando a ideia de que o MC é melhor com singles do que com projetos, “Tipo Ruyter” eleva, como de costume, o funk mandelão ao ridículo e, como consequência, atinge o objetivo máximo que o trio almeja: a diversão.
Selo: Independente
Gênero: Funk / Funk Mandelão